segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

[OFF-TOPIC] Desânimo

Essa tem sido a palavra que me define nas últimas duas ou três semanas. Desânimo. Não exatamente com o processo; afinal de contas, eu já sabia que ia ser demorado e não fico achando que as coisas vão andar de uma hora pra outra, do nada. O desânimo é mais pessoal, tem mais a ver com a estagnação da vida (que, sim, está ligada à demora do processo) e a uma sensação que é velha conhecida minha: a de não saber para onde estou indo e muito menos o que vou - e quero - fazer.

A cada dia que passa, eu me certifico de que meu prazo de validade com São Paulo já venceu. Já não me sinto bem aqui. Não é de hoje, mas, até há algum tempo, era algo de menos importância. Agora, a coisa vem assumindo características de perseguição. Não me sinto mais bem aqui - sim, porque houve uma época, lá nos meus dois primeiros anos de vida aqui, que eu me senti bem. Não realizado e pleno de felicidade, mas estava bem. Não gosto do clima, quente e abafado na maior parte do tempo. Não tenho mais vontade de aproveitar as tais milhares de oportunidades para se divertir e "viver a vida" que gostam de apregoar por aqui. Uma, porque às vezes é tudo tão longe, caro, mal organizado e frustrante que prefiro um cineminha básico. Outra, porque as histórias de arrepiar que você escuta que aconteceram com o amigo do vizinho só porque ele foi à padaria fazem você ter cada vez menos vontade de estar exposto, à vista.

Além disso, o meu trabalho, que era para ser provisório enquanto eu "me encontrava", já dura oito anos. Nunca me realizei nele. Apenas por um breve período, antes de começar, eu pensei que, quem sabe, eu poderia gostar desse trabalho, me realizar nele e seguir por uma vida estável, rumo a uma aposentadoria tranquila. Mas detestei praticamente desde o primeiro dia. Superei a birra inicial, me concentrei nas coisas boas (que existem, é claro) e continuei. Não adiantou. Tentei sufocar a sensação de inutilidade, a raiva e a frustração com as coisas mal feitas e o "jeitinho" que parece permear todo e qualquer tipo de atividade neste país, mas, mesmo que ela fique dormindo um pouco, acaba voltando. Tento ser indiferente, porque não quero acabar com um câncer só por sentir raiva das coisas como elas são ou porque não sei o que fazer da vida (já bastam os resfriados constantes que eu pego), resisto, resisto, resisto, mas não consigo ficar impassível frente a determinadas coisas. E aí me frustro e fico desanimado (e com raiva) de novo, por constatar que não adianta nada. Fazer algo e fazer nada parecem dar no mesmo.

Então, agora estou morando numa cidade da qual não gosto, fazendo um trabalho que não me satisfaz, não encontrando mais diversão nem nas coisas das quais gosto (ou gostava). Minha vontade, às vezes, é só jogar tudo pro alto, voltar para perto dos meus e ficar lá esperando esse processo de imigração terminar. Tirar um descanso da vida. A dúvida, o receito maldito do "será que lá no Canadá vai ser a mesma coisa?" não me aflige agora; minha vontade é só de me desligar de tudo isso que tem me deixado mal e simplesmente sