quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Datas oficiais das entrevistas para o CSQ - 2012

Acho que essa foi a primeira vez em que senti um frio na barriga REAL quanto ao processo!

Para aqueles que estão aguardando as entrevistas da parte provincial do processo por Québec, finalmente uma notícia oficial! Do dia 05 de novembro ao dia 21 de dezembro (!) ocorrerão as benditas, em São Paulo e em Salvador. Não há ainda especificação de quanto tempo será dedicado a cada cidade, mas, pelo tempo que eles vão dedicar ao Brasil, a coisa vai ser punk.

O link oficial com a tabela das missões para diversos países de agosto a novembro é esse aqui. Eu  não sei se vou entrar nessa rodada porque tem muita gente que tá esperando há mais tempo que eu - e olha que no último fim de semana meu processo completou 300 dias! Torçamos agora para que principalmente o pessoal do nordeste, que já espera desde a última era glacial, seja chamado logo.

Bonne chance à tous!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Metodologias para o aprendizado de línguas: a gente gosta de fazer de conta? - Parte 3

Esta é a terceira e última parte do post "Metodologias para o aprendizado de línguas". Você pode ler a primeira parte aqui e a segunda aqui.

Com base nisso tudo, fica relativamente fácil entender porque muita gente faz três, cinco, sete anos de um curso de línguas qualquer e, quando vai pra fora do país, mal consegue pedir um suco de laranja. Metodologia destinada a quem quer fazer de conta que aprende, aliada a alunos que só querem fazer de conta que aprendem, ou que só querem poder "se virar um pouquinho no idioma", infalivelmente vai produzir pessoas que não têm segurança na nova língua e que vão cometer mais erros e demorar mais para se dar conta deles. É errando que se aprende muita coisa, claro, mas por que cometer erros que você pode evitar facilmente? 

Enfim, para finalizar, seguem algumas dicas que retirei da minha própria experiência e da leitura de várias fontes. Não quero dizer que sou "o" cara e que tenho a fórmula mágica. Isso é o que funciona pra mim, não quer dizer que essas práticas são definitivas de forma alguma e atendem a todas as pessoas (como mencionei lá na parte 1, esse post é bem pessoal), mas quem sabe, se você está ou esteve na mesma situação que eu, se sentindo um pouco perdido (a) na hora de estudar, essas dicas não podem te ajudar?

1. Encare a gramática de frente : se você leu os outros posts, e principalmente se andou fazendo cursos de idiomas nos últimos tempos, deve ter notado que boa parte das metodologias adotadas querem fazer de conta que gramática não é algo com que você precise lidar; que é algo que você vai aprender "naturalmente". Bom, eu digo que a gramática está lá para facilitar, por mais que as pessoas digam o contrário. O negócio é encará-la de frente. Você vai precisar de menos esforço se sentar e estudar como é formado o passé composé do francês do que se ficar tentando adivinhar as terminações a cada novo verbo.  "Ah, mas é chato". Bom, você pode até achar isso, mas é preciso lidar com o bicho se você não quiser soar como um roceiro analfabeto. "Ah, mas é difícil". Na verdade, em geral, não é. Em geral, as pessoas tendem a achar difícil o que, na verdade, acham chato e não querem ter de aprender. Mas acredite, saber a gramática e o porque das coisas serem ditas e escritas da forma como são facilita e muito a compreensão e a utilização do idiomas. Sem falar que te dá uma segurança absurda na hora em que você tem de começar a criar suas próprias frases e participar de conversas reais. E - surpresa - com o tempo fica tudo tão natural na sua cabeça que é capaz de, daqui a algum tempo, você nem lembrar direito a regra gramatical direito;

