sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Mundo Lingo

Desde que terminei o curso de inglês na McGill, tive que adicionar um item à lista de "coisas nas quais ficar de olho": dar um jeito de treinar o idioma para não enferrujar e não voltar a ficar inseguro. De início, não me empenhei muito, já que continuava usando inglês quando falavam comigo em inglês e não tinha problemas. Mas, depois de começar o curso de francês, notei que as palavras em inglês estavam começando a demorar um pouco mais que o normal pra vir à mente e — pior! — algumas não vinham ou vinham com versões afrancesadas. Longe de ficar totalmente feliz por ver o francês se tornando mais presente no meu dia a dia, comecei a ficar com medo de perder o nível que consegui no inglês.

Obviamente, em termos de leitura e compreensão oral não há grandes problemas pra se encontrar maneiras de praticar. O mundo inteiro é praticamente todo em inglês. É facílimo encontrar material de leitura na Internet, e as séries de televisão e os filmes mais assistidos do mundo são em inglês. Há podcasts de notícias, sobre economia, cinema, quadrinhos, filosofia, história; vídeos de diversos canais de televisão anglófonos mundo afora; e aqui no Canadá, com as bibliotecas, tudo isso é ainda mais acessível. O problema mesmo é para falar. Não sei quanto a vocês, mas eu não tenho o hábito de parar estranhos na rua pra puxar papo e treinar idiomas.




Sendo assim, comecei a procurar outras opções. Uma delas, que já uso há algum tempo, é se cadastrar em sites para conhecer pessoas de outros países, à distância mesmo. A maioria é mais focada em chats ou trocas de e-mails, mas já é uma maneira de treinar a escrita. Se você e a outra pessoa animarem, podem partir pro Skype, o que permite treinar a fala. Só que, na minha experiência, isso é muito incerto. A maioria das pessoas está nesses sites sem muito propósito ou apenas com uma vaga intenção de praticar idiomas. Nem sempre é fácil encontrar quem queira sentar sistematicamente uma ou duas vezes por semana para falar inglês durante uma hora, por exemplo. Boa parte aparece na primeira ou na segunda semana e depois some.

Então resolvi reexaminar uma ideia que me foi passada logo que cheguei aqui e que eu nunca tinha experimentado: o Mundo Lingo




O Mundo Lingo é um grupo de pessoas que se reúne semanalmente em locais e horas determinados e que tem por objetivo promover o encontro de nativos e de estrangeiros. É uma forma de facilitar a adaptação de estrangeiros a um país novo (ou mesmo de pessoas que mudam de cidade dentro de um mesmo país) e também de treinar idiomas diversos. Até o momento, eles realizam encontros em 13 países. Aqui em Montreal, são três dias por semana, em três locais diferentes. Se quiser conferir a agenda, clique aqui.

O esquema é bem simples: você vai ao local do encontro dentro do horário estabelecido, encontra a mesa de recepção do Mundo Lingo e fala qual o seu país de origem e quais as línguas você quer praticar. Eles te dão, então, bandeirinhas adesivas representando o seu país e aqueles cujo idioma você quer treinar. Aqui costumam dar a bandeira canadense e a do Quebec quando você diz que quer praticar inglês e francês, respectivamente (mas peguei a da França uma vez porque a do Quebec tinha acabado). Você cola as bandeirinhas na camisa em ordem de fluência e, depois disso, é só perambular pelo local ou encontrar uma mesa em que o pessoal também tenha bandeirinhas.



Há várias vantagens nesse tipo de encontro, na minha opinião. Primeiro, obviamente, você tem a possibilidade de encontrar nativos e de efetivamente conversar com eles (e não apenas aquelas "conversas" de loja ou supermercado, em que você dá bom dia, a pessoa te fala o preço, você paga e diz "até logo"). É muito legal poder falar com pessoas que nasceram e cresceram aqui, ouvir as opiniões deles sobre a cidade e sobre o país, sem falar no próprio uso local dos idiomas. Segundo, há gente de todos os cantos do mundo, o que significa que você também é exposto a sotaques diferentes, o que ajuda muito a treinar o ouvido. Terceiro, não há obrigação alguma em relação a com quem falar, em qual grupo ficar ou coisa do tipo. Não gostou de um grupo, vai pra outro! Aliás, mudar de parceiros de conversação é algo que é encorajado, mas nada te impede também de ficar com um só grupo se você está gostando da conversa. Quarto, é um ótimo jeito de fazer novos amigos, locais e internacionais, embora (de novo) ninguém seja obrigado a trocar telefones, contato de Facebook ou coisas do tipo. Na maioria dos casos que presenciei, as pessoas chegam, batem papo a noite toda, agradecem, se despedem e é isso. Quinto, ninguém está lá pra julgar sua habilidade. Não sou ingênuo de achar que ninguém tem sua opinião sobre quão bem ou mal o outro está falando, mas é um ambiente para que pessoas de todos os níveis pratiquem. Então, todos que vão sabem que encontrarão de nativos a gente uga-buga. Faz parte do pacote.

Ah, por último e muito importante: exceto pela sua consumação no local do encontro, é tudo grátis ;)

Eu fui três vezes até agora, e só não fui mais porque sou muito bicho-do-mato antissocial. Nas duas primeiras vezes, fui com um dos meus colegas quebecos. Daí tivemos problemas de horário nas semanas seguintes e eu, com receio de ir sozinho, deixei quieto. Chamei outras pessoas, mas elas tinham compromisso ou estavam com preguiça. Aí, finalmente resolvi ir sozinho e, pra minha surpresa, meu colega espanhol da aula de francês me mandou uma mensagem perguntando se eu não queria ir com ele. Topei, claro, mas ainda assim passei uma boa parte do tempo "sozinho" porque ele levou uma hora e meia pra aparecer. E "sozinho" está entre aspas porque não fiquei sozinho em momento algum. Primeiro foi um japonês, aí chegaram um português e um brasileiro, daí chegaram uma libanesa, uma sueca e uma egípcia, mais tarde chegou um canadense anglófono, tudo isso só na mesa em que eu estava. Ainda tive a chance de falar com um peruano e um britânico, além dos vários quebecos que sempre estão por lá.

Enfim, quem diria que eu, antissocial como sou, estaria recomendando encontros grupais entre desconhecidos, mas voilà. É claro que o que é feito no Mundo Lingo não é exatamente excepcional. Muita gente vai pra bares e pubs e simplesmente começa a bater papo com quem estiver por perto. A diferença,  pra mim, é que os eventos do Mundo Lingo (como os Meetups) têm o objetivo bem claro, e todo mundo que se dispõe a ir vai sabendo que todos estarão abertos. Se você também procura um jeito mais espontâneo e focado de praticar, fica a dica!

À bientôt!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Encomenda na porta e um gostinho de inverno

Uma coisa que sempre me chama a atenção por aqui é como algumas entregas são feitas. Pelo que deu pra perceber, quando as encomendas são pequenas e o dono do apartamento não está em casa, a encomenda é deixada no chão, na frente da porta do apartamento, desse jeito aí, ó:




Tirei essa foto numa segunda-feira e o pacote continuou na frente da porta por mais três dias (acho que o morador estava viajando). É algo impensável em boa parte do Brasil, como expliquei pra um dos meus colegas quebecos no último fim de semana. Não é que a maioria das pessoas no Brasil fosse roubar a encomenda; eu acredito que a maior parte da população deixaria o pacote lá quieto, e talvez alguns até o pegassem para depois ir bater na porta do dono e entregar em mãos, com o intuito de evitar que fosse roubado. Mas os brasileiros sabem que a probabilidade de que alguém acabe, digamos, dando um fim pra um pacote da Amazon dando sopa assim é maior do que a gente gostaria de admitir. Infelizmente, no Brasil, teria gente que pegaria o pacote só pelo fato de poder pegar, mesmo sem ter ideia do que encontraria na hora em que abrisse.

