quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Preparação para o curso de francês

Como mencionei antes, depois do curso da McGill eu resolvi tirar férias de algumas coisas. Com tanto tempo livre de repente, quis aproveitar para explorar um pouco e relaxar. Mas uma coisa que intensifiquei nesse período, por mais contraditório que possa parecer, foi o estudo do francês.

Já falei mais de uma vez aqui no blogue que aprender idiomas, pra mim, não é nada parecido com obrigação ou tédio. Eu realmente curto muito! Pode ser gramática e pode ser difícil (oi, russo, tudo bem?), posso desanimar em algum momento (oi, alemão, como vai?), mas a vontade de aprender nunca vai embora de vez.

Então, quando me vi com mais tempo livre, o primeiro pensamento foi: "vou alocar mais tempo para o francês". Não só porque o curso da Universidade de Montreal já começaria agora em setembro, mas porque tô em Montreal, né, gente? Não pretendo me meter em discussão sobre heranças, história, rusgas, patriotismo, soberanismo e outras coisas, mas quero falar inglês quando falarem inglês comigo e quero falar francês quando vierem fazendo biquinho. E pronto. Esse é o meu motivo principal. Não tem nada a ver com lei 101, com mercado de trabalho ou com meu círculo mais próximo de conhecidos aqui. Tem a ver só com o fato de eu gostar de aprender idiomas. Se falassem inglês como primeira língua aqui e húngaro como segunda, podem ter certeza que eu iria aprender húngaro.

Mas tá, acho que passei a ideia, né? Enfim, durante o curso da McGill, meu estudo de francês se resumia, basicamente, a ouvir podcasts (principalmente da Radio Canada e da RFI) e fazer exercícios voltados para a gramática quando não tinha algum trabalho do curso de inglês no pé (o que era raro). A prática oral estava praticamente zerada: só aquele papinho básico de loja/supermercado e pronto. A única oportunidade real de falar francês seria com meu amigo de turma quebeco, mas estávamos na McGill aprendendo inglês, então seria muito fura-zóio da minha parte ficar tentando bater papo com ele em francês, procede?

Quando as aulas acabaram, porém, engatei a primeira e fui atacar de todos os lados que podia ou que me sentia à vontade para atacar. E aqui vai a receita que segui:

Podcasts: já falei deles em outro post. Há zilhões de possibilidades e temas para todos os gostos. O que fiz foi aumentar o tempo que passava ouvindo. O bom é que você pode estar fazendo alguma outa coisa e ouvindo ao mesmo tempo. Eu, por exemplo, escuto pelo menos uma hora quando vou correr. O problema dos podcasts que escuto é que eles são mais jornalísticos e, portanto, têm locutores ou entrevistadores que, em geral, não têm um sotaque lá muito carregado. Mesmo entre os entrevistados é difícil ouvir um com o sotaque mais puxado do Quebec. Aí, eu entendo uma boa parte do que é dito na reportagem, mas é só a caixa do supermercado com o sotaque mais pesado que eu já ouvi falar que o presunto que eu peguei está sem a etiqueta de preço e que é pra eu ir até a parte dos frios e pedir para colocarem que pronto... "zzzzkkkzkzk presunto zzkzkkkkzkkzkz preço zzzkkkkkzkzk vai lá zkkzkzkzkzkkz". A minha resposta, claro, é: "Pardon?"

Gramática e exercícios: eu sei que a maioria foge como o diabo da cruz, e que um monte de métodos de escolas de línguas afirmam que você "aprende falando", "sem gramática". A verdade é que a gramática está lá, sim, escondida, mas está. E, em algum momento, qualquer método acaba explicando o básico do básico em termos gramaticais. Eu tenho a sorte de gostar de estudar gramática; adoro saber porque tenho que por a terminação X no verbo Y e qual a preposição que vai combinar com o conjunto. Na minha experiência, saber isso só ajuda, e me faz evoluir mais rápido. Depois de um tempo, já nem lembro das regras, pois a coisa fica automática. Enfim, para me ajudar nisso, eu usei dois livros da série Practice Makes Perfect. Eu já conhecia a série pelos livros de alemão e resolvi comprar um de francês, o Complete French Grammar.




O outro, French Sentence Builder, peguei emprestado na biblioteca pra ver como era. Ambos têm explicações breves e fáceis de seguir, com exemplos bem claros. Aí, depois das explicações, dá-lhe exercício. Eu absorvo muita coisa fazendo exercícios, então, pra mim, é uma ótima pedida. Os livros da série são do tipo para quem quer fazer uma revisão. Eles podem não ser minuciosos nas explicações aqui e ali, mas te dão o necessário para praticar nos exercícios. Ah, e eles têm respostas no fim do livro, o que, pra mim, é obrigatório.

Leitura: nada como ter bibliotecas com um bom acervo e espalhadas por todo lado pra me fazer deixar de gastar com livros. Sério, no Brasil, toda vez que eu queria ler um livro, eu tinha que ir comprá-lo. A quantidade e a qualidade das bibliotecas do país deixam a desejar, e isso não é segredo pra ninguém. Aqui, contudo, a coisa muda de figura. Eu nem vou chover no molhado de descrever—de novo!—como me sinto feliz como pinto no lixo toda vez que vou à Grande Bibliothèque aqui de Montreal. O que é importante é que lá eu tenho milhares de opções de livros em inglês e em francês (e outras línguas!) pra aprimorar o vocabulário. Em geral, estou sempre lendo um livro em inglês e uma coletânea de gibis em francês (é que o medo de encarar Camus ou Victor Hugo no original no nível em que estou é grande, gente!). 

Para os zuvido : Além dos podcasts, comecei recentemente a assistir vídeos da Rádio Canada e da TV5 nos quais legendas são disponibilizadas. Eu gosto de assistir os vídeos e escarafunchar tudo, procurar palavras no dicionário, repetir trechos em voz alta quando a sonoridade me chama a atenção, coisas de nerd. Então, se o vídeo não tem legendas para eu poder pegar as palavras ou expressões que não entendo, eu acabo revendo só uma vez ou nem isso. Com as legendas, daí sim: assisto sem legendas, depois vejo com legendas, aí procuro as palavras, daí escuto de novo, vejo onde é que estão engolindo letras ou sílabas inteiras e por aí vai. Outra coisa que comecei a fazer foi pegar DVDs de filmes na biblioteca. Em geral, eles têm dublagem e legendas em francês. Achei que ia rolar de rir assistindo Batman Begins (que, por aqui, é Batman: Le Commencement) com biquinho, mas não, rapaz... Fiquei surpreso com a qualidade da dublagem. E ainda decorei umas falas: se eu for dar porrada em alguém no futuro, antes vou soltar um "T'es pas le diable... t'es mon sac d'entraînement".




E pra falar...: bom, não tem pra onde correr, né? Você pode até ficar falando sozinho (eu faço isso às vezes; depois do meu stalker, é melhor que meus vizinhos achem que eu sou doido), mas o bom mesmo é poder interagir com alguém, ser corrigido, ter alguém rindo da sua cara quando você pronuncia alguma coisa errada e tal. Uma opção são professores particulares. Aqui você encontra a rodo, seja para aulas presenciais ou pela internet. Mas eu não queria gastar mais do que já gasto aqui (com dólar a 4 moedas de ouro dilmenses, quem quer?), e também queria que a coisa fosse mais informal. Solução: me inscrevi num sem número de sites para conhecer pessoas interessadas em intercâmbio linguístico-cultural (nome chique pro "disk amizade" do século XXI) e procurei. Deu trabalho,  mas encontrei um quebeco interessado em aprender português e que disse que me ajudaria com o francês. E já estamos há  mais de um mês nos encontrando uma vez por semana para tomar um café e bater papo, uma hora em português, uma hora em francês. Tem sido bem legal, e eu adoraria ter mais pessoas com quem fazer isso. Mas tem que ir com calma nesse negócio de encontrar gente "da net": nem todo mundo tá interessado realmente em intercâmbio linguístico-cultural, néam?




E é isso. Não sei se essa é a receita do sucesso porque ainda estou no caminho, mas pelo menos estou fazendo alguma coisa. Sou da opinião de que não existe método de ensino/aprendizagem perfeito: o melhor é fazer o que mais te motiva, mas sempre tendo em mente que é preciso se esforçar e correr atrás. E também estar atento ao que te faz render.

No próximo post vou tentar falar sobre a Universidade de Montreal. Três semanas de aula já dá pro gasto e pra ter uma opinião inicial :P

À bientôt!

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Seis meses de Canadá!




Quando acordei no dia 14 de março deste ano, não consegui de forma alguma me sentir bem. Não bastasse a saborosa apreensão natural de uma situação tão "banal" como mudar de país, ainda tinha a deliciosa cobertura extra de apreensão e angústia que eu sempre coloco em qualquer coisa que faço, mais a tristeza da separação da família, tudo por apenas um Real a mais. Era o dia da mudança, o dia da virada na vida, o dia que marcava o recomeço, mas eu não conseguiria sentir nada disso naquele 14 de março. Meu pensamento se dividia entre a tristeza por deixar minha família (de novo), um pouco de culpa por deixá-los tristes com uma nova partida minha, e as variantes para perguntas como "será que estou MESMO com todos os documentos de que vou precisar?".

