quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte IV

E eis que meu primeiro trimestre cursando o Certificado de Francês da Universidade de Montreal vai chegando ao fim... e que longo trimestre curto foi! Ao mesmo tempo que as aulas se sucederam com uma rapidez assustadora pra mim, tinha horas que parecia que não ia acabar nunca, principalmente no que diz respeito à aula de francês escrito, tudo isso patrocinado pela minha ansiedade, claro. Afff!


Mas vamos por partes: a minha aula de francês oral já acabou. Há uma semana, para ser preciso. Como ela tem uma carga horária semanal maior, começou um pouco depois e terminou um tanto antes da de francês escrito, que só acaba daqui a três semanas. Posso dizer que fiquei bem satisfeito com a aula: como a professora deixou claro lá no início, o objetivo era falar. E isso nós fizemos! Todas as segundas-feiras, tínhamos que ler um artigo tirado da imprensa e apresentá-lo para um grupinho de alunos da turma. Além disso, a professora sempre trazia pontos gramaticais que costumam criar problemas para quem está aprendendo francês (passado do subjuntivo, condicional, etc) e dava exercícios (orais e escritos) pra gente. O uso dos pronomes (le, la, y, en...) teve um lugar cativo no coração de todos (só que não), já que a maioria tenta evitar usá-los. Também tivemos a oportunidade de assistir alguns curtas e animações em francês do Quebec, com direito a lista de expressões, diferenças entre palavras do francês daqui e de la France, entre várias outras atividades.

A turma não era exatamente empolgante. Diferentemente do que aconteceu na McGill, não houve em nenhum momento uma sensação de união, por assim dizer. Por um lado, talvez essa união esteja mais em como eu percebia as pessoas e me relacionava com elas lá na McGill do que na turma em si. De qualquer forma, eu chegava na turma da McGill e me sentia em casa; na turma da UdeM, isso não acontecia. Primeiro, porque tínhamos aulas só duas vezes por semana. Ver as pessoas todos os dias ajuda a criar intimidade ou companheirismo mais rápido, na minha opinião; então, a gente já saiu perdendo nesse quesito. Segundo, a União Europeia da sala (mais especificamente, as alemãs, a finlandesa e a austríaca) formaram um núcleo um tanto antipático. Se isolaram num lado da sala e tratavam os outros alunos com uma cordialidade fria que fez com que todo o restante da turma entendesse que elas estavam muito bem sem nós, obrigado. As únicas interações delas com o resto dos mortais era quando éramos separados em grupo para as atividades. Além disso, elas tinham o hábito extremamente desagradável de rir abertamente cada vez que alguém cometia um erro. O alvo preferido delas era um iraniano que realmente tinha imensa dificuldade pra se expressar. Bullying dos grandes, mas ele só olhava pra elas com desprezo e voltava a tentar acertar a frase. Triste da parte delas, que têm um nível alto de habilidade com o idioma. Se eu fosse religioso, faria uma prece por elas; como só o sou às terças e quintas à noite, espero que um cachorro faça xixi nos pés delas.



Outro aspecto que dificultou o entrosamento da turma (e talvez tenha se originado desse primeiro ponto aí em cima) é que os outros alunos meio que se retraíram e estabeleceram uma parceria/cumplicidade com quem estava imediatamente próximo — e só. Ninguém pareceu muito à vontade para ir sentar perto de outras pessoas que não aquelas que estavam na sua vizinhança, e nem na hora do intervalo era comum ver as pessoas interagindo. Cada um ficava com seu celular e pronto. Curiosamente, fora as alemãs e a austríaca, ninguém ficou amiguinho de alunos que tinham o mesmo idioma nativo. Talvez, de forma consciente ou não, todos tenham achado melhor evitar a possibilidade de deixar de falar francês pra falar o idioma da terra natal. O outro brasileiro da turma fugiu de mim logo na terceira aula. Nem precisava, porque eu não teria problema algum em falar só francês com ele. Mas ouvi ele dizendo pra uma aluna certo dia que ele preferia não falar com outros brasileiros porque ele achava esquisito falar outra língua que não o português com um conterrâneo. Então tá. Aparentemente, ele não foi o único a pensar assim: os iranianos só se cumprimentavam, as sul-americanas nem isso.