Ainda acho estranhíssimo esse tipo de coisa. Eu ainda não entrei totalmente no clima "estou seguro aqui" por dois motivos. Primeiro, tem todas as décadas vividas no Brasil e as minhas experiências de violência urbana (que são bem mais leves do que as histórias que muita gente vivenciou por aí, mas, ainda assim, violência urbana é violência urbana, e só quem é submetido a ela sabe o quanto é ruim). Segundo, por mais que o Canadá seja infinitamente mais seguro que o Brasil, ele não é Avalon. Há mais ou menos um mês, circulou pelos grupos de Facebook e listas de discussão o caso de uma brasileira que teve o condo invadido quando ela estava fora. Fizeram uma limpa levando, entre outras coisas, o laptop dela. Há algum tempo, li também sobre um casal brasileiro que surpreendeu o zelador do prédio fazendo as "compras" do mês na geladeira deles. Aqui, os zeladores sempre têm uma chave extra do apartamento, que eles usam, teoricamente, apenas quando algo precisa ser verificado na unidade e o morador não está. Mas, obviamente, vai da índole do zelador agir dentro dessa regra ou não. E aí, com a vivência brasileira na veia, como é que o cidadão se acostuma do dia pra noite com essa história de deixar seus bens "desprotegidos"? No Brasil, trancando tudo a gente ainda fica com receio de voltar pra casa e descobrir que alguém fez uma visita inesperada durante a nossa ausência, imagina então você sabendo que, em algum momento, vão mesmo entrar no seu apartamento (no meu, sei que o zelador veio pelo menos duas vezes quando eu estava fora).

Mudando radicalmente de assunto, há umas duas semanas veio o primeiro indício de que o inverno está mesmo chegando. Taí a prova:




De lá pra cá, nevou em alguns dias, mas não o suficiente pra cobrir o chão, pelo menos não nas regiões da cidade pelas quais perambulo. Mas, como já disseram inúmeras vezes, que ninguém se engane: a neve tarda, mas não falha.

À bientôt!

sábado, 5 de dezembro de 2015

E há um ano...

...eu pedia exoneração do serviço público brasileiro.



Como o meu pedido de licença seria negado ou pela minha chefia imediata, ou pela chefona máxima do órgão em que eu trabalhava, decidi não fazer pedido nenhum e simplesmente assinar a minha exoneração. Parte de mim ficou apreensiva por estar abrindo mão do salário & estabilidade que tantos tentam desesperadamente conseguir todos os anos; mas a outra parte sabia que ainda que as coisas não dessem certo no Canadá e eu resolvesse voltar pro Brasil, retomar um cargo no serviço público seria a minha verdadeira derrota.

Mas, passado um ano, ainda penso assim? Numa palavra, se você não quiser ler o resto do post: sim.

O medo causado pela instabilidade e desemprego logo deu lugar à ansiedade pela descoberta. O novo rapidamente ganhou espaço frente ao temor em relação ao que poderia dar errado. O primeiro benefício da minha exoneração se fez sentir na minha saúde: eu fiquei praticamente um ano sem pegar nem um resfriado. Pode parecer uma banalidade, mas pra quem tinha um resfriado por mês (às vezes dois) fazendo um trabalho que não gostava numa cidade da qual eu não gostava (São Paulo já havia perdido qualquer tipo de encanto pra mim há um bom tempo), ficar um ano sem precisar tomar um nada pra melhorar foi uma verdadeira conquista! No fim, só sucumbi mesmo frente ao outono aqui em Montreal, com todo mundo espirrando e fungando ao mesmo tempo. Ainda assim, foi um resfriadinho tão fraco comparado aos que eu tinha em São Paulo que eu dava até risada a cada espirro.

Outro benefício é aquele que vem do "e agora, José?". Saber que não tenho mais o porto seguro do serviço público para onde correr em caso de tempestade me obriga a encarar o meu maior dilema existencial desde que eu tive que escolher entre a Marvel e a DC: o que eu quero da vida? Essa pergunta azucrina a minha mente há mais de uma década. Muitos já têm essa resposta, outros nem fazem a pergunta, mas eu estou no grupo daqueles que tentam, se esforçam, arriscam e, mesmo assim, continuam sem saber para onde ir. Minha vinda para o Canadá, ao contrário do que talvez possa parecer, não foi motivada apenas pela situação político-econômica brasileira, pela minha incompatibilidade com a maior parte da cultura que divido com os meus compatriotas ou com a insegurança causada pela violência desmedida (que acabamos aceitando como natural). Isso tudo foi um tempero, mas a razão principal da minha imigração é algo que remonta a um desejo do início da minha adolescência: viver, de verdade, num outro país. Era uma vontade quase tão velha quanto eu mesmo. E, dentro dessa vontade, está também de saber para onde eu quero levar a vida. Ainda não tenho resposta pra isso, mas a sensação de liberdade que sinto por não estar mais atrelado a algo de que eu não gostava e que eu via como empecilho a todo o resto me faz sentir que agora eu tenho como descobrir.




Basicamente, tudo que escrevi no meu post de despedida do trabalho se confirmou. O contato que tenho com os antigos colegas de labuta se resume a curtidas no Facebook ou no Instagram. Escrevi para eles um tempo depois da minha chegada aqui para ver se eu estava enganado em relação a como eu percebia o pessoal, mas não estava: poucos me responderam e, mesmo eu continuando a escrever, todos pararam, no fim. Não é nada de mais, tendo em vista que eram só colegas de trabalho mesmo e que nossa relação lá nunca foi além do prédio do órgão. Continuo sendo grato pelo ambiente que proporcionaram pra mim durante todos os meus anos lá, e torço pra que eu não tenha sido uma pedra no sapato de ninguém (mesmo eu não escondendo que acho a maior parte do serviço público completamente inútil). De resto, cada um segue sua vida.

No fim deste primeiro ano sem serviço público, posso dizer que, ainda que desempregado e ainda que não saiba ao certo pra onde ir, me sinto bem melhor do que me sentia até o dia 5 de dezembro de 2014. Agradeço a chance de aprender a lidar um pouco mais com as pessoas, desenvolver um certo olho clínico para as relações de trabalho, entender como certas coisas funcionam e, sobretudo, de poder economizar uma grana que está me permitindo ir atrás de responder aquela pergunta lá: "E agora, José?".

Pra finalizar, um vídeo que resume bem uma grande parte da minha vida de servidor e o que eu acabei fazendo. As pastas, as conversas sobre aposentadoria e até o cafezinho, tá tudo nessa cena. Comme lui, je choisis un avenir sans débouchés. Et comme lui, je suis un vrai bordel ;)



À bientôt!

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte IV

E eis que meu primeiro trimestre cursando o Certificado de Francês da Universidade de Montreal vai chegando ao fim... e que longo trimestre curto foi! Ao mesmo tempo que as aulas se sucederam com uma rapidez assustadora pra mim, tinha horas que parecia que não ia acabar nunca, principalmente no que diz respeito à aula de francês escrito, tudo isso patrocinado pela minha ansiedade, claro. Afff!


Mas vamos por partes: a minha aula de francês oral já acabou. Há uma semana, para ser preciso. Como ela tem uma carga horária semanal maior, começou um pouco depois e terminou um tanto antes da de francês escrito, que só acaba daqui a três semanas. Posso dizer que fiquei bem satisfeito com a aula: como a professora deixou claro lá no início, o objetivo era falar. E isso nós fizemos! Todas as segundas-feiras, tínhamos que ler um artigo tirado da imprensa e apresentá-lo para um grupinho de alunos da turma. Além disso, a professora sempre trazia pontos gramaticais que costumam criar problemas para quem está aprendendo francês (passado do subjuntivo, condicional, etc) e dava exercícios (orais e escritos) pra gente. O uso dos pronomes (le, la, y, en...) teve um lugar cativo no coração de todos (só que não), já que a maioria tenta evitar usá-los. Também tivemos a oportunidade de assistir alguns curtas e animações em francês do Quebec, com direito a lista de expressões, diferenças entre palavras do francês daqui e de la France, entre várias outras atividades.

A turma não era exatamente empolgante. Diferentemente do que aconteceu na McGill, não houve em nenhum momento uma sensação de união, por assim dizer. Por um lado, talvez essa união esteja mais em como eu percebia as pessoas e me relacionava com elas lá na McGill do que na turma em si. De qualquer forma, eu chegava na turma da McGill e me sentia em casa; na turma da UdeM, isso não acontecia. Primeiro, porque tínhamos aulas só duas vezes por semana. Ver as pessoas todos os dias ajuda a criar intimidade ou companheirismo mais rápido, na minha opinião; então, a gente já saiu perdendo nesse quesito. Segundo, a União Europeia da sala (mais especificamente, as alemãs, a finlandesa e a austríaca) formaram um núcleo um tanto antipático. Se isolaram num lado da sala e tratavam os outros alunos com uma cordialidade fria que fez com que todo o restante da turma entendesse que elas estavam muito bem sem nós, obrigado. As únicas interações delas com o resto dos mortais era quando éramos separados em grupo para as atividades. Além disso, elas tinham o hábito extremamente desagradável de rir abertamente cada vez que alguém cometia um erro. O alvo preferido delas era um iraniano que realmente tinha imensa dificuldade pra se expressar. Bullying dos grandes, mas ele só olhava pra elas com desprezo e voltava a tentar acertar a frase. Triste da parte delas, que têm um nível alto de habilidade com o idioma. Se eu fosse religioso, faria uma prece por elas; como só o sou às terças e quintas à noite, espero que um cachorro faça xixi nos pés delas.



Outro aspecto que dificultou o entrosamento da turma (e talvez tenha se originado desse primeiro ponto aí em cima) é que os outros alunos meio que se retraíram e estabeleceram uma parceria/cumplicidade com quem estava imediatamente próximo — e só. Ninguém pareceu muito à vontade para ir sentar perto de outras pessoas que não aquelas que estavam na sua vizinhança, e nem na hora do intervalo era comum ver as pessoas interagindo. Cada um ficava com seu celular e pronto. Curiosamente, fora as alemãs e a austríaca, ninguém ficou amiguinho de alunos que tinham o mesmo idioma nativo. Talvez, de forma consciente ou não, todos tenham achado melhor evitar a possibilidade de deixar de falar francês pra falar o idioma da terra natal. O outro brasileiro da turma fugiu de mim logo na terceira aula. Nem precisava, porque eu não teria problema algum em falar só francês com ele. Mas ouvi ele dizendo pra uma aluna certo dia que ele preferia não falar com outros brasileiros porque ele achava esquisito falar outra língua que não o português com um conterrâneo. Então tá. Aparentemente, ele não foi o único a pensar assim: os iranianos só se cumprimentavam, as sul-americanas nem isso.




Acabou que fiz amizade (ou "coleguismo de sala de aula") com um espanhol, que até tentou entrar no grupinho da União Europeia (geograficamente, ele teria direito), mas não conseguiu. Talvez porque seria o único homem no grupo, talvez porque o francês dele ainda não estivesse no nível exigido para se tornar membro, ou talvez ainda porque a Espanha é economicamente mais fraca que a Alemanha, a Áustria e a Finlândia. Vai saber. O fato é que não deram muita bola pra ele (mas evitavam rir abertamente dos erros dele. Solidariedade seletiva), e ele achou que talvez tivesse mais sorte comigo. Acho que foi bom para nós dois, no fim. Como tínhamos um nível semelhante, nos sentíamos perfeitamente à vontade um com o outro para conversar e fazer as atividades durante a aula. E, como fazíamos metade do trajeto de metrô juntos, tínhamos mais oportunidade para praticar. No fim, mesmo que não tenhamos forjado nenhuma amizade verdadeira pra atravessar gerações, foi bom poder contar com alguém durante as aulas e ter um parceiro para os trabalhos e provas (além de poder dar umas risadas juntos de bobagens aleatórias) foi legal.

Ah, as provas! O que faríamos sem elas? Bom, muita coisa, eu poderia fazer uma lista, mas não importa: elas existem e a gente tem que se submeter, no fim das contas. Tivemos três travaux pratiques (que eles chamam de TP), um intra (uma prova de meio do trimestre) e o examen final. Apesar da diferença nos nomes e também no peso das notas, foram todos bastante similares: tivemos que discutir o assunto de um artigo ou vídeo que tínhamos assistido (em alguns casos, de livre escolha; em outros, indicados pela professora) antes da aula ou no próprio momento da prova, às vezes gravando a conversa em gravadores digitais, às vezes na frente da professora. Minha ansiedade não ajudava em nada quando tinha que apresentar para ou conversar diretamente com a professora, basicamente porque fico sempre constrangido na hora de falar com nativos; em compensação, ficava bem mais tranquilo quando eu só tinha que conversar com o meu colega espanhol.

As notas me surpreenderam bastante! Nivelando pela fluência que a União Europeia da turma demonstrava, eu claramente estava abaixo e, por isso mesmo, não esperava muita coisa. Não estava esperando notas baixíssimas, mas achava que ficaria na média. Quando a professora entregava as notas, porém, eu sempre me assustava, porque eram notas altas. Acabou que, embora eu ainda não tenha o resultado final, é bem possível que eu fique com A ou A- (com uma possibilidade de cair pra B+, se o meu desempenho na última prova tiver sido desastroso). Agora, uma coisa é a nota, e outra é como eu me sinto em relação à minha habilidade com o idioma. Eu acho que houve progresso, sim, embora a minha ansiedade dificulte fazer uma avaliação mais precisa. Mas eu continuo não achando que sou avançado coisa nenhuma. Eu consigo me expressar em boa parte das situações, a professora falou que meu sotaque não é um problema, mas eu sinto que me falta vocabulário, eu ainda erro tempos verbais (na hora de fazer o discurso indireto então...), e quase nunca tenho certeza de qual preposição usar com esse ou aquele verbo. Então, por mais que, para fins de histórico escolar seja ótimo ficar com um A ou A-, eu com certeza me daria uma nota mais baixa. Pra mim, aluno avançado é aquele que já domina as estruturas do idioma e está polindo o discurso, ou seja, incorporando vocabulário mais específico e/ou de linguagem mais culta. Mas deve ser por isso que não tenho escola de idiomas (e por isso que tanta gente por aí tem "avançado" no currículo).

No fim, embora as aulas de francês oral tenham sido proveitosas, vou sentir mais falta da oportunidade de praticar francês duas vezes por semana do que da turma ou das atividades em si. Mas não me arrependo de forma alguma, e fiquei contente por ter tido a chance de fazê-la. Agora é esperar o trimestre de inverno e torcer para que a fluência um dia chegue!

À bentôt!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Portes Ouvertes (UdeM)

Como mencionei no post passado, além do evento da McGill eu fui também ao da Université de Montréal. Ele aconteceu no dia 8 de novembro, também das 10 hs às 16 hs, e a maior parte das "atrações" ficou concentrada justamente no prédio da Faculté de l'Éducation Permanente em que tenho minhas aulas de francês, então não tive como me perder.




Mas essa segurança fez com que eu me atrasasse na hora de sair de casa e perdesse a primeira palestra, que era sobre o processo de admissão da universidade. Nada totalmente trágico,  já que a palestra seria repetida mais tarde, mas eu queria estar de posse das informações mais básicas para depois poder fazer perguntas específicas nos lugares adequados. Tudo bem,  né, fazer o quê?

A UdeM usou três andares do prédio para o evento. Além das palestras, havia diversos quiosques (ou banquinhas) de diversos cursos e serviços da universidade. O térreo ficou mais com quiosques de informações sobre serviços (tipos de admissão, bolsa, benefícios de ser aluno da UdeM, etc), enquanto os andares superiores ficaram com os cursos de graduação, alguns de pós-graduação e alguns de serviços mais específicos. Reservaram uma sala do último andar para que os candidatos expusessem suas dúvidas a um funcionário do serviço de admissão e recebessem reposta imediata. Se o caso fosse muito complexo, o candidato ainda poderia ser encaminhado para um encontro de 10 a 15 minutos com um conselheiro de admissão, que analisaria o caso e indicaria o melhor caminho. Tudo bem organizado e bem distribuído, apesar de que, em alguns momentos certos lugares ficaram bem muvucados e parecia mais pré-ensaio da Unidos do Cotovelo.

A primeira palestra da qual participei foi sobre financiamento de estudos. Há bolsas de tudo quanto é tipo, parciais e integrais, dadas pela universidade ou pelo governo, baseadas em renda ou em mérito, blábláblá. É bastante coisa e eu mesmo só conhecia algumas opções. Aliás, continuo só conhecendo algumas porque a palestra, obviamente, deu apenas uma visão geral sobre as bolsas e nos passou os sites e links para ler mais a respeito (coisa que ainda não parei pra fazer). Mas de cara, é bem legal essa possibilidade de poder contar com tanto incentivo pra estudar.

Em seguida, assisti a palestra sobre a admissão. Como no caso da McGill, as informações eram destinadas mais aos candidatos quebequenses recém-saídos dos CÉGEPs da vida e aos alunos estrangeiros, então não apresentou grandes novidades em relação ao que eu já sabia. Aliás, a Universidade de Montreal tem um site em português com informações sobre admissão, caso você aí que está lendo essas linhas tenha interesse. É só clicar aqui.



A terceira e última palestra do dia foi sobre o que fazer após um bacharelado em ciências sociais. Eu resolvi assistir porque pensei que seria uma espécie de palestra de auto-ajuda pra quem não é chegado em engenharia, TI, química, enfermagem e outros cursos que têm emprego quase certo. Ou seja, pensei que seria uma palestra tipo "olha, não pense que você vai morrer de fome se estudar Ciência Política, veja o que dá pra fazer!", mas não foi bem isso. Falaram sobre mestrado e sobre como um bacharelado na área pode ser um passo inicial até para uma mudança de área. Assim, o objetivo deles não era o que eu imaginava, claro, mas ainda assim não desceu muito bem a ideia de fazer um bacharelado em ciências sociais "só" para fazer um mestrado e/ou mudar de área depois.

Entre uma palestra e outra, fiz o que eu queria mesmo fazer: passeei pelos vários estandes de cursos da universidade. Foi algo de que senti falta na McGill e acho que eles fariam muito bem em incorporar usando o modelo da UdeM. Cada quiosque tinha professores e alunos dispostos a responder suas dúvidas e explicar o funcionamento do curso, além de material impresso todo pensado pra te convencer. Passei nos estandes de História, de Línguas Modernas, de Literatura, Ciência Política, Estudos Orientais, Estudos Alemães e o do curso que mais me chamou atenção, o de Estudos Internacionais. Eu queria ter batido mais papo com os alunos, mas imagina se eu fico com vergonha de falar francês no meio dos nativos, né? Ainda mais que era bem comum eu chegar pra pedir informações e chegarem mais dois ou três candidatos pra ficar escutando. Então, só bati um papo mais longo e mais interessante mesmo com um aluno de História e outro que estava promovendo o novíssimo bacharelado de Línguas Modernas.




Depois de tudo isso, ainda fui tirar minhas dúvidas na salinha de admissão que mencionei antes. Era um tanto mais fast-food do que tinha parecido a princípio: você entrava numa fila e, ao final dela, haviam improvisado guichês de atendimento. Então foi quase como ir ao banco ou pedir um lanche no McDonald's. A menina que me atendeu respondeu todas as minhas dúvidas, mas ela tinha uma certa pressa em me cortar antes que eu concluísse a pergunta, o que fez com que eu tivesse que repetir porque nem sempre ela acertava o que eu queria saber de fato. Enfim, primeiro eu quis saber se poderia ser admitido mesmo já estando fazendo o certificado de francês e ela disse que sim, mas que eu talvez tivesse que priorizar um em detrimento do outro caso fosse aceito. Perguntei também se algo no regulamento da universidade me obrigaria a fazer menos de 90 créditos para me formar (e expliquei a história do que acontece na McGill para quem quer fazer um segundo bacharelado) e ela informou que não, que terei que cumprir o total de créditos exigidos pelo curso e para a obtenção de um bacharelado. Também quis saber se eles olhariam o meu histórico do ensino médio e o da minha primeira faculdade ou se seria só a da faculdade, e ela disse que só a da faculdade (com cálculo de GPA), a não ser que alguma situação especial faça com que um exame das notas do ensino médio seja necessário. Por fim, perguntei sobre o teste de francês e quando eu poderia começar a esperar uma decisão e ela disse que é difícil apontar uma data, mas que antes de março era pouco provável. Quanto ao teste, ela pediu pra eu ir falar com um cara num outro estande, e ele me informou que eu teria até julho do ano que vem pra apresentar o resultado do teste.

Saí de lá bem satisfeito (e com dor de cabeça) com o evento. De forma geral, eles realmente te dão toda a informação de base e, nos casos mais específicos, indicam onde você pode conseguir mais detalhes. Eu, agora, me encontro naquele estágio em que preciso analisar várias coisas, como por exemplo: 1) volto mesmo pros bancos da universidade e postergo o início da vida profissional aqui (caso seja aceito, claro)?; 2) fazer uma dívida com o governo em se tratando de cursos que eu não sei onde vão dar é uma boa?; 3) faço o pedido de admissão pra mais de uma universidade, pra cursos diferentes (=atirando pra todo lado) e aceito o que vier ou será que dá pra tentar não só restringir os cursos, mas também as universidades?; 4) Faço o teste de francês só depois de receber a resposta das universidades (caso seja aceito em alguma francófono, claro)?

E uma última que não tem como deixar de existir: tenho as caras de fazer uma nova faculdade en français, se tiver que fazer?

À bientôt!

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Open House (McGill)

Voltar ou não para a universidade é uma questão para a qual ainda não tenho resposta. Às vezes, acho que é meio sem noção querer fazer outra faculdade sem ter muita ideia do que quero realmente pra vida; outras vezes, penso que sem noção é ficar achando que serei atingido por um raio divino que vai me indicar o caminho "certo" e que, portanto, é melhor tentar do que ficar parado ou trabalhar com qualquer coisa. Essas duas maneiras de ver a questão se alternam quase o tempo todo, e elas se revezam no pódio de campeão do dia da minha mente dependendo de coisas tão banais quanto meu humor no dia ou um vídeo que alguém me envia.

Mas, enfim, ainda sou da opinião de que, se você não precisa tomar uma decisão às pressas, é bom se informar. E foi com essa intenção que participei, nas últimas semanas, de dois eventos em duas universidades aqui de Montreal cuja intenção é convencer os futuros alunos a escolher a universidade e mesmo o curso para seguir com os estudos. Esses eventos são bem comuns por aqui. Vi vários anúncios de universidades, colleges, CÉGEPs e outras escolas anunciando o seu próprio evento de "portas abertas", um dia em que você pode conhecer as instalações, assistir palestras, falar com alunos e professores, e tirar dúvidas sobre que tenha sobre admissão.

Nota: a ideia era falar sobre os dois eventos num post só, mas, pra variar, escrevi mais que a Wikipédia. Então, vou falar sobre o evento da McGill aqui e deixo para falar sobre o da Universidade de Montreal no próximo.

Open House - McGill University

O primeiro evento ao qual fui foi o da McGill. Ele aconteceu no dia 25 de outubro, das 10 às 16. Cheguei um pouquinho depois das 10, me identifiquei na área de recepção e ganhei sacolinha, mapa do campus, lista das palestras e outras indicações.

De lá, fui logo assistir a primeira palestra que me interessava. Era sobre admissão, mas acabou não me sendo de grande valia. Como era de se esperar, toda a informação foi voltada para estudantes vindos do sistema de educação canadense e dos Estados Unidos, com um pouco para alunos internacionais. Na verdade, havia uma palestra toda dedicada aos alunos internacionais, mas eu sou residente permanente, já tenho faculdade, então... fico meio no limbo nessa hora. E, se ainda não deu pra notar pelas postagens, eu sou tímido, então imagina se eu ia levantar a mão no fim pra fazer perguntas tipo: "Oi, sou um tanto velho, não sei exatamente qual curso fazer e nem quais partes do processo de admissão se encaixam pra mim, então será que você poderia me ajudar?". Preferi deixar pra encurralar alguém depois.

Campus da McGill


De lá, fui a um painel bem legal que era uma espécie de mesa redonda. Havia um estudante de pós-graduação (que fez a graduação também na McGill), dois estudantes atualmente na graduação, uma que já é formada pela McGill e está atuando no mercado de trabalho, e uma mãe de aluno. O painel começou com a mediadora fazendo perguntas do tipo "o que mais você gosta/gostou na McGill?", "qual foi a maior dificuldade durante os estudos?" e por aí vai, e era interessante ver as diferentes histórias (mas claro, sempre com o lado positivo da vida na McGill). Em seguida, as pessoas no auditório puderam fazer perguntas, e uma em especial foi interessante: uma mãe de candidato, americana, perguntou sobre a questão de consumo de álcool na universidade. Como nos EUA a idade mínima legal para beber é 21 anos, ela tinha receio do impacto que o álcool mais cedo (no Quebec, é liberado a partir dos 18 anos) poderia ter na vida pessoal e acadêmica do filho. Quem respondeu foi uma das alunas da graduação, que é americana, e ela disse acredita que o consumo de álcool aqui seja bem menos badalada que nos EUA. Lá, como a idade legal é 21, todo adolescente fica louco de vontade de "infringir a lei", beber escondido pra se sentir "livre" e "desafiando o sistema". Aqui, como a cultura é diferente, e como a idade legal é mais baixa, beber acaba não sendo um grande tcham na maioria dos casos. Enquanto nos EUA os universitários se acham o máximo tomando porres com 20 anos, consumir álcool aqui perde o glamour (se é que tem) mais cedo. Obviamente, o uso ou abuso vai de cada um, e todo mundo sabe que os adolescentes começam a beber bem antes da idade legal nos dois países.

Em seguida, participei de uma palestra de admissão da faculdade de Direito. Em um passado distante, eu pensei seriamente em estudar Direito. Até cheguei a fazer vestibular pra UPFR no Brasil. Mas foi uma coisa de momento que passou logo. Ainda assim, já tinha ouvido falar que o curso de Direito da McGill é puxado, e que aqui você precisa ter graduação pra ir estudar Direito. Enfim, fui lá pra descobrir como era a coisa. A palestrante, embora toda vestida de advogada bem-sucedida, aparentemente não tem muito o hábito de falar em público ou, no mínimo, não conhecia exatamente o processo de admissão. Foi uma palestra um tanto confusa, e ficou ainda pior porque ela falava ora em francês, ora em inglês. Enfim, o que tirei de lá é que (1) sim, precisa-se realmente ter uma graduação para só então ir estudar Direito; (2) a McGill é uma das poucas universidades (se não a única pras bandas de cá) que ensina o Direito Civil (utilizado no Quebec) e a Common Law (usada no restante do Canadá); (3) por isso mesmo, conhecimento das duas línguas é essencial, mesmo que o candidato não seja totalmente fluente, já que há disciplinas em inglês e disciplinas em francês; (4) o GPA (espécie de média das notas da faculdade) mínimo para ser considerado pelo comitê de admissão é 3.8. De uma escala de 4.0!!! Gente, isso significa que você precisa ter uma graduação praticamente impecável pra ser CONSIDERADO!!! Além disso, você ainda vai ser comparado a todos os outros crânios que tem GPA de 3.8 ou mais (acredite, eles existem!) e pode perder o lugar porque alguém fez um trabalho voluntário em algo relacionado a Direitos Humanos, por exemplo. Deve ser osso!! Eu já tinha ouvido dizer que se você tem GPA abaixo de 3.5 é difícil entrar em qualquer curso da McGill, mas essa do Direito me deu toda uma nova dimensão da coisa.


Campus da McGill


A última palestra pra mim foi da Faculdade de Artes e Ciências. Estava bem animado porque eu (in)felizmente eu me interesso por cursos que têm uma grande chance de me levar a uma vida de pobreza: História, Literatura, Cultura e Civilização e por aí vai. Então sentei mais próximo ao palco e fui até criando coragem para fazer perguntas. Mas tomei um balde de água fria: a palestra durou 15 minutos, e a dona que nos agraciou com sua voz usou esse tempo para, basicamente, repetir informações do site. Ok, tá bom, eu entendo que muita coisa pode ser encontrada no site, mas se você vai dar uma palestra pra apresentar a sua faculdade, custa fazer um trabalhinho mais elaborado? As outras palestras duraram entre 40 e 60 minutos, mais o tempo pra perguntas. Por que a da Faculdade de Artes, que tem um zilhão de cursos, tinha que durar 15? Todo mundo ficou surpreso quando a palestrante perguntou se alguém tinha dúvidas e, diante do silêncio, encerrou a sessão. Só que, óbvio, TODO MUNDO tinha dúvidas, então formaram uma fila pra ir perguntar sobre tudo que ela não havia dito.

Campus da McGill


Saí frustrado, mas ainda tinha uma missão: encurralar alguém pra bombardear com as minhas questões. E achei! Simpática, a mocinha ouviu toda a minha história e, em resumo, me disse o seguinte:

1) O processo de admissão é o mesmo que todo estudante canadense/quebequense segue. No meu caso, vão me avaliar pelo meu GPA da UnB em vez do segundo grau, mas, fora isso, o trâmite é o mesmo;

2) Como já tenho um bacharelado, se eu for admitido eles vão me considerar como Second Degree, ou seja, alguém que vai fazer um segundo bacharelado. Nesse caso, eu estarei limitado a 60 créditos (contra os 90-120 que um estudante que vai fazer o primeiro bacharelado tem que fazer). Isso é bom por um lado, pois significa que eu poderia ter um novo diploma universitário em dois anos. Porém, o lado ruim é que limita bastante o que eu poderia explorar na faculdade (sei que isso soa bem nerd, mas, se você acompanha o blogue há algum tempo, já deve ter se acostumado);


3) Não terei necessariamente que ficar só com as vagas que sobrarem. Como expliquei à moça simpática, a parte sobre Second Degree no site da McGill está junto com a parte de Transfer Students, o que faz parecer que ambos seguem as mesmas regras, e lá diz que estudantes pedindo transferência de uma outra faculdade só são aceitos se sobrarem vagas. Mas, segundo a moça simpática me explicou, se eu tiver um GPA competitivo, posso receber uma oferta de admissão logo no início da temporada, que começa em dezembro. Ainda assim, ela lembrou que o processo é bastante competitivo, e que eu não deveria esperar uma resposta antes de março ou abril do ano que vem.

Ela não soube me confirmar sobre a história do GPA mínimo de 3.5 pra ser considerado. Só disse que isso varia de um ano para outro e repetiu que o processo de admissão da McGill é bem competitivo. Senti que eu precisaria ser um Cavaleiro Jedi pra conseguir entrar, mesmo tendo GPA maior que o suposto mínimo. Mas, enfim, por enquanto, é só uma ideia, não é mesmo? 

*Suspira*

À bientôt!


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Fim do horario de verão e o outono

No último domingo, acabou por aqui o "horário de verão". Isso, combinado com o fato de que o horário de verão brasileiro começou há umas duas semanas, faz com que agora estejamos com uma diferença de fuso horário de três horas. Isso não só cria um probleminha extra para que eu me comunique com minha família no Brasil como exige que eu seja atento para outras tarefas.

Por exemplo, fui transferir moedas de ouro do meu banco brasileiro pra cá e quase esmurrei a tela do computador. Colocava valor, senha, tudo certinho, e o raio do site dava erro. Demorei um tempinho até me dar conta que o problema não era a minha senha ou a conexão: é que, no Brasil, já era mais de quatro da tarde, enquanto por aqui eu mal tinha acabado de almoçar. Falha nossa.

E, como previsto, a minha estação favorita até agora é o outono! Eu já tinha tido uma palhinha em 2013, quando visitei Montreal, mas agora deu pra ver tudo acontecendo ao vivo. A mudança das cores é realmente fantástica! Vários dias eu subi o Mont Royal e corri em meio a folhas caindo, quase como uma propaganda de xampu, pasta de dente ou outras coisas que não tem nada a ver com natureza, mas que os publicitários associam mesmo assim. Dá uma olhada:

Cinco horas da tarde já tá assim.










À bientôt!

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O Curso de Inglês da McGill - Epílogo

Não bastasse a McGill ter sido responsável por alguns dos meus melhores dias até agora aqui em Montreal, olha o que eles ainda me deram no final:




Chegou na hora certa pra dar me dar novo ânimo em relação ao francês. Quem sabe chego lá um dia também na língua de Molière, né?

À bientôt!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Le Réveil de la Force

Não vou nem tecer comentários sobre meu nível de nerdice nas 13487 vezes assistindo a esse trailer, maaaaaaas foi bom poder assistir em francês! Tá certo que tem só um punhado de frases e o ritmo é tranquilo, mas neste momento em que a gente está se esforçando pra melhorar no idioma, qualquer coisa bem compreendida deve servir de motivação, né não?

Então vamos de Star Wars: Le Réveil de la Force! E que venha dezembro!




À bientôt!

domingo, 18 de outubro de 2015

E o frio já chegou!

Depois de 34 anos de verão praticamente de janeiro a janeiro, não tenho mais do que reclamar! Ontem Montreal registrou (ou o meu celular registrou) a primeira sensação térmica negativa pós-verão. Observem:




E hoje, no início da tarde, rolou a primeira neve! Tá certo que durou um minutinho e meio só, e os flocos eram beeeeeem pequenos, mas,  para fim de registros, foi a primeira depois do verão!

Se eu tô achando ruim o frio? Em algum momento no futuro pode ser que eu responda afirmativamente, mas,  por enquanto, ainda no meu primeiro ano por aqui e sujeito a pulinhos de felicidade vendo esquilos e neve, não tem como. Tô adorando sair encapotado pra rua!