2. Faça exercícios. Enxágue e repita a operação : não dá pra descartar a importância de se fazer uma grande quantidade de exercícios sobre qualquer que seja o tema ou o ponto gramatical que você está estudando. Aliás, como mencionei a segurança ali em cima, é bom repeti-la aqui: fazer exercícios, ver erros e acertos, vai deixar você mais seguro. Não se limite, de forma alguma, aos exercícios que seu professor te passa ou aos que constam do livro que você utiliza. Vá para a internet, procure páginas que possuam exercícios (existem várias), faça testes online, até os de nivelamento de escolas de línguas. Procure ver onde você tem problemas e estabeleça um retorno constante a esses assuntos, fazendo mais exercícios. Se tiver grana, invista em livros que trazem simulados e provas da língua que você está aprendendo, ou em gramáticas e didáticos com exercícios (mas foque nos livros que trazem respostas). Faça e refaça exercícios mesmo daqueles assuntos que você já domina;

3. Entenda seus erros : se a sua prova ou lição de casa ou os exercícios que você fez por conta própria têm vários (ou mesmo só alguns) "x", indicando que você errou, vá de caso em caso e procure não só ver o que você errou, mas entender a razão de você ter errado. Foi uma simples falta de atenção (embora isso não deva ser tão minimizado quanto parece) ou você ainda não domina exatamente aquele ponto em particular? O erro foi causado por você ter compreendido errado o sentido da frase (em alemão, nos primeiros estágios, é comum você trocar o caso dativo com o acusativo e inverter o significado da frase) ou por um aspecto gramatical que não foi corretamente assimilado? Esse tipo de indagação serve para você realmente atentar para as razões por trás dos erros. Não se deve apenas "aceitar os erros", é preciso aprender com eles; 

4. Utilize todos os recursos disponíveis - e vá além : quando eu comecei a aprender inglês, eu basicamente tinha à minha disposição a escola de inglês e uma ida mensal ao cinema - e olhe lá. Hoje em dia, não há desculpa. Mesmo se você estiver aprendendo tailandês ou finlandês, você pode entrar na internet (até por meio do celular, para os mais modernosos) e acessar páginas e mais páginas de conteúdo na língua que você está aprendendo. Tem de tudo, de receitas culinárias a teses de mestrado, passando pelos já conhecidos e bem aceitos artigos, filmes e músicas. Mas não se limite a apenas a acessar esse conteúdo - estude-o! Assista aos filmes, mas faça anotações de palavras ou expressões que você não entendeu ou achou interessantes. Escute músicas, mas veja como o cantor pronuncia certas palavras de forma diferente do seu professor ou daquele amigo nativo que você tem (e, se tiver tempo, tente saber a razão disso. É um sotaque diferente? Um dos dois pronuncia errado? Liberdade artística?). Leia artigos, revistas, livros e tente fazer resumos do que você leu, tudo na língua-alvo. Depois, peça para um professor ou amigo nativo revisar, ou poste nos fóruns linguísticos que existem na internet e peça correções. Não seja tão passivo no aprendizado. E saiba selecionar o que se adequa ao seu nível atual (mas sempre mire alto);

5. Procure falantes nativos : assim como no item anterior, a "oferta" de falantes nativos de outro idioma era bem escassa quando comecei a aprender inglês. Hoje você pode ter contato com um russo, uma sueca, um vietnamita e uma australiana tão facilmente como você pode conhecer o brasileiro que mora na casa vizinha. Deixe a vergonha de lado! Se você procurar sites de pen pals, boa parte das pessoas que estão lá estarão dispostas a entender que: (1) você é estrangeiro; (2) você não fala a língua deles de forma nativa; (3) você provavelmente cometerá erros. Mais difícil, mas não impossível, é encontrar pessoas dispostas a corrigir seus erros e até te ajudar dando aulas ou dicas grátis. Você só  precisa ser paciente e tolerante consigo mesmo e tirar um tempinho para responder mensagens algumas vezes por semana. E, com sorte, você pode até ter algumas conversas via Skype ou outro programa de voz, o que vai ser um baita treino para os seus ouvidos e língua;

