quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Carteira de Residente Permanente chegou!!

Finalmente!! Depois de quatro meses e meio em solo canadense, eis que recebo, gloriosa e bela, pelo correio, minha carteira de residente permanente!

Se pareço diferente na foto, é que agora estou mais magro.

Demorou tanto por erro meu, pelo menos em parte. Antes de vir pra cá, a informação que eu tinha era que a carteira de residente permanente seria enviada para o endereço que eu fornecesse na hora da chegada (o famoso landing). Eu passei o endereço do amigo que me hospedou, e confirmei pelo site do CIC que tinham atualizado. Daí fiquei esse tempo todo aguardando a carteira chegar. Consultava a estimativa de envio de vez em quando e estava entre dois a três meses. Então deixei quieto.

Mas achei que começou a demorar demais quando passou de três meses. Olhei o site de novo, e o prazo tinha aumentado um pouco. Só que, quando passou de quatro meses, comecei a desconfiar que algo poderia estar errado. Voltei ao site para tentar encontrar um contato direto, mas aí me veio a "brilhante" ideia de tentar fuçar um pouco mais e ver se encontrava informações. E acabei chegando a uma página de atualização de endereço que dizia que eu não possuía nenhum cadastro junto ao CIC.

Hein?

Voltei duas páginas e lá estava o endereço do meu amigo. Avancei duas páginas e o site do CIC me dizia que eu não tinha endereço cadastrado e que tinha de informar um no prazo de seis meses contando da minha chegada. Não sei se comi bola quando o agente de imigração me passou as informações (eu tava só "um pouquinho"nervoso, sabe?), se mudaram alguma coisa e eu passei batido, ou se simplesmente entendi a informação original errado, mas o fato é que, para todos os efeitos, eu ainda não tinha endereço físico no Canadá cadastrado para envio da carteira de residente permanente. Preenchi o formulário eletrônico e enviei na mesma hora. A carteira chegou uns dias depois.

Ainda bem que vi isso a tempo, porque a carteira só sai "de grátis" para quem imigrou se você informar o endereço dentro dos seis primeiros meses após a chegada. Depois disso, é preciso entrar com um pedido formal e — adivinha! — pagar taxas!

Então, você aí que está pra chegar, fique esperto(a)!

À bientôt!

sábado, 1 de agosto de 2015

O Curso de Inglês da McGill - Parte III: O Fim

Ontem chegou ao fim o meu curso de inglês na McGill.


Mas vamos por partes.

Um novo começo

Se você acompanha o blogue há algum tempo, deve saber que comecei o último módulo do curso com o pé esquerdo. Não só fui separado do meu melhor amigo de sala de aula, como de outros colegas com quem me dava bem. Adicione-se à mistura o cidadão que começou a me perseguir pra todo lado e que — numa pegadinha safada do Universo — ficou na mesma turma que eu. Toda a carga positiva e motivacional que eu trouxe do módulo anterior se esvaiu em alguns dias apenas. Depois de seis semanas excelentes naquele módulo, eu achei que teria seis semanas do cão. Mas consegui trocar de sala por causa do perseguidor implacável (aquele abraço, "amigão"! Você, que era meu problema, foi parte da solução!), e então o Universo teve que ir atrás de outro pra zoar.

O módulo anterior, que eles chamam de Avançado A, tinha foco no inglês voltado para a universidade. Foram várias apresentações orais (individuais e em grupo), trabalhos escritos, bastante vocabulário (dá-lhe phrasal verbs), muitas discussões sobre temas variados. Esse módulo de agora, o Avançado B, foi voltado para o inglês profissional, de negócios. Achei o primeiro bem mais puxado que este, não só em termos do número de trabalhos e avaliações, como em relação a lições de casa e atividades em sala de aula. Não quer dizer que tenhamos ficado ociosos em algum momento (isso não ocorre de jeito nenhum), mas realmente há uma diferença de ritmo entre os dois módulos.

No Avançado B, tivemos muito vocabulário voltado para reuniões de negócios. Tivemos também aulas sobre como redigir e-mails corporativos, de reclamação, cover letters e um pouco sobre currículos. Algumas avaliações eram simulações de reuniões de empresas (ganhei o infame papel de CEO do McDonald's em uma delas — rá!) e de entrevistas de emprego. Tivemos que ler um livro também, cujos capítulos eram apresentados semanalmente por uma dupla de alunos, envolvendo um pouco de discussão (mas bem menos do que eu esperava) e atividades de compreensão. Aprendemos também técnicas para ajudar a redigir um texto persuasivo. Enfim, foi um curso bem abrangente. Tivemos tempo para explorar cada tema, fazer as atividades, trabalhos e avaliações, e passar para o assunto seguinte. Ou seja, teve coisa pra caramba, mas ainda assim, foi bem mais tranquilo do que o Avançado A, na minha opinião.