À bientôt!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte III


Depois do susto da primeira aula de francês escrito, sentei e coloquei a cabeça no lugar (ou tentei, pelo menos). Cheguei à conclusão que, provavelmente, a maioria dos alunos que mandou muito bem na hora de falar talvez já more há um tempo por aqui. Afinal, o curso é aberto para qualquer um que não seja francófono nativo. Então, é bem possível que muita gente já esteja vivendo aqui há um tempo, consiga se expressar muito bem falando, mas tenha problemas para escrever. Isso é algo bem normal, em qualquer idioma. Quando parei pra pensar, me lembrei que vários brasileiros que conheço obviamente se expressam muito bem em português na hora de bater um papo; mas coloque-os para escrever e você vê o slogan "Brasil: Pátria Inducadora" em ação:


Claro que esse pensamento não resolvia o meu problema, mas me dava, ao menos, um pouco de calma. Decidi não tomar nenhuma decisão quanto à minha permanência na aula de francês escrito antes de ir pra aula de francês oral. Depois que eu sentisse o drama da coisa e, principalmente, se eu sentisse que a coisa seria tão ou mais puxada que a aula escrita, eu resolveria o que fazer.

Ainda assim, tinha a tal da análise pra fazer, né? Em algum momento do dia seguinte à aula de francês escrito, me dei conta que eu não sabia se havia um formato específico a ser seguido: precisava imprimir? Manda por e-mail? Precisa de cabeçalho? Quais informações preciso colocar, além do dever em si? Pode parecer besteira, mas aprendi na McGill uma série de coisas desse tipo que podem até fazer você perder nota, dependendo do professor. Então, como a professora não disse nada, resolvi escrever um e-mail pra ela.

Tentei ser o mais formal que pude, já que ela não foi um poço de simpatia durante a aula. Perguntei se havia um formato específico para os trabalhos da aula, onde podia obter esse tipo de informação, se precisava imprimir o trabalho ou mandar por e-mail. Ainda acrescentei que talvez as perguntas fossem muito básicas, mas era o meu primeiro trimestre, então, eu estava um tanto perdido.

Ela me respondeu no fim de semana. Ou talvez eu devesse dizer que ela tentou responder. Na verdade, ela só disse o que eu já tinha ouvido na sala: tínhamos que fazer a análise do texto "seguindo o que foi passado na aula" (embora ela não tenha dado nenhum roteiro explícito para isso, o que me fez pensar que só quem já fez análise de texto teria uma ideia do que ela provavelmente queria) e que tudo seria corrigido na aula. Nada sobre formato para os trabalhos gerais da aula, sobre se há um lugar para eu pegar essas informações, se eu devia usar o sistema para enviar o trabalho (afinal, ela falou em correção em sala, mas, até aí, ela poderia querer ver o que a gente tinha feito. Isso sem falar que ela abriu um link no sistema para envio do trabalho), nada. E aí?

Resolvi defecar pra ela. Já que não respondeu de forma clara e objetiva, eu ia fazer como me desse na telha. Mas isso me mostrou que realmente ela não é do tipo professora Helena. 


Se eu resolvesse ficar, tinha a séria impressão de que seria osso.

Entretanto, como falei, adiei a decisão para depois da aula de francês oral. Tive uma semana entre a aula escrita e a oral, e aproveitei para estudar o máximo que pude e me aconselhar com o meu colega quebeco com quem estou fazendo intercâmbio linguístico. Falei da minha impressão em relação à aula e à professora e que estava com receio da aula de francês oral ser mais ou menos do mesmo nível. E falei que não estava pronto pra expor opiniões e pensamentos lá muito complexos em francês.

—Mas você faz isso toda semana aqui comigo!—respondeu ele.

—Mas com um bilhão de erros, né?—retruquei.

Em suma, ele falou pra eu relaxar. Que talvez a aula de francês escrito não tenha sido uma boa primeira impressão, mas que eu iria ganhando confiança ao longo do trimestre e logo estaria tudo bem. Concordei em relação à parte de "ganhar confiança", mas tinha minhas dúvidas quanto ao "tudo bem".

Enfim, chegou a segunda-feira seguinte e lá fui eu pra aula de francês oral. Mesmo ritual: saí mais cedo de casa, peguei três metrôs, cheguei no prédio da Faculté de L'éducation Permanente e fui consultar o quadro com a listagem e classificação. Eu sabia que era impossível eu estar num nível alto dada a tragédia que foi a minha entrevista, então nem estava tão preocupado, no fim. Como tinha ficado no Avançado 1 no francês escrita, com certeza tinha ficado no Intermediário Qualquer Coisa no francês oral. Procurei meu nome na lista. Achei. Nível de francês oral: Avançado 2.


Que @!#$@*&! é essa???? Quem deixa esses avaliadores da Universidade de Montreal beberem antes de entrevistar os alunos??? Não tem ninguém comandando essa bagaça desse universo, não?? Ou é o Darkseid que tá pilotando essa !@$&*#&@????

Quase, quase, QUASE fui falar com a coordenadora do curso, que estava ali perto orientando os perdidos. Pensei em chegar lá e falar "onde é que você deixou seu juízo, minha senhora?", mas é óbvio que eu tinha primeiro que assistir à aula pra poder falar isso de forma tão... direta.

Achei a sala bem rápido e sentei lá no fundão. Ah, queria nem saber! Não estava nem aí de onde eram os outros alunos, se a sala era grande, pequena, oval, se a cor da parede combinava com a lousa ou se tinha tomadas para eu carregar o celular (mas tinha). Estava pensando é que, como aquecimento, era bem possível que a professora pedisse pra gente recitar de cor nossa passagem favorita de Molière ou Victor Hugo e explicar o contexto histórico da joça toda sem esquecer nenhuma liaison. Ah, inferno!

Quando a professora entrou e deu "bonsoir!", eu já quase levantei a mão e disse "protesto!". Mas aí notei que ela, pelo menos, tinha cumprimentado—coisa que a outra, de francês escrito, não tinha se dignado a fazer. Então esperei. E fiz bem! A professora não só se apresentou, perguntou o nome de cada um, fez um joguinho pra tentar adivinhar de onde todo mundo era e explicou como seriam as aulas, como também perguntou se havia pessoas novas no programa, gente que nunca havia estudado na UdeM. Passou uma lista para os novatos colocarem o nome e, em seguida, começou a aula.

De cara, foi bem mais rápido fazer uma pré-avaliação da turma. Afinal, como é uma aula de francês oral, todo mundo tem que falar, néam? Então eu relaxei um pouco mais, pois vi que tem gente de todos os níveis, mais ou menos como no curso de inglês da McGill, que também era avançado. As europeias da sala (duas alemãs, uma finlandesa e uma austríaca) tem um nível muito, muito bom. Algo que eu realmente classificaria como "avançado". Já eu, um espanhol, um iraniano, uma mexicana e um búlgaro temos um nível que eu diria ser intermediário. O restante (umas cinco ou seis pessoas, incluindo um outro brasileiro) tem um nível mais no limite entre básico e intermediário. Claro que isso tudo é muito subjetivo: a minha escala particular, como ficou óbvio, não bate em nada com a da UdeM, e provavelmente não bate com o do Quadro Comum Europeu, e nem com a sua classificação pessoal, caro(a) leitor(a). Mas é só pra dar uma ideia de que, embora a turma seja "Avançado 2", tem gente em todos os níveis de aprendizado.

A professora—francesa, o que acabou com as minhas esperanças de escutar o sotaque quebeco mais assiduamente neste trimestre—foi um anjo de candura. Deixou todo mundo tranquilo em relação ao acompanhamento das aulas, trabalhos e provas, mas disse que o importante é falar. Falar entre nós, falar com ela (professora), participar em sala. Falou pra evitarmos as línguas maternas (e lançou um olharzinho todo especial pra mim e pro outro brasileiro, e também para as alemãs e a austríaca, embora tenha ignorado os de fala hispânica) e finalizou dizendo que não existe aula que ensine ninguém a falar: ela dá as ferramentas pros alunos utilizarem e, em seguida, é com eles.

Resultado: saí de lá beeeeeeeeem mais tranquilo. Não que tenha me parecido fácil; meu problema maior é falar, então qualquer aula já seria um tanto complicada, principalmente por causa da minha ansiedade. Mas, pelo menos, não me senti tão atrás de todo mundo como aconteceu na aula anterior. Senti que realmente consigo fazer o que preciso fazer, por mais que isso exija de mim. Enfim, senti que talvez tenha ficado no nível certo, por mais que discorde do tal "avançado". E, como a professora disse, agora é comigo.

