segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

E os amigos?

Esses dias, estava lendo os posts de alguns blogs que acompanho e, por coincidência, em pelo menos dois deles o assunto era amizade e os amigos que vão ficar para trás após a mudança para o Canadá. E isso me fez parar um pouco e pensar. Comecei a repassar mentalmente as amizades que ficarão para trás e...

... constatei que quase não existem amizades.



É sério. Não é exagero e nem carência afetiva. Quando vim para São Paulo, eu não sabia aonde os ventos da mudança iriam me levar, mas sabia, tinha praticamente certeza de uma coisa: as poucas amizades que eu tinha em Brasília corriam o risco de regredirem, de irem para aquele estado em que as lembranças são tudo o que realmente importa, porque, na real, na vida cotidiana, já não são a mesma coisa. A distância é, sim, um obstáculo, não importa o tanto de juras que se façam no momento da despedida. Eu mesmo tive amigos cuja amizade duraria para sempre, mesmo com a decisão deles de ir para outras cidades, mas a verdade é que, hoje, não faço a menor ideia de onde estão e nem como estão. Será que foi por descuido de ambas as partes? Em alguns casos, pode ter sido. Em outros, tenho certeza de que fiz o possível.

E, bizarramente, não há ninguém aqui em São Paulo com quem eu tenha feito amizade de verdade. Ok, eu não sou exatamente o cara mais popular - nunca fui - e nem sou extremamente hábil para me comunicar e divertir as pessoas. Não sou dos mais fáceis de lidar. Meus papos, dependendo da situação, podem tomar rumos meio, digamos, viajados no Gardenal exóticos, e as pessoas, em geral, correm a mudar de assunto. Minhas opiniões, muitas vezes, são um tanto cruas, e o resultado é o mesmo. Fora isso, eu não sou o típico cara chegou-sexta-feira-vou-pra-balada-encher-a-cara-e-pegar-10. Nunca fui, nunca curti esse tipo de diversão, o que me isolou ainda mais. Eu curtia era jogar video-game (jogo até hoje, se não ficou claro em posts anteriores :P), ir ao cinema, juntar os amigos para partidas de jogos de tabuleiro, aprender idiomas, ler, escrever... coisas que, em geral, são consideradas passatempo de dia de chuva por uma grande parte das pessoas. E aqui em São Paulo eu só encontrei gente daquele tipo lá que mencionei. Sei que com certeza não tem só gente assim aqui, mas não trombei com pessoas muito diferentes, não. E, enfim, como já passei da época de ficar fazendo as coisas pra agradar os outros ou me inserir, eu acabei muito na minha mesmo. Vou ali beber de vez em quando com os colegas só para não ficar ainda mais antissocial, mas o pouco que ganho com isso só me faz pensar se realmente vale a pena aceitar o convite na próxima vez.

Então, retomando a divagação, aqui em São Paulo não deixarei ninguém que realmente importe. Os colegas de trabalho e de curso, as brincadeiras e tudo isso farão falta, imagino, nas... sei lá... quarenta e oito horas depois da minha partida. Talvez menos. De verdade, gente. São pessoas legais, do jeito delas, não tenho nada contra quase ninguém, mas minha relação com elas é daquele tipo que você sabe que vai acabar assim que você não estiver mais presente. Não tenho ilusão quanto a isso. Mas isso não é de todo ruim. Depois que você passa um bom tempo se isolando (ou sendo isolado) pelo seu jeito de ser, pelos gostos pessoais e outras coisas mais, você consegue duas coisas: a primeira é justamente saber, depois de algum tempo de convivência, que sua amizade com A ou B não passa de um coleguismo, e que, tão logo alguém tome um outro rumo, as coisas vão sumir. A segunda é que, quando você não tem amigos pra te ajudar com nada, você aprende a se virar sozinho e acaba sendo forçado a passar mais tempo com você mesmo, o que faz com que você se conheça melhor e não crie expectativas em relação aos outros. Não me entendam mal; eu sem dúvida gostaria de ter amigos, aqueles 3 ou 4 dos quais todo mundo sempre fala quando citam amizade verdadeira. Mas, na falta deles, ou na minha incapacidade de cultivá-los, o lado bom é que eu aprendi (e continuo aprendendo) a contar sempre comigo mesmo e a gostar bastante de mim e da minha companhia.