O 15 de março chegou um pouco mais leve. Apesar de todo o perrengue de chega-numa-cidade-muda-de-avião-vai-pra-outra até aportar de vez em Montreal, o luto do dia anterior já se fazia mais discreto. Depois de encontrar meu amigo no aeroporto da cidade e ir pra casa dele (e, principalmente, depois de tomar um banho, comer e bater papo), comecei a olhar pra frente com mais otimismo e curiosidade.

Roda a fita pra seis meses depois, 15 de setembro de 2015. Seis meses de Canadá! Seis meses de Quebec! Seis meses de Montreal! Quanta coisa já mudou, quanta coisa continua a mesma, quanta coisa ainda acontecendo e por acontecer! Mudei de endereço (da casa do meu amigo para a "minha" quitinete alugada), de marca de computador (entrei pra ver qualé a dessa coisa de AiMéqui), de forma (um tanto esférica, quando cheguei, para algo mais retangular, depois que comecei a correr), de universidade (da McGill para a Universidade de Montreal, agora) e de idiomas (o tempo todo). A saudade da família continua, firme e forte, presente todos os dias, assim como continuam várias inseguranças e ignorâncias a respeito da nova cidade, da província escolhida, do país que parece ser dois. Aconteceu que descobri que sou fascinado por corvos, que meu inglês não é tão capenga quanto eu imaginava, que meu francês ainda vai chegar lá, que também tem stalker no Canadá; aconteceu também que fiz amizades com professores que se ofereceram até pra me dar carta de recomendação, com quebecos da gema que eu achava que só conheceria daqui a um booooooom tempo; está acontecendo de eu frequentar uma biblioteca de verdade pela primeira vez na vida, de morrer de vergonha toda vez que alguém me pergunta alguma coisa em francês na rua, de descobrir um lugar novo toda vez que saio de casa, de não cansar de ver os esquilos em duelos de fúria peluda nas árvores, de confirmar que eu e o Sol/calor/verão temos diferenças irreconciliáveis. Ainda está por acontecer o primeiro emprego, a fluência no francês, a decisão sobre os estudos, e toda uma lista de coisas que só aumenta a cada novo passo dado.

Com seis meses apenas, dá pra eu fazer um apanhado geral ou dar conselhos? Acho que ainda é cedo. Muito cedo. Por mais que eu já tenha tido o meu quinhão de experiências aqui, ainda me sinto muito cru para tirar conclusões ou traçar paralelos em demasia. Se tô gostando? Sim, e muito! Se acho que fiz a coisa certa? Quando penso no que eu estaria fazendo no Brasil, sem dúvida que me parece a coisa mais certa do mundo! Se dá vontade de voltar? Posso dizer que dá vontade — e muita! — de trazer os meus pra cá, ainda mais com as dificuldades que o Brasilzão velho de guerra está enfrentando agora. Se tenho receios? Sim, e muitos! Não estou bebendo champanhe e arrotando poutine só porque estou no Canadá. Dar um rumo pra vida é preciso, e isso dá origem a vários receios. Ao mesmo tempo, a oportunidade de poder começar de novo é muito, muito, muito estimulante!

Ah, um conselho eu acho que posso dar para quem ainda vai vir: trace seus planos, estude os idiomas, se prepare; mas, sobretudo, não se engane. A preparação não vai ser suficiente, não importa o quanto você se esforce, calcule ou imagine. Tem coisas que a gente só descobre e entende mesmo quando as vive. Então, não esqueça de tirar um tempo para relaxar e curtir o seu tempo aí no Brasil, com os seus.

À bientôt!

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Le Retour [vers le Futur]

Dei uma sumida básica em agosto, né? Mas, com o fim das aulas da McGill, eu resolvi tirar férias de algumas coisas, dentre elas, do blogue. Não que eu não tivesse coisas pra falar escrever, mas achei que era melhor tentar equilibrar um pouco estudos, tempo livre e exploração depois de três meses de curso intensivo de inglês.

Pois bem, sobre os estudos eu vou comentar em outro post, até porque minhas aulas na Universidade de Montreal começaram essa semana. Então talvez eu faça uma postagem só. Ou não. Tenho ascendente em Gêmeos, gente (segundo me disseram).

Então, nestas postagem de rentrée, vou só comentar algumas coisas que fiz por aqui nesse tempo sumido.