Com base nisso, resolvi que iria dar a cara a tapa e iria continuar na aula de francês escrito. Se eu tivesse que mostrar meu francês uga-buga, paciência. Fora meu orgulho, o dano seria mínimo, já que não posso ser avaliado pelo meu francês oral na aula de francês escrito, certo? Então, pronto.

Isso tudo aconteceu na primeira semana entre as duas aulas, entre 08 e 14 de setembro. Tô só um pouquinho atrasado hehehe. Mas, como as aulas, em si, são só aulas, não preciso ficar relatando tudo o que acontece, claro. Então no próximo post (ou talvez nos próximos) eu vou fazer um apanhado de como foram as coisas até agora. Sim, porque até prova nas duas aulas eu já fiz.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte II

Se você não leu a parte I, clique aqui!

Dia 08 de setembro chegou, e lá fui eu de metrô para a Universidade de Montreal. Eu imaginava que o curso e a experiência seriam bem diferentes da McGill, então só faltava descobrir o quanto. E esse foi o primeiro ponto: pra McGill, eu ia à pé; pra Universidade de Montreal, preciso pegar três metrôs. Levo, em geral, uma meia hora pra chegar lá. Em dias tensos, uns quarenta minutos. Nada de mais, na minha opinião, mas a parte ruim é ter que acrescentar na brincadeira (e no orçamento) mais uma despesa: transporte público.

Quando cheguei ao prédio da universidade, o térreo estava fervilhando de estudantes. Os responsáveis pelo curso colocaram um quadro com a listagem dos alunos por sobrenome e a classificação obtida, juntamente com o número da sala. Tive que esperar um pouquinho porque chegava gente de todo lado e, embora a maioria meio que formasse uma fila imaginária, alguns vinham comendo pelas beiradas e tumultuavam o meio de campo. Quando finalmente me vi cara a cara com a lista, procurei e achei meu nome. Nível de francês escrito: Avançado 1.



Tudo bem, eu tenho consciência de que escrevo melhor do que falo, mas... avançado?? "Bom", pensei, quando o estado de choque começou a ceder, "pelo menos é Avançado 1. Quantos serão? De repente, pode ser que eu consiga ficar bom de verdade na escrita até o fim de todos os avançados".





Fast forward pro futuro: depois da aula, e nos dias que se sucederam, descobri que havia só Avançado 1 e 2. Depois de vários #comassim? na minha cabeça, fiquei sabendo sobre a reestruturação do curso. Os avançados desapareceram, e agora têm nomes high society, tipo, Escrita e estilo. Criaram mais alguns também, específicos para vida universitária e redação científica. Rewind pro primeiro dia de aula. 




Fui atrás da sala, subindo as escadas apinhadas de gente. Quando cheguei no andar certo e achei o corredor, por algum motivo, que ainda não sei explicar, me lembrei do CEUB (Centro de Ensino Unificado de Brasília, uma faculdade particular). Talvez tenha sido a modernidade e claridade do local, que contrasta e muito com, por exemplo, a UnB, onde estudei. A impressão geral foi positiva, exceto pelo tanto de gente zanzando pra lá e pra cá. Isso me fez lembrar mais da escola do que da universidade.

Entrei timidamente na sala, que é bem ampla, com mesas longas dispostas em três filas. Cada mesa comporta de três a cinco alunos. A sala é no estilo auditório: as mesas mais afastadas do quadro são elevadas, de modo que o professor fica "embaixo" e os alunos do fundão ficam "em cima". Não havia um número grande de pessoas na sala quando entrei. Arrumei um lugar mais ou menos no centro, sentei, tentei relaxar (claro que não consegui) e esperei. Tinha chegado quinze minutos antes, então fiquei só mesmo observando os outros alunos chegando.

Juro que, quando a professora chegou, não achei que fosse professora. Primeiro, porque ela não disse nada. Nem "boa noite", nem "oi", nem "vai pro inferno", nada. Segundo, porque ela começou a tirar cabos da mochila e daí achei que era alguma funcionária que tinha ido checar se o projetor estava funcionando ou preparar algum equipamento. Quando ela começou a tirar papéis da mochila e espalhar sobre a mesa, aí caiu a ficha de que era a professora. Achei super estranho. "Vai ver", pensou o inocente, "ela só vai levantar os olhos e cumprimentar quando der a hora".

Mas não. Quando deu a hora, ela foi até o quadro, escreveu o e-mail dela, colocou no quadro o plano de aula e começou a falar sobre provas e trabalhos. Assim, sem cumprimentar, sem perguntar se todo mundo estava ali pra aula de francês escrito, se tinha algum novato na turma, coisas que até eu, quando dei aula de inglês na Wizard aos 19 anos, fazia. O jeito de falar da professora era semi-automático, característico de alguém que (1) já leciona a mesma coisa há muito tempo ou (2) descobriu, em algum momento, que detesta ensinar, mas não sabe o que fazer pra sair dali, então leva com a barriga. Como primeira impressão das aulas, foi frustrante.

Conforme ela seguiu com a aula, alguns alunos se animaram a participar. Com horror e lágrimas, constatei que o nível de francês oral da galera que abriu a boca era infinitamente superior ao meu. Gotas de suor de desenho japonês brotavam aos montes, principalmente quando a professora começou a pedir sugestões aos alunos. "Odin", pensei, "se ela virar pra mim e me mandar abrir a boca, todo mundo vai achar que está diante do Capitão Caverna".


A aula estava sendo sobre análise de texto (!), como identificar certos elementos no parágrafo introdutório, como um texto argumentativo é desenvolvido e por aí vai. Metade do meu cérebro estava prestando atenção e mandando minha mão fazer anotações como se a vida dependesse disso, enquanto a outra metade ficava lançando perguntas do tipo "quem mandou se meter a ir pra faculdade tão cedo?", "por que você não fez um cursinho básico de revisão antes de se meter à besta?" e coisas do tipo, coisas que nem eu, nem a outra metade do cérebro tínhamos condições de responder naquele momento. Ao longo da aula, ficou claro pra mim que o jeito da professora era o tipo (1) acima: ela já dá aquela aula há um bom tempo e passa o conteúdo aos alunos como se eles já soubessem do que se trata. Quando a aula acabou, sem que eu tivesse aberto a boca nem pra pedir pra ir ao banheiro, eu estava um turbilhão de sensações: a professora dominava o conteúdo (ponto positivo), mas era extremamente antipática (ponto negativo) e passava o conteúdo como se a gente tivesse tratado sobre o assunto ontem (ponto negativo duplo). A turma parecia bastante diversificada (ponto positivo), mas todo mundo que abriu a boca tinha francês nível Juliette Binoche (ponto negativo, dado o meu transtorno de ansiedade)—inclusive, uma menina com traços asiáticos fala francês com sotaque quebeco im-pe-cá-vel—, embora eu tivesse esperança que os outros fossem mais uga-buga como eu (ponto meio positivo). No final, tenso pelo jeito da professora e pelo medo de ter que abrir a boca pra falar, achei que ia dar pra relaxar. Mas aí ela passou o dever de casa: analisar dois textos, um do Voltaire (!!) e outro do La Bruyère (!!!) para a aula seguinte. Ah, e dois alunos seriam escolhidos para apresentar a análise.

Em algum lugar, eu sabia que Cersei Lannister estava sorrindo e tomando vinho, esperando eu ser decapitado.



Juro como voltei pra casa bastante preocupado e—por que não?— frustrado. Embora uma aula com aquele nível de exigência sem dúvida pudesse trazer muita coisa boa em termos de conhecimento, eu fiquei me perguntando se a minha redaçãozinha no dia do teste de nivelamento tinha sido tão boa assim pra o pessoal da Universidade de Montreal achar que eu tenho condições de analisar textos de Voltaire e fazer explanações orais sobre o assunto. Parte de mim queria procurar o formulário de desistência do curso assim que saí da sala, mas outra parte ficava me oferecendo água com açúcar e dizendo "calma, vai passar. Foi só o choque inicial, deixa pra tomar qualquer decisão depois". Achei essa parte de mim mais razoável, então tomei o metrô de volta e tentei relaxar. Mas foi difícil.

No caminho, lembrei de ter lido várias vezes sobre o nível de exigência das faculdades daqui comparadas às do Brasil. "Deve ser isso", pensei, "taí a tal exigência", embora eu também pensasse que o certificado, apesar de tudo, ainda é um curso de idioma. Sem ainda entender direito o que tinha acontecido, fiz a única coisa que achei sensata: revisei as minhas notas e fui começar a procurar material na Internet sobre o que tínhamos visto em sala. Se eu fosse continuar no curso, era bom preparar a minha possível apresentação de análise. Aff...