É isso. O post começou como um desabafo de alguém frustrado com o ensino de línguas estrangeiras e acabou indo um pouco além. Mas enfim, espero que, de alguma forma, essas dicas e o que narrei antes possam ser úteis para pelo menos algumas pessoas. Independente de metodologia, o importante é você ter bem claro o seu objetivo e não usar desculpas para fugir dele. Se você quer, de fato, aprender um novo idioma, vai precisar de tempo, esforço e dedicação. A ajuda externa é excelente, qualquer que seja ela, mas o principal ator no palco tem de ser você. Se você for um estudante passivo o tempo todo e continuar com a mentalidade de que é o curso que tem de te ensinar, não se surpreenda se, ao final, mesmo com um diploma do tal curso, você mal conseguir fazer o seu check-in no hotel.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Metodologias para o aprendizado de línguas: a gente gosta de fazer de conta? - Parte 2

Essa é a parte 2. Leia a parte 1 aqui.

E então, qual era o problema? Na minha opinião, era (e continua sendo) o seguinte

As metodologias adotadas não são feitas para quem quer aprender e, sim, para quem quer fazer de conta que está aprendendo. O conteúdo do curso praticamente não avançava ao longo do semestre, ou avança de forma imperceptível, de tal forma que você não se dá conta do que está aprendendo - ou do que deveria estar aprendendo. Não se encara o problema de frente. É como se fosse necessário dourar a pílula para que os alunos achem tudo mais palatável. No meu caso, em vez de termos aulas estruturadas de forma que um tópico levasse a outro, com regras gramaticais e vocabulário sendo construídos de forma encadeada, tínhamos um bocado de palavras soltas, muitas delas aparecendo em apenas uma unidade ou mesmo uma página do livro (sabem a famosa unidade sobre alimentos ou frutas, algumas das quais você não conhece nem em português?),  e várias regras gramaticais soltas ao sabor do vento, quase sem conexão alguma, sem qualquer tipo de aprofundamento. E pior, os exercícios de fixação, para casa e afins, eram pouquíssimos, quase inexistentes. Para piorar, poucas vezes eram cobrados pelo professor. O esquema era basicamente assim: o conteúdo foi dado, faça os exercícios em casa e, se tiver dúvidas, me procure.

Dessa forma, me dei conta de que a metodologia de ensino de idiomas mudou e MUITO desde que eu tinha nove anos de idade. De repente, alguém achou que as pessoas deveriam aprender idiomas meio que por osmose, já que "bebês aprendem a língua materna basicamente ouvindo e repetindo até que as informações façam sentido". Só que esse pessoal parece esquecer que, depois daquela primeira língua aprendida, as outras, adquiridas no fim da infância, na adolescência e na vida adulta, são aprendidas de forma bem diferente de quando você aprende sua primeira língua, lá no berço, sem pressão ou obrigação. O próprio funcionamento do cérebro na aquisição da primeira e das demais línguas é diferente. Some-se a isso fatores culturais e sociais e, pelo menos pra mim, fica meio óbvio que "aprender como se fosse um bebê" soa, no mínimo, ingênuo.



Além disso, o "bebê" é colocado em uma turma com outros "bebês". Como mencionei lá no outro post,  cada um tem seu próprio ritmo de aprendizado, e uma turma de escola de línguas terá, invariavelmente, pessoas que "pegam" as coisas mais rápido e pessoas que demandam mais tempo. No caso do meu curso de alemão, por exemplo, cada aula tinha aproximadamente 1h45min de duração. Em determinado semestre, a professora fazia questão de perguntar a um por um o que haviam feito no fim de semana, a fim de estimular a expressão oral. Estímulo válido, na minha opinião, só que ficava por isso mesmo. Algumas pessoas levavam pouco mais de 30 segundos para contar que haviam ido ao cinema, enquanto outras levavam 3 minutos para dizer a mesma coisa. Numa turma de 15 pessoas, em que quase sempre a quantidade de pessoas que não se dão muito bem com determinado idioma é maior, isso faz com que a parte inicial da aula, de contar o que você fez no fim de semana, tome 30 a 40 minutos da aula. Houve várias situações em que o aluno ficava constrangido por um lado, por não saber se expressar, e o professor por outro, porque certos alunos claramente não deveriam estar no nível/na turma em que estavam. Mas, por uma questão de raciocínio lógico de mercado, o aluno de línguas é sempre aprovado, não importa quão ruim ele seja, porque se for reprovado ele vai sair da escola.