Acabou que fiz amizade (ou "coleguismo de sala de aula") com um espanhol, que até tentou entrar no grupinho da União Europeia (geograficamente, ele teria direito), mas não conseguiu. Talvez porque seria o único homem no grupo, talvez porque o francês dele ainda não estivesse no nível exigido para se tornar membro, ou talvez ainda porque a Espanha é economicamente mais fraca que a Alemanha, a Áustria e a Finlândia. Vai saber. O fato é que não deram muita bola pra ele (mas evitavam rir abertamente dos erros dele. Solidariedade seletiva), e ele achou que talvez tivesse mais sorte comigo. Acho que foi bom para nós dois, no fim. Como tínhamos um nível semelhante, nos sentíamos perfeitamente à vontade um com o outro para conversar e fazer as atividades durante a aula. E, como fazíamos metade do trajeto de metrô juntos, tínhamos mais oportunidade para praticar. No fim, mesmo que não tenhamos forjado nenhuma amizade verdadeira pra atravessar gerações, foi bom poder contar com alguém durante as aulas e ter um parceiro para os trabalhos e provas (além de poder dar umas risadas juntos de bobagens aleatórias) foi legal.

Ah, as provas! O que faríamos sem elas? Bom, muita coisa, eu poderia fazer uma lista, mas não importa: elas existem e a gente tem que se submeter, no fim das contas. Tivemos três travaux pratiques (que eles chamam de TP), um intra (uma prova de meio do trimestre) e o examen final. Apesar da diferença nos nomes e também no peso das notas, foram todos bastante similares: tivemos que discutir o assunto de um artigo ou vídeo que tínhamos assistido (em alguns casos, de livre escolha; em outros, indicados pela professora) antes da aula ou no próprio momento da prova, às vezes gravando a conversa em gravadores digitais, às vezes na frente da professora. Minha ansiedade não ajudava em nada quando tinha que apresentar para ou conversar diretamente com a professora, basicamente porque fico sempre constrangido na hora de falar com nativos; em compensação, ficava bem mais tranquilo quando eu só tinha que conversar com o meu colega espanhol.

As notas me surpreenderam bastante! Nivelando pela fluência que a União Europeia da turma demonstrava, eu claramente estava abaixo e, por isso mesmo, não esperava muita coisa. Não estava esperando notas baixíssimas, mas achava que ficaria na média. Quando a professora entregava as notas, porém, eu sempre me assustava, porque eram notas altas. Acabou que, embora eu ainda não tenha o resultado final, é bem possível que eu fique com A ou A- (com uma possibilidade de cair pra B+, se o meu desempenho na última prova tiver sido desastroso). Agora, uma coisa é a nota, e outra é como eu me sinto em relação à minha habilidade com o idioma. Eu acho que houve progresso, sim, embora a minha ansiedade dificulte fazer uma avaliação mais precisa. Mas eu continuo não achando que sou avançado coisa nenhuma. Eu consigo me expressar em boa parte das situações, a professora falou que meu sotaque não é um problema, mas eu sinto que me falta vocabulário, eu ainda erro tempos verbais (na hora de fazer o discurso indireto então...), e quase nunca tenho certeza de qual preposição usar com esse ou aquele verbo. Então, por mais que, para fins de histórico escolar seja ótimo ficar com um A ou A-, eu com certeza me daria uma nota mais baixa. Pra mim, aluno avançado é aquele que já domina as estruturas do idioma e está polindo o discurso, ou seja, incorporando vocabulário mais específico e/ou de linguagem mais culta. Mas deve ser por isso que não tenho escola de idiomas (e por isso que tanta gente por aí tem "avançado" no currículo).

No fim, embora as aulas de francês oral tenham sido proveitosas, vou sentir mais falta da oportunidade de praticar francês duas vezes por semana do que da turma ou das atividades em si. Mas não me arrependo de forma alguma, e fiquei contente por ter tido a chance de fazê-la. Agora é esperar o trimestre de inverno e torcer para que a fluência um dia chegue!

À bentôt!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Portes Ouvertes (UdeM)

Como mencionei no post passado, além do evento da McGill eu fui também ao da Université de Montréal. Ele aconteceu no dia 8 de novembro, também das 10 hs às 16 hs, e a maior parte das "atrações" ficou concentrada justamente no prédio da Faculté de l'Éducation Permanente em que tenho minhas aulas de francês, então não tive como me perder.