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte I

Como mencionei nas postagens anteriores, meu curso na Universidade de Montreal já começou. Estou fazendo o Certificat en Français Langue Seconde (que, a partir da sessão de inverno, ganhará um sobrenome: agora vai ser Certificat en Français Langue Seconde: Culture, Études et Travail). Terei que cumprir 30 créditos, atingir certos níveis e ter uma nota geral média pré-determinada para pode clamar o diploma no final.

Ou seja: agora é que o negócio ficou sério!

Diferente do curso de inglês da McGill (que eu fiz basicamente pra destravar a língua), o curso de francês é mais que necessário pra mim. Meu francês ainda é muito básico, na minha opinião, e, embora eu consiga me virar muito bem aqui usando esse basicão, não vai muito além disso: me virar. Eu sei que tem muita gente pra quem o importante é se comunicar, e eu concordo que, na maior parte dos casos, é isso mesmo. Se você for para o hospital porque está sentindo dor na lombar, o importante é dizer que dói, onde dói e o quanto dói. Se o complément object direct vai vir antes do primeiro verbo ou se ele vai alterar a grafia do segundo não tem a menor relevância quando você está tentando sentar como a véia d'A Praça é Nossa.  




Dito isso, eu, particularmente, acho que é importante falar certo. Ou, pelo menos, tentar o máximo possível. Acho que terei mais dificuldade para seguir determinadas profissões e assumir determinados cargos se o idioma não estiver bom. Querendo ou não, as pessoas julgam. Juntamente com a aparência física e a indumentária, acredito que o modo de falar e uso da linguagem estão no top 5 das coisas avaliadas inconscientemente por quem encontro por aí. E isso contribui para um conceito e avaliação prévios do que pode ser que você seja. Mas, se isso ainda não fosse razão pra mim, tem o simples fato de que eu quero realmente dominar o francês.

Só que, pra isso, vou ter que ralar. Acabou a moleza.

Teste de Nivelamento

Como em qualquer custo, tive que me submeter a um teste de nivelamento. Ele foi aplicado no final de agosto. Tive que ir em duas noites diferentes pra fazê-lo, já que, seguindo o que minha conselheira falou, optei por pegar uma disciplina de francês oral e outra de francês escrito, e não dá pra fazer mais de um teste por noite. A Faculté de l'Éducation Permanente, que é quem coordena o curso do certificado dentro da Universidade de Montreal, disponibiliza três noites para os testes. Então, se você não pode ir no primeiro dia, por exemplo, ainda tem duas chances.

Não tive que me inscrever ou coisa do tipo. No dia (ou melhor, na noite), simplesmente cheguei lá antes da hora e procurei a sala onde o teste seria aplicado. Eu também podia escolher entre o teste oral e o escrito. Como falar pra mim é sempre o pior em qualquer idioma (ansiedade, traumas de infância, etc, etc, etc), resolvi fazer logo esse. Na entrada da sala, passei por uma rápida identificação por documento (eu, todo feliz, mostrei a minha carteira da Assurance Maladie. Como é bom parecer cidadão!), me sentei e aguardei.

Uns quinze minutos depois do horário marcado, a coordenadora do curso foi para a frente da sala e passou algumas orientações. Deixou claro que não ficaríamos sabendo o resultado no dia, explicou algumas regras da universidade e pediu para que preenchêssemos um pequeno formulário e também indicássemos o nível de francês que acreditávamos ter naquele momento. Havia seis opções, a primeira sendo o nível mais baixo ("sei falar 'Bonjour' ou nem isso") e a sexta, o mais alto ("posso explicar a Teoria da Relatividade de um só fôlego com sotaque de Marselha"). Por muito pouco não marquei a segunda opção, que era algo do tipo "sei que existem COD e COI, mas não sei pra que servem", mas achei que estava pegando muito pesado comigo mesmo (o que acontece só de vez em sempre). Então marquei a opção três e rezei para que isso realmente não tivesse influência no teste.

Terminada essa parte, formamos uma fila para receber um número de sala, sala essa na qual faríamos a prova que era "só" uma entrevista com um avaliador. Depois que peguei minha ficha com o número, fui procurar a sala e, claro, já havia uma outra fila enorme lá. Pelo que entendi, dividiram as pessoas em oito salas, e os avaliadores tinham níveis também: alguns estavam mais acostumados a trabalhar com alunos iniciantes, outros com alunos intermediários e outros ainda com alunos avançados. Calculei que a minha sala teria, então, um avaliador "intermediário", já que eu tinha marcado a opção correspondente. Se acertei ou não no meu cálculo, provavelmente nunca saberei.

Esperei, esperei e esperei. Quando finalmente chegou minha vez, a entrevistadora pediu para eu ajudá-la a passar umas cadeiras para pessoas que ainda estavam aguardando do lado de fora e já começou a perguntar meu nome, de onde eu vinha e o que eu fazia. Fui respondendo enquanto passava as cadeiras e, entre fechar a porta e me sentar, terminei de responder as perguntas de que lembrava. Surpreendentemente, a frase seguinte dela foi:

—Mas você tem uma pronúncia ótima! Você estudou na Aliança Francesa?

Fiquei em choque e travei. Daí lembrei de agradecer. E só então expliquei que havia estudado lá, sim, mas que havia pego a base numa outra escola, chamada IFESP, em São Paulo. Ela parabenizou de novo e veio com outras perguntas: há quanto tempo eu estava em Montreal, quais eram os meus planos, se eu queria fazer um curso superior na Universidade de Montreal... pediu pra eu comparar Brasília e Montreal, pra eu relatar como foi a minha chegada aqui, o que fiz no primeiro diz, como me senti, o que espero do curso. Enfim, as perguntas eram todas feitas de forma casual, mas, claro, visando ver até onde eu conseguia ir. Eu acho que comecei até bem, mas acho que dei muita importância pro elogio que ela fez no início e acabei me desconcentrando. Daí todas as minhas falhas e inseguranças em relação ao idioma apareceram. Tanto que, após o elogio, ela olhava pra mim com cara e sorriso de quem estava se encontrando com o Dalai Lama; mas, no final, a cara dela era de alguém que tinha visto alguma cena com o cigano Igor.


Ela terminou dizendo que já tinha tudo de que precisava e que eu saberia o resultado no primeiro dia de aulas. Falou pra eu chegar mais cedo porque pode ser meio complicado encontrar a sala, principalmente pra quem está estudando na universidade pela primeira vez. Agradeci e fui embora, com a sensação de que tinha tomado 7 a 1 da Alemanha.

No caminho, pensei melhor e achei que tinha sido uma coisa boa: melhor ficar num nível mais baixo e poder começar o meu percurso revisando conceitos básicos e ir incorporando-os gradualmente ao meu dia a dia do que ser colocado em um nível avançado e depois ficar uga-bugando dentro da sala. Esse pensamento me deixou em paz.

No dia (ou noite) seguinte, lá tomei o caminho da roça de novo para a universidade, desta vez para fazer o teste escrito. Nesse dia, mudaram de última hora o local do teste e lá fui eu procurar um daqueles pavilhões perdidos no campus. Levei uns 10 ou 15 minutos para achar o pavilhão e a sala, mas depois foi tranquilo. Não houve identificação no início: cada um que chegava era solicitado a sentar em uma das mesas que tinham papéis. Uma meia hora depois do horário marcado (provavelmente por causa da mudança de local), a responsável pela prova explicou as regras e o teste, de forma bem parecida com o dia anterior. Basicamente, era só uma redação, cujo tema estaria no alto da página com um pequeno parágrafo para nos dar uma direção. Eu achei que haveria uma parte gramatical mais específica, mas não. Enfim, a redação era sobre tecnologia e, pra mim, foi bem mais tranquilo. Sem a trava de ter que falar, escrevi de forma tão fluida que até me espantei. No final, quando entreguei o teste, fiz a identificação e, de novo, fui informado de que o resultado estaria disponível no primeiro dia de aulas, num listão que colariam na parede.

E foi isso, pelo menos de início. Dali, eu teria que esperar quase duas semanas até o início das aulas. A de francês escrito começaria no dia 08 de setembro e a de francês oral, no dia 14. Estava curioso a respeito do resultado do teste, claro, mas, como não tinha o que fazer, só me restava curtir as últimas semanas de "férias".

No próximo post, falo da aula de francês escrito.

À bientôt!

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