A parte do aluno na lambança toda também não é pequena. No Brasil, reina a ideia de que você vai para o curso de línguas para aprender, e que o curso vai te ensinar. Toda vez que eu vejo pessoas que estão aprendendo a língua X, Y ou Z por razões "profissionais" ou mesmo por gostarem, e dizem que não têm tempo para estudar fora da sala, eu me pergunto se elas fazem ideia do tanto de tempo e de dinheiro que estão desperdiçando. Praticamente ninguém, nos dias de hoje, tem várias horas livres no dia para se dedicar à alimentação saudável, exercícios físicos, meditação e todas as outras coisas que especialistas adorariam que incorporássemos na nossa rotina, e MAIS o estudo de uma língua estrangeira fora da sala de aula. Só que, infelizmente, uma língua não se aprende de verdade indo apenas à aula, uma, duas ou três vezes por semana. Na verdade, eu acredito que quanto mais aversão você tiver ao aprendizado de um idioma, mais tempo teria de dedicar, mas, enfim, as coisas não são bem assim. De qualquer forma, ir ao curso e fazer dois ou três exerciciozinhos do seu livro de atividade (quando muito) não é suficiente.



 Em seguida, temos o professor, que, em geral devido à metodologia adotada e à forma como os cursos estão estruturados, precisa dar X unidades do livro no semestre. Por isso mesmo, por ter uma meta específica a cumprir,  não pode parar, revisar e ficar corrigindo coisas que o aluno já deveria saber, ao menos em tese. Então o professor deixa passar erros, tanto leves como grosseiros, como se fosse algo normal, e segue adiante, porque a matéria precisa ser dada. Não discordo de que o conteúdo tem que avançar, mas deixar passar erros, principalmente os que mostram que os alunos não dominam conteúdo visto dois, três, às vezes  até mais semestres atrás, não deveria ser algo a acender a luz vermelha de alerta?  E mais: se a escola realmente está interessada na qualidade com que seus alunos concluem seus cursos, não deveria estar preocupada com isso? Bom, acho que deveria, mas o lance todo é que a maior parte das escolas de ensino de idiomas vive mesmo é da galera do básico e intermediário - e olhe lá. Li uma vez que a média de permanência em cursos de idiomas, de forma ininterrupta, é de três semestres - TRÊS SEMESTRES! Ou seja, boa parte dos alunos só fica na escola aprendendo o novo idioma por um ano e meio e, em seguida, deixa o curso, seja por desinteresse, por incompatibilidade de horário, por motivos profissionais ou o que for, ainda que volte um semestre ou dois - ou três - depois. E, em boa parte das escolas, o aluno entrará no nível em que parou, independente do quanto estudou sozinho enquanto esteve afastado. Testes de nivelamento? Quando existem, são ótimos para fazer você se sentir bem por pular alguns níveis básicos, mas dificilmente são precisos o suficiente para avaliar o que você realmente sabe.

Ou seja, no final das contas, o aluno não estuda o que tinha de estudar (por preguiça ou por achar que é o curso que tem de fazê-lo aprender, afinal "já está pagando caro"); o professor não corrige o que deveria corrigir (principalmente pronúncia e formação de frases na hora da expressão oral), além de revisar pouco e cobrar menos do que deveria (outra característica da metodologia atual); os métodos e livros utilizados subestimam a necessidade de rever, fazer exercícios, escrever redações e promover debates orais em sala de aula e fora dela; e a escola se preocupa em passar o aluno, não importa quantas provas de recuperação ele precise fazer. Aluno reprovado é aluno desestimulado e, muito provavelmente, aluno que não volta pro semestre seguinte.