Churrascos diversos

Quem gosta de comer uma carninha pode ficar tranquilo quando vier para Montreal. Tem churrasco pra todo lado, todo fim de semana. Mas se você imaginou churrasco brasileiro, melhor baixar um pouco as expectativas. Eles existem, sim. A lenda de que não se encontra corte brasileiro de carne caiu por terra há um bom tempo, então isso já facilita. Especialistas em churrasco dizem que as churrasqueiras de tijolos, comuns no Brasil, fazem toda uma diferença na textura e sabor do resultado final, e pá, e um, e pode ser que eles tenham razão. Fato é, este que vos escreve esteve presente em churrascos brasileiros e canadenses, e o resultado depende mesmo de alguns fatores (e do seu gosto, claro). Eu passei fome em um dos churrascos brasileiros que fui e me senti num Burger King num dos churrascos canadenses. Em outra ocasião, comi um churrasco brasileiro muito bom (e isso sem churrasqueira de tijolinhos) e experimentei cortes de carne e preparo bem diferentes (e muito bons) num outro churrasco canadense. Enfim, até isso tem variedade pra ser explorada em Montreal.


Lojas paras Nerds

Isso era algo que eu já queria fazer há algum tempo, mas só consegui depois do curso da McGill: um passeiozinho de descoberta por algumas lojas nerds aqui de Montreal. Fui com meu amigo quebeco (que é nerd enrustido) explorar lojas na rua Saint-Denis. Vimos de tudo: cartas de Magic: The Gathering (reinou na minha adolescência), bonequinhos (também chamados de action figures por quem tem vergonha), camisetas e acessórios temáticos, jogos de vídeo game, quebra-cabeças, gibis (inclusive encadernados, em inglês e francês), miniaturas, jogos de tabuleiro e mais uma pá de coisas. Confesso que achei que veria bem mais variedade, mas já dá pro nerd aqui se divertir um pouco.

E teve rombo na carteira, ó:

Boné e caneca novos!

Gostei, mas fica pra próxima.




Retour vers le Futur... à Laval!

E eis que estou um dia assistindo um anúncio no YouTube (coisa que quase nunca faço) quando o troço termina com um "lembrete" de que haveria uma exibição pública e gratuita de "De Volta para o Futuro" em Laval, em comemoração aos 30 anos do filme. Pulei da cadeira e tive um trabalhinho pra descobrir onde era o lugar (porque eu não estava lá prestando atenção no vídeo até o tal lembrete aparecer), mas finalmente achei: o Centropolis em Laval. Não satisfeito com a celebração feita lá em Brasília no início do ano, resolvi que ia nessa também! É nerd ou quer mais?

Tentei convocar algumas vítimas pessoas amigas pra ir comigo, mas todo mundo (tipo, as três pra quem mandei o convite) recusou. Também, em cima da hora, tendo que sair da cidade, e pra ver um filme que todo mundo com 30 anos ou mais já assistiu pelo menos dez vezes, só sendo nerd mesmo, né? Então fui sozinho mesmo. E, em retrospecto, acho que foi melhor assim. Peguei o metrô até Laval (minha primeira vez lá), fui andando da estação até o Centropolis no meu ritmo, parando e vendo o que queria pelo caminho, sem pressão externa. Tá certo que não posso dizer que conheci a cidade, porque só fui mesmo por causa do filme, mas fiquei com vontade de dar uma explorada em outra oportunidade.

A área do Centropolis estava meio que decorada com temática dos anos 50, que, para informação dos civis e pagãos que não assistiram o filme, é a época em que se passa a maior parte da ação do filme. Tinha bastante gente, e até... (pausa dramática) o DeLorean!!!!

Olha ele aí!

Os hoverboards da gangue do Biff Jr.

Doc Brown depois de atacar a geladeira...

...e o Marty depois da Guerra do Anel.




Foi uma noite bem nerd, com o pessoal batendo palma em certos momentos do filme, e até o clima colaborou: quando a tempestade estava chegando em Hill Valley, as nuvens começaram a se juntar em Laval e o vento a soprar, mas foi só pra dar clima mesmo, pois não choveu. Voltei pra casa tarde, mas feliz da vida!


Andanças pela cidade

De vez em quando, eu também tirava um tempo só pra dar umas voltas pela cidade. Eu nunca fui muito longe, não, pra não precisar gastar com metrô e também pra não interferir na minha rotina de estudos e leitura. Mas, com o fim das aulas e sem ter uma vida social lá muito ativa, só assim pra poder lembrar que tem outros seres humanos no mundo. Então houve dias em que fui a livrarias, outros em que fui a shoppings ou ruas de comércio, mas o que eu mais fiz mesmo foi aproveitar as áreas verdes da cidade.




Os parques aqui são uma maravilha, e eu sou frequentador assíduo do Mont Royal. A única coisa que pesa contra é que realmente eu e o sol não nos damos bem. Morri de calor do fim de junho até agora, suando igual batata na chaleira toda vez que colocava o pé pra fora de casa, e isso me tirou o ânimo pra ir a alguns dos acontecimentos e festivais mais badalados daqui. Sério, calor me tira de circulação. Ainda assim, tento seguir o que falam: é bom aproveitar porque daqui a pouco são sete meses sem ele.

À bientôt!