O pior é que, mesmo em Brasília (minha cidade natal), onde eu costumava ter aqueles 3 ou 4 amigos que mencionei ali, já não posso mais dizer que os tenha. O carinho vai sempre existir, e as lembranças... bom, a amizade com essas pessoas, hoje, basicamente só vive delas. Quando nos encontramos (coisa de duas ou três vezes por ano), o carinho, as risadas e tudo o mais são os mesmos. Mas não sabemos como vai a vida uns dos outros, não temos mais os mesmos interesses, os rumos que escolhemos são diferentes.. e isso só contribui para o afastamento. Nos reunimos e damos risada lembrando do tipo de brincadeira que pregávamos uns nos outros nos aniversários há 10 ou 15 anos, mas quase já não lembramos de cor das datas em que cada um sopra as velinhas. Voltando para Brasília por alguns meses, que é o que pretendo fazer antes de embarcar de vez para o Canadá, eu vou, sim, sentar com todos, conversar, falar das minhas expectativas, ouvir as deles e tudo mais... e espero que, de alguma forma, a gente consiga resgatar um pouco do que tínhamos. Mas um lado meu tem quase a certeza, adquirida com os anos de isolamento em que eu era o "esquisito", que, no fim das contas, eu vou ficar apenas com aquela sensação fugidia do Bill Denbrough, algo entre o real e o imaginário, o consciente e o sonho:


"Or so Bill Denbrough sometimes thinks on those early mornings after dreaming, when he almost remembers his childhood and the friends with whom he shared it."


À bientôt!

12 comentários:

  1. Quer ser meu amigo? Seu post transmite exatamente o que eu to passando e o que eu finalmente conclui após muito sofrimento. A diferença é que eu tento cultivar algumas amizades mas as pessoas simplesmente somem ou se desinteressam e eu desisto de manter amizades verdadeiras. O caso dos amigos de infância também é o mesmo. Nos encontramos uma ou duas vezes por ano e não passa daquilo!

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    1. Oi, Rita! Olha, por mais que seja dolorido, a parte boa de chegar a essa conclusão (quando realmente não há mais muito o que fazer) é que a gente fica mais livre e sofre menos na hora de dizer tchau. E quem sabe? Há aqueles amigos que só sentem falta mesmo quando não nos tem mais por perto.

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  2. Para economizar, uso a velha expressão da internet: "somos 2".

    A impressão é essa mesma. Quando retornei a cidade em que cresci depois de ficar 10 anos fora, achei que veria todos os amigos, faríamos aquele churrasco para matar a saudade. Mas o que aconteceu foi que aqui a vida seguiu e ninguém se importa mais. E olha que eram super amigos de dividir tudo.

    Hoje, mais maduro, comecei a pensar no sentido de amizade e quando eu era criança. Percebo que a maioria daqueles que eu considerava amigos, realmente não me consideravam "o" amigo. E provavelmente isso aconteceu em vice-versa.

    Então, não se preocupe. Você tem razão. Mas não é problema: amigos se fazem e amigos verdadeiros são aqueles em que podemos contar nas horas mais sinistras. E geralmente são nossos familiares mais próximos.

    Ainda espero ter um dia um amigão de coração, igual a filme de Hollywood.

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    1. É exatamente o que eu penso, meu caro. No ano anterior à minha mudança pra São Paulo, meu sofrimento era justamente por deixar a minha família. São eles que realmente estão lá quando preciso, não importa a época do ano ou a distância. Há muito tempo entendi que é com eles mesmo que posso contar para qualquer coisa. E, no fim das contas, é suficiente.

      Hehehe ter uma amizade daquelas de filme americano também não seria nada mal!

      Abraço!

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  3. Oi Doug, concordo com vc, muitos amigos se vão por conta da distância... mesmo aqueles que supostamente eram os "melhores amigos"... e também acho que "já passou da hora de agradar os outros" para ter que fazer amizades.. talvez no Canadá seja mais fácil encontrar amigos que não sejam do tipo "chegou-sexta-feira-vou-pra-balada-encher-a-cara-e-pegar-10" heheheh :)

    Boa sorte na tua jornada!

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    1. Oi, Eduardo! Acho que, no fim, a gente sempre espera um bocado das pessoas, né? É mais uma forma de praticar o desapego.

      E, sim, quem sabe lá no Canadá eu não encontro mais nerds do que encontrei por aqui? :)

      Boa sorte pra você também! Abs!

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  4. Doug, concordo com você!!

    Isso acontece quando acaba a escola, os amigos somem, a faculdade, o trabalho. No Canadá, você vai ter a oportunidade de fazer novos amigos.

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    1. Não sei se é muito egoísmo meu, William, mas é bom ver que isso é relativamente comum hehehe. Às vezes, em épocas de Facebook com 1983471982347 amigos, a impressão que dá é que todo mundo tá muito bem servido de amigos.

      E sim, o Canadá trará essas e outras oportunidades (assim espero!). O lance, no fim das contas, é lutar contra as expectativas.

      Abs!

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  5. Poxa... agora sei que não sou o único que se sente assim.

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    1. Aposto que somos muitos e até poderíamos dominar o mundo hehehe

      Abraço

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  6. Olha, isso é mal de brasiliense não é não? :P

    Abraço,
    Lidia.

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