Clique aqui para ir para a terceira e última parte.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Metodologias para o aprendizado de línguas: a gente gosta de fazer de conta? - Parte 1

A maioria das pessoas que já passou, está passando ou vai passar por um processo de imigração, seja para qual país for, vai ter que se acostumar com uma nova língua (exceto os que tiveram a sorte de crescer com pais que falavam outras línguas e que tenham tido a inspiração divina de criar os filhos valendo-se do uso de outros idiomas). É bem verdade que cada pessoa é diferente, cada uma tem seu próprio método para aprender, e é por isso que, já aviso logo, esse post vai ser bem pessoal.

Eu sinto falta das minhas primeiras aulas de inglês. Ou melhor, de como eu aprendia naquelas aulas. Eu comecei a aprender o idioma aos nove anos de idade, por estímulo da minha mãe. Morria de medo de ir para uma escola de inglês. Lembro claramente de pensar que eu não ia entender nada e não conseguiria aprender. Mas, quando finalmente expus isso pra minha mãe (levou um tempinho... acho que, no fundo, eu sabia que era uma desculpa esfarrapada), ela foi incrível em me tranquilizar, explicar como funcionava e deixar claro que, se eu não gostasse, poderia sair. Com essa liberdade toda, lá fui eu.




E eu adorei. Minha paixão por idiomas começou ali. Da noite para o dia, o medo desapareceu e eu passei a assimilar cada nova palavra, cada regra, cada som com avidez. Tá certo que, quando criança, eu tinha uma certa vergonha de me empenhar pra pronunciar os sons de forma correta. Secretamente, eu ficava murmurando as palavras que aprendia, tentando aproximar o que eu falava do que eu ouvia na sala de aula, mas, na frente dos outros... ixi... eu falava o inglês mais carregado de fonética luso-brasileira que se pode imaginar. Vergonha pura de criança que temia parecer ridícula em qualquer situação.

As aulas, eu lembro bem, não se resumiam a seguir o livro adotado. O livro estava lá, claro, mas, em primeiro lugar, não havia, em geral, uma historinha pra seguir, personagens para acompanhar ou coisa do tipo. Havia desenhos, sim, gravuras, imagens e tal, mas não necessariamente uma história acompanhando.

Havia muitos exercícios. MUITOS. Havia exercícios no livro principal, no livro de exercícios e, além disso, vários exercícios feitos em sala e dados em folhas avulsas para fazer em casa. Eu não passava mais tempo fazendo os deveres de casa de inglês do que os da escola, mas, ainda assim, não era uma coisa que eu acabava em 10 ou 15 minutos. Talvez por causa disso, eu dificilmente tinha que voltar para revisar alguma coisa que fora dada: era tanto exercício, e fazíamos tantas vezes que não tinha como alguém esquecer. E havia listas de palavras, de tempos verbais, de declinações. E você tinha, sim, que memorizar muita coisa, embora tudo fosse recapitulado nos exercício.



Além disso, usávamos sempre o conteúdo visto antes em sala. Era bastante comum a gente, por exemplo, aprender um tempo verbal e relembrar como se formavam os outros. E, na lista de exercícios para o novo tempo verbal aprendido, quase sempre vinham exercícios do que já havia sido aprendido antes, ainda que em menor quantidade. Dessa forma, a gente estava sempre em contato com boa parte do conteúdo do semestre, praticamente o tempo todo.