Uma característica do curso da McGill que não lembro se comentei nos outros posts é que eles têm um programa de "parceiros de conversação". São, em geral, alunos universitários nativos que vão até a escola uma vez por semana e ficam de uma a duas horas à disposição para quem quiser conversar. A cada dia, tínhamos um parceiro diferente. A maioria do pessoal dispensava a oportunidade (assim como faziam com as tardes de guided studies, que eram períodos reservados para tirar dúvidas com os professores, pedir explicações mais aprofundadas e por aí vai), mas eu estava lá toda vez que um dos parceiros aparecia, e ficava batendo papo do primeiro ao último minuto. Não só era uma excelente oportunidade de ter um outro anglófono nativo conversando com você — e te corrigindo — como também eram mais uma maneira de fazer valer o dinheiro que investi no curso, néam? Aliás, nesse quesito, acho que fiz valer bem: usei biblioteca, laboratório, computadores, projetor, gravador, tudo que estava à minha disposição para aprender.

Os professores não foram os mesmos do módulo passado, como era de se esperar. Mas não ficaram devendo nada aos anteriores: o meu professor da manhã era excelente. Ele focava na parte escrita, e pouquíssimas vezes na vida inteira eu recebi comentários tão detalhados de um professor sobre o meu trabalho em sala. Cada avaliação ou trabalho que entregávamos para ele era devolvido com uma folha extra, na qual ele destrinchava não só os pontos concedidos, mas também o que estava bom e o que estava ruim. Aquela coisa de escrever só "Muito bom! Parabéns! Continue assim!" na sua prova ou texto não existe pra ele. Vem sempre um parágrafo enorme, personalizado, com todos os pontos positivos e negativos.

A professora da tarde era sempre muito animada. Não tive tanto retorno dela quanto tive do professor da manhã, mas ela é o tipo de professora que se coloca junto com os alunos em sala de aula. Sempre disposta a ajudar, sempre tentando levantar o ânimo da turma (e precisa ser assim mesmo, ainda mais numa sala cheia de pessoas cuja média de idade é 23, 24 anos e que estavam sempre pescando de sono com a barriga estufada depois do almoço) e sempre focando mais no aprendizado dos alunos do que no prazo do trabalho X. Minha única ressalva a ela — e talvez nem seja a ela e, sim, à estrutura do módulo — é que discutimos muito pouco o livro que tivemos que ler. A leitura ocupou tanto tempo, e é um livro que tem potencial para boas conversas e discussões, mas não fizemos mais do que trocar uma ou duas frases durante as apresentações dos capítulos. Aliás, acho que tivemos bem menos chance de praticar a expressão oral neste módulo.

A Turma

Muitas das pessoas que conheci no módulo anterior estavam terminando o certificado naquela sessão (pode parecer esquisito, mas o Avançado A não é pré-requisito para o Avançado B. Você pode cursar na ordem que quiser, e um não interfere no outro) ou simplesmente não iam continuar no curso. Daí o meu número de colegas de classe conhecidos foi consideravelmente reduzido. Mas é pra isso que servem os novos alunos, né não?

Tá certo que eu e o meu amigo quebeco voltamos a ser Super-Gêmeos-Ativar assim que eu fui mudado pra sala dele. Aliás, o professor da manhã puxou a nossa orelha já no meu primeiro dia, porque nós dois começamos a tricotar e colocar o papo em dia durante o que era pra ser uma atividade individual. Então, naturalmente, eu passava 95% do tempo com ele. Mas isso não me impediu de conhecer outras pessoas. Conheci dois caras da Líbia, ambos pessoas sensacionais. Fiz quase todas as avaliações em grupo desse módulo com um deles (os grupos eram definidos por sorteio), de modo que a gente passou um bom tempo juntos. Conheci também uma menina do Tibete e outra da China que tinham tão pouco sotaque dos idiomas delas que eu tive que elogiá-las. E, por fim, dos que ficaram mais próximos, conheci um italiano figuraça, daquele bem estereótipo, que está sempre comendo algum tipo de massa e que fala Good morning como se estivesse gritando, e com um sotaque tão pesado que você acha que está assistindo um capítulo de Terra Nostra.




Houve outros: chineses, colombianos, mexicanos, argelinos, marroquinos, malianos. Todos bastante abertos, simpáticos e receptivos. Claro que ninguém fica amigão de todo mundo. Mas mesmo aqueles com quem tive pouco contato eram sempre calorosos e falavam comigo com um sorriso nos lábios.