Mas essa segurança fez com que eu me atrasasse na hora de sair de casa e perdesse a primeira palestra, que era sobre o processo de admissão da universidade. Nada totalmente trágico,  já que a palestra seria repetida mais tarde, mas eu queria estar de posse das informações mais básicas para depois poder fazer perguntas específicas nos lugares adequados. Tudo bem,  né, fazer o quê?

A UdeM usou três andares do prédio para o evento. Além das palestras, havia diversos quiosques (ou banquinhas) de diversos cursos e serviços da universidade. O térreo ficou mais com quiosques de informações sobre serviços (tipos de admissão, bolsa, benefícios de ser aluno da UdeM, etc), enquanto os andares superiores ficaram com os cursos de graduação, alguns de pós-graduação e alguns de serviços mais específicos. Reservaram uma sala do último andar para que os candidatos expusessem suas dúvidas a um funcionário do serviço de admissão e recebessem reposta imediata. Se o caso fosse muito complexo, o candidato ainda poderia ser encaminhado para um encontro de 10 a 15 minutos com um conselheiro de admissão, que analisaria o caso e indicaria o melhor caminho. Tudo bem organizado e bem distribuído, apesar de que, em alguns momentos certos lugares ficaram bem muvucados e parecia mais pré-ensaio da Unidos do Cotovelo.

A primeira palestra da qual participei foi sobre financiamento de estudos. Há bolsas de tudo quanto é tipo, parciais e integrais, dadas pela universidade ou pelo governo, baseadas em renda ou em mérito, blábláblá. É bastante coisa e eu mesmo só conhecia algumas opções. Aliás, continuo só conhecendo algumas porque a palestra, obviamente, deu apenas uma visão geral sobre as bolsas e nos passou os sites e links para ler mais a respeito (coisa que ainda não parei pra fazer). Mas de cara, é bem legal essa possibilidade de poder contar com tanto incentivo pra estudar.

Em seguida, assisti a palestra sobre a admissão. Como no caso da McGill, as informações eram destinadas mais aos candidatos quebequenses recém-saídos dos CÉGEPs da vida e aos alunos estrangeiros, então não apresentou grandes novidades em relação ao que eu já sabia. Aliás, a Universidade de Montreal tem um site em português com informações sobre admissão, caso você aí que está lendo essas linhas tenha interesse. É só clicar aqui.



A terceira e última palestra do dia foi sobre o que fazer após um bacharelado em ciências sociais. Eu resolvi assistir porque pensei que seria uma espécie de palestra de auto-ajuda pra quem não é chegado em engenharia, TI, química, enfermagem e outros cursos que têm emprego quase certo. Ou seja, pensei que seria uma palestra tipo "olha, não pense que você vai morrer de fome se estudar Ciência Política, veja o que dá pra fazer!", mas não foi bem isso. Falaram sobre mestrado e sobre como um bacharelado na área pode ser um passo inicial até para uma mudança de área. Assim, o objetivo deles não era o que eu imaginava, claro, mas ainda assim não desceu muito bem a ideia de fazer um bacharelado em ciências sociais "só" para fazer um mestrado e/ou mudar de área depois.

Entre uma palestra e outra, fiz o que eu queria mesmo fazer: passeei pelos vários estandes de cursos da universidade. Foi algo de que senti falta na McGill e acho que eles fariam muito bem em incorporar usando o modelo da UdeM. Cada quiosque tinha professores e alunos dispostos a responder suas dúvidas e explicar o funcionamento do curso, além de material impresso todo pensado pra te convencer. Passei nos estandes de História, de Línguas Modernas, de Literatura, Ciência Política, Estudos Orientais, Estudos Alemães e o do curso que mais me chamou atenção, o de Estudos Internacionais. Eu queria ter batido mais papo com os alunos, mas imagina se eu fico com vergonha de falar francês no meio dos nativos, né? Ainda mais que era bem comum eu chegar pra pedir informações e chegarem mais dois ou três candidatos pra ficar escutando. Então, só bati um papo mais longo e mais interessante mesmo com um aluno de História e outro que estava promovendo o novíssimo bacharelado de Línguas Modernas.