Era uma época sem CDs ou internet. De vez em quando, havia uma fita cassete, tocada num microsystem (arre!) cujas caixas de som eram do nível de autofalantes de drive-through. Mais raramente, íamos para alguma Sala de Vídeo, quase um templo de tecnologia, com uma televisão de tubo de 20 polegadas e um vídeo-cassete conectado, para rodar alguma fita VHS de um filme ou coisa assim. Mas tanto a fita cassete quanto o vídeo eram raros comparados ao resto. Ainda assim, eu ouvia muito inglês na sala de aula: professores E alunos. Praticamente o tempo todo.

E passei vários anos assim. Apesar da minha paixão por idiomas, eu tive pouco contato com outras línguas durante toda a adolescência. Por iniciativa própria, comecei a estudar uma coisa aqui, outra ali, mas acabava esfriando, ou por me interessar por outra língua ou por falta de material pra estudar sozinho (meus pais não eram exatamente ricos, eu já fazia inglês e natação, além de idas e vindas de aulas de caratê, e minha irmã tinha as próprias atividades dela. Somando tudo, ainda mais em tempos de inflação a 80% ao mês, já viu, né?). Então, demorou um bom tempo até eu ter oportunidade de me engajar novamente. Só na faculdade, quando eu tinha 17 pra 18 anos, foi que eu tive oportunidade real de começar a estudar outra língua, e optei pelo alemão.

O problema é que, na faculdade, os horários em um semestre quase nunca eram os mesmos no semestre seguinte. Então, ficava difícil se programar para realmente seguir os módulos semestre após semestre. Consegui o primeiro nível de alemão no meu segundo semestre, engatei o segundo nível no semestre seguinte, mas, depois disso, nunca mais consegui pegar módulos de alemão simplesmente porque os horários não batiam. Nesse meio tempo, fiz um ano de francês, um ano de espanhol e seis meses de japonês, e essa salada se deu basicamente porque eu não conseguia dar continuidade às línguas já iniciadas. Eu pegava francês, aí no semestre seguinte não tinha horário pra eu pegar o segundo nível; mas tinha espanhol, e eu, com receio de não poder voltar ao francês, começava espanhol. Então acabou que saí da faculdade com um conhecimento básico em algumas línguas, mas um tanto frustrado por não ter conseguido aprofundar de fato como eu fiz com o inglês (que estudei dos 9 até o final da faculdade).

Enfim, depois que me formei e comecei a trabalhar, resolvi voltar a encarar o aprendizado de idiomas pra valer. Optei pelo alemão, idioma pelo qual eu tinha uma curiosidade absurda desde que ouvi algumas frases em Indiana Jones e a Última Cruzada (não tô brincando!). E lá fui eu, pra uma escola famosa, e basicamente a única da qual eu tinha alguma referência.

O primeiro semestre foi empolgação pura. Nível iniciante de qualquer língua é só alegria. O segundo semestre foi igualmente empolgante. O terceiro foi bom, mas foi ali que eu comecei a notar que havia alguma coisa errada, mas ainda não fazia ideia do quê. Eu tirava notas boas, tinha uma certa desenvoltura com o idioma, os professores ficavam visivelmente satisfeitos comigo, então tudo parecia bem. E assim passou o quarto semestre. Mas alguma coisa não encaixava. Acabei tendo de deixar o curso após o quinto semestre, com média 9.0, mas prometi a mim mesmo um retorno assim que fosse possível.

A possibilidade de retorno foi adiada além do que eu queria. Nesse meio tempo, pra não perder o que eu havia aprendido, fiquei estudando e revisando por conta própria o que fora dado em sala de aula. Certas coisas acabavam ficando meio soltas, mas, enfim, eu tinha em mente que a pausa era temporária e que eu poderia recuperar o que fosse perdido tão logo eu estivesse em sala de aula novamente. Acabou que conheci alguns alemães e passei a tentar conversar (ou melhor, escrever, via MSN) com eles em alemão. E foi com isso que eu comecei a me dar conta de qual era o problema lá naquele terceiro semestre.

Clique aqui para a parte 2.