Algumas atividades nos obrigaram a sair juntos fora do período de aulas para visitar lugares em Montreal ou reunir material para apresentações. E isso faz com que a gente expanda um pouco a relação que é, via de regra, uma coisa que só existe na sala de aula. Nessa última semana, para comemorar o fim da sessão, fomos todos almoçar em um restaurante mexicano perto do Mercado Jean Talon. E ontem teve o churrasco oficial de despedida da sessão de verão, bancado pela McGill para todos os alunos de todos os níveis do curso. Fui o último a ir embora, e, se você lembrar que eu já disse algumas vezes aqui que não sou exatamente a pessoa mais sociável do mundo, isso dá a dimensão do quanto eu curti o curso, as pessoas e a escola.

O fim

O que explica porque eu estou desde ontem à noite com uma sensação de melancolia que me faz suspirar a cada dez minutos. Se você, caro(a) leitor(a), já fez um intercâmbio na vida, principalmente quando novo(a), e se esse intercâmbio foi, como na maioria dos casos, uma experiência inesquecível, você deve lembrar como foi difícil a hora de ter de se despedir de todos os seus novos amigos, entrar no avião e ter que voltar para o seu país e a sua "vida real". Eu fiz isso quando tinha 19 anos. Passei dois meses fora e foi uma das melhores experiências da minha vida. O momento de ir embora foi terrível. Brasileiro e dramático por natureza, chorei baldes na noite anterior à minha partida abraçado a um amigo alemão durante a festa de despedida que tinham organizado pra mim e pra uma venezuelana. Apesar de todo o drama, eu achava que manteria contato com todos, que seríamos como um seriado americano, todos vivendo em seus respectivos países, mas com um lindo laço de amizade unindo todo mundo através das eras... e, quinze anos depois, eu tenho contato apenas com duas pessoas daquela época, e ambas são brasileiras.

O fato é que a gente acaba perdendo mesmo o contato com a maior parte dos — senão todos os — amigos e colegas que fazemos nesses cursos e vivências no exterior. E quanto mais o tempo passa, pior. Há sempre juras, promessas de manter o contato, de escrever todos os meses ou todas as semanas, de todo mundo se reencontrar em um, cinco, dez anos... mas a verdade é que poucas vezes isso de fato acontece. Pode até ser verdade nos primeiros meses e, com alguma sorte, nos primeiros anos depois da vivência, mas a tendência é cada um seguir sua vida e só as lembranças ficarem. E não há nada de errado com isso, embora possa tornar uma nova despedida numa situação semelhante um tanto mais... nostálgica.

Ontem, à medida que o pessoal foi deixando o churrasco, eu ouvi as mesmas palavras que ouvi há quinze anos: "temos que manter contato!", "vou te escrever!", "não some!", "vai me visitar no meu país, vou ficar feliz em te receber lá!" e por aí vai. E trocam-se e-mails, Facebook, até números de telefone com códigos de DDI que eu nunca vi, tudo com a certeza de que a tecnologia facilitará a continuidade da amizade. Abraços, apertos de mão calorosos, "aprendi muito com você", "foi muito bom ter você na turma", e até torcida de uma professora, que chegou para mim e para o quebeco e disse que a gente deve continuar a amizade fora da sala já que nos damos tão bem. Juramos que sim, falo que vou fazer um curso de francês em setembro e ele vai ter que ficar aturando meu sotaque brasileiro tentando falar francês quebequense. Ele ri e diz que vai precisar fazer isso acompanhado de bastante cerveja e vídeo game, porque só assim pra valer a pena. Minha vez de rir. Mas a verdade é que não sabemos se vamos nos ver de novo. Era uma excelente amizade de sala de aula; agora que a sala de aula não existe mais, vamos ter vontade e disposição para ir além dela?

Independente da resposta, é hora de seguir adiante. O curso da McGill me proporcionou muito mais do que eu esperava a princípio. Foi o melhor comitê de boas-vindas que eu poderia ter! Eu me matriculei com o objetivo de destravar no inglês. Consegui isso, mas muito mais. Conheci gente a dar com o rodo, virei queridinho de alguns professores, fiquei mais consciente de algumas oportunidades, fui aceito em um grupo de pessoas de um jeito que eu não era há muito tempo, criei laços, descobri novos horizontes, fiquei mais alegre, mais leve, mais animado, como há muito tempo não ficava; ganhei mais confiança em mim mesmo, me senti mais em casa, dei risada com gente de lugares que eu talvez nunca visite, tive a chance de ajudar pessoas, fazer a diferença em alguns momentos, contribuir para algo e receber os frutos disso; enfim, foram três meses realmente intensos e que me fizeram um bem imenso! Mas agora é hora de usar tudo isso como combustível para começar a vida pra valer por aqui — sim, porque dessa vez, os outros estão indo embora e eu estou ficando. Minha vida real é aqui.

Afinal, vida de estudante internacional é boa, mas não enche a barriga nem paga as contas da internet que estou usando para escrever este poema, néam?

À bientôt!