Depois de tudo isso, ainda fui tirar minhas dúvidas na salinha de admissão que mencionei antes. Era um tanto mais fast-food do que tinha parecido a princípio: você entrava numa fila e, ao final dela, haviam improvisado guichês de atendimento. Então foi quase como ir ao banco ou pedir um lanche no McDonald's. A menina que me atendeu respondeu todas as minhas dúvidas, mas ela tinha uma certa pressa em me cortar antes que eu concluísse a pergunta, o que fez com que eu tivesse que repetir porque nem sempre ela acertava o que eu queria saber de fato. Enfim, primeiro eu quis saber se poderia ser admitido mesmo já estando fazendo o certificado de francês e ela disse que sim, mas que eu talvez tivesse que priorizar um em detrimento do outro caso fosse aceito. Perguntei também se algo no regulamento da universidade me obrigaria a fazer menos de 90 créditos para me formar (e expliquei a história do que acontece na McGill para quem quer fazer um segundo bacharelado) e ela informou que não, que terei que cumprir o total de créditos exigidos pelo curso e para a obtenção de um bacharelado. Também quis saber se eles olhariam o meu histórico do ensino médio e o da minha primeira faculdade ou se seria só a da faculdade, e ela disse que só a da faculdade (com cálculo de GPA), a não ser que alguma situação especial faça com que um exame das notas do ensino médio seja necessário. Por fim, perguntei sobre o teste de francês e quando eu poderia começar a esperar uma decisão e ela disse que é difícil apontar uma data, mas que antes de março era pouco provável. Quanto ao teste, ela pediu pra eu ir falar com um cara num outro estande, e ele me informou que eu teria até julho do ano que vem pra apresentar o resultado do teste.

Saí de lá bem satisfeito (e com dor de cabeça) com o evento. De forma geral, eles realmente te dão toda a informação de base e, nos casos mais específicos, indicam onde você pode conseguir mais detalhes. Eu, agora, me encontro naquele estágio em que preciso analisar várias coisas, como por exemplo: 1) volto mesmo pros bancos da universidade e postergo o início da vida profissional aqui (caso seja aceito, claro)?; 2) fazer uma dívida com o governo em se tratando de cursos que eu não sei onde vão dar é uma boa?; 3) faço o pedido de admissão pra mais de uma universidade, pra cursos diferentes (=atirando pra todo lado) e aceito o que vier ou será que dá pra tentar não só restringir os cursos, mas também as universidades?; 4) Faço o teste de francês só depois de receber a resposta das universidades (caso seja aceito em alguma francófono, claro)?

E uma última que não tem como deixar de existir: tenho as caras de fazer uma nova faculdade en français, se tiver que fazer?

À bientôt!

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Open House (McGill)

Voltar ou não para a universidade é uma questão para a qual ainda não tenho resposta. Às vezes, acho que é meio sem noção querer fazer outra faculdade sem ter muita ideia do que quero realmente pra vida; outras vezes, penso que sem noção é ficar achando que serei atingido por um raio divino que vai me indicar o caminho "certo" e que, portanto, é melhor tentar do que ficar parado ou trabalhar com qualquer coisa. Essas duas maneiras de ver a questão se alternam quase o tempo todo, e elas se revezam no pódio de campeão do dia da minha mente dependendo de coisas tão banais quanto meu humor no dia ou um vídeo que alguém me envia.

Mas, enfim, ainda sou da opinião de que, se você não precisa tomar uma decisão às pressas, é bom se informar. E foi com essa intenção que participei, nas últimas semanas, de dois eventos em duas universidades aqui de Montreal cuja intenção é convencer os futuros alunos a escolher a universidade e mesmo o curso para seguir com os estudos. Esses eventos são bem comuns por aqui. Vi vários anúncios de universidades, colleges, CÉGEPs e outras escolas anunciando o seu próprio evento de "portas abertas", um dia em que você pode conhecer as instalações, assistir palestras, falar com alunos e professores, e tirar dúvidas sobre que tenha sobre admissão.

Nota: a ideia era falar sobre os dois eventos num post só, mas, pra variar, escrevi mais que a Wikipédia. Então, vou falar sobre o evento da McGill aqui e deixo para falar sobre o da Universidade de Montreal no próximo.

Open House - McGill University

O primeiro evento ao qual fui foi o da McGill. Ele aconteceu no dia 25 de outubro, das 10 às 16. Cheguei um pouquinho depois das 10, me identifiquei na área de recepção e ganhei sacolinha, mapa do campus, lista das palestras e outras indicações.

De lá, fui logo assistir a primeira palestra que me interessava. Era sobre admissão, mas acabou não me sendo de grande valia. Como era de se esperar, toda a informação foi voltada para estudantes vindos do sistema de educação canadense e dos Estados Unidos, com um pouco para alunos internacionais. Na verdade, havia uma palestra toda dedicada aos alunos internacionais, mas eu sou residente permanente, já tenho faculdade, então... fico meio no limbo nessa hora. E, se ainda não deu pra notar pelas postagens, eu sou tímido, então imagina se eu ia levantar a mão no fim pra fazer perguntas tipo: "Oi, sou um tanto velho, não sei exatamente qual curso fazer e nem quais partes do processo de admissão se encaixam pra mim, então será que você poderia me ajudar?". Preferi deixar pra encurralar alguém depois.

Campus da McGill


De lá, fui a um painel bem legal que era uma espécie de mesa redonda. Havia um estudante de pós-graduação (que fez a graduação também na McGill), dois estudantes atualmente na graduação, uma que já é formada pela McGill e está atuando no mercado de trabalho, e uma mãe de aluno. O painel começou com a mediadora fazendo perguntas do tipo "o que mais você gosta/gostou na McGill?", "qual foi a maior dificuldade durante os estudos?" e por aí vai, e era interessante ver as diferentes histórias (mas claro, sempre com o lado positivo da vida na McGill). Em seguida, as pessoas no auditório puderam fazer perguntas, e uma em especial foi interessante: uma mãe de candidato, americana, perguntou sobre a questão de consumo de álcool na universidade. Como nos EUA a idade mínima legal para beber é 21 anos, ela tinha receio do impacto que o álcool mais cedo (no Quebec, é liberado a partir dos 18 anos) poderia ter na vida pessoal e acadêmica do filho. Quem respondeu foi uma das alunas da graduação, que é americana, e ela disse acredita que o consumo de álcool aqui seja bem menos badalada que nos EUA. Lá, como a idade legal é 21, todo adolescente fica louco de vontade de "infringir a lei", beber escondido pra se sentir "livre" e "desafiando o sistema". Aqui, como a cultura é diferente, e como a idade legal é mais baixa, beber acaba não sendo um grande tcham na maioria dos casos. Enquanto nos EUA os universitários se acham o máximo tomando porres com 20 anos, consumir álcool aqui perde o glamour (se é que tem) mais cedo. Obviamente, o uso ou abuso vai de cada um, e todo mundo sabe que os adolescentes começam a beber bem antes da idade legal nos dois países.

Em seguida, participei de uma palestra de admissão da faculdade de Direito. Em um passado distante, eu pensei seriamente em estudar Direito. Até cheguei a fazer vestibular pra UPFR no Brasil. Mas foi uma coisa de momento que passou logo. Ainda assim, já tinha ouvido falar que o curso de Direito da McGill é puxado, e que aqui você precisa ter graduação pra ir estudar Direito. Enfim, fui lá pra descobrir como era a coisa. A palestrante, embora toda vestida de advogada bem-sucedida, aparentemente não tem muito o hábito de falar em público ou, no mínimo, não conhecia exatamente o processo de admissão. Foi uma palestra um tanto confusa, e ficou ainda pior porque ela falava ora em francês, ora em inglês. Enfim, o que tirei de lá é que (1) sim, precisa-se realmente ter uma graduação para só então ir estudar Direito; (2) a McGill é uma das poucas universidades (se não a única pras bandas de cá) que ensina o Direito Civil (utilizado no Quebec) e a Common Law (usada no restante do Canadá); (3) por isso mesmo, conhecimento das duas línguas é essencial, mesmo que o candidato não seja totalmente fluente, já que há disciplinas em inglês e disciplinas em francês; (4) o GPA (espécie de média das notas da faculdade) mínimo para ser considerado pelo comitê de admissão é 3.8. De uma escala de 4.0!!! Gente, isso significa que você precisa ter uma graduação praticamente impecável pra ser CONSIDERADO!!! Além disso, você ainda vai ser comparado a todos os outros crânios que tem GPA de 3.8 ou mais (acredite, eles existem!) e pode perder o lugar porque alguém fez um trabalho voluntário em algo relacionado a Direitos Humanos, por exemplo. Deve ser osso!! Eu já tinha ouvido dizer que se você tem GPA abaixo de 3.5 é difícil entrar em qualquer curso da McGill, mas essa do Direito me deu toda uma nova dimensão da coisa.


Campus da McGill


A última palestra pra mim foi da Faculdade de Artes e Ciências. Estava bem animado porque eu (in)felizmente eu me interesso por cursos que têm uma grande chance de me levar a uma vida de pobreza: História, Literatura, Cultura e Civilização e por aí vai. Então sentei mais próximo ao palco e fui até criando coragem para fazer perguntas. Mas tomei um balde de água fria: a palestra durou 15 minutos, e a dona que nos agraciou com sua voz usou esse tempo para, basicamente, repetir informações do site. Ok, tá bom, eu entendo que muita coisa pode ser encontrada no site, mas se você vai dar uma palestra pra apresentar a sua faculdade, custa fazer um trabalhinho mais elaborado? As outras palestras duraram entre 40 e 60 minutos, mais o tempo pra perguntas. Por que a da Faculdade de Artes, que tem um zilhão de cursos, tinha que durar 15? Todo mundo ficou surpreso quando a palestrante perguntou se alguém tinha dúvidas e, diante do silêncio, encerrou a sessão. Só que, óbvio, TODO MUNDO tinha dúvidas, então formaram uma fila pra ir perguntar sobre tudo que ela não havia dito.

Campus da McGill


Saí frustrado, mas ainda tinha uma missão: encurralar alguém pra bombardear com as minhas questões. E achei! Simpática, a mocinha ouviu toda a minha história e, em resumo, me disse o seguinte:

1) O processo de admissão é o mesmo que todo estudante canadense/quebequense segue. No meu caso, vão me avaliar pelo meu GPA da UnB em vez do segundo grau, mas, fora isso, o trâmite é o mesmo;

2) Como já tenho um bacharelado, se eu for admitido eles vão me considerar como Second Degree, ou seja, alguém que vai fazer um segundo bacharelado. Nesse caso, eu estarei limitado a 60 créditos (contra os 90-120 que um estudante que vai fazer o primeiro bacharelado tem que fazer). Isso é bom por um lado, pois significa que eu poderia ter um novo diploma universitário em dois anos. Porém, o lado ruim é que limita bastante o que eu poderia explorar na faculdade (sei que isso soa bem nerd, mas, se você acompanha o blogue há algum tempo, já deve ter se acostumado);


3) Não terei necessariamente que ficar só com as vagas que sobrarem. Como expliquei à moça simpática, a parte sobre Second Degree no site da McGill está junto com a parte de Transfer Students, o que faz parecer que ambos seguem as mesmas regras, e lá diz que estudantes pedindo transferência de uma outra faculdade só são aceitos se sobrarem vagas. Mas, segundo a moça simpática me explicou, se eu tiver um GPA competitivo, posso receber uma oferta de admissão logo no início da temporada, que começa em dezembro. Ainda assim, ela lembrou que o processo é bastante competitivo, e que eu não deveria esperar uma resposta antes de março ou abril do ano que vem.

Ela não soube me confirmar sobre a história do GPA mínimo de 3.5 pra ser considerado. Só disse que isso varia de um ano para outro e repetiu que o processo de admissão da McGill é bem competitivo. Senti que eu precisaria ser um Cavaleiro Jedi pra conseguir entrar, mesmo tendo GPA maior que o suposto mínimo. Mas, enfim, por enquanto, é só uma ideia, não é mesmo? 

*Suspira*

À bientôt!


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Fim do horario de verão e o outono

No último domingo, acabou por aqui o "horário de verão". Isso, combinado com o fato de que o horário de verão brasileiro começou há umas duas semanas, faz com que agora estejamos com uma diferença de fuso horário de três horas. Isso não só cria um probleminha extra para que eu me comunique com minha família no Brasil como exige que eu seja atento para outras tarefas.

Por exemplo, fui transferir moedas de ouro do meu banco brasileiro pra cá e quase esmurrei a tela do computador. Colocava valor, senha, tudo certinho, e o raio do site dava erro. Demorei um tempinho até me dar conta que o problema não era a minha senha ou a conexão: é que, no Brasil, já era mais de quatro da tarde, enquanto por aqui eu mal tinha acabado de almoçar. Falha nossa.

E, como previsto, a minha estação favorita até agora é o outono! Eu já tinha tido uma palhinha em 2013, quando visitei Montreal, mas agora deu pra ver tudo acontecendo ao vivo. A mudança das cores é realmente fantástica! Vários dias eu subi o Mont Royal e corri em meio a folhas caindo, quase como uma propaganda de xampu, pasta de dente ou outras coisas que não tem nada a ver com natureza, mas que os publicitários associam mesmo assim. Dá uma olhada:

Cinco horas da tarde já tá assim.










À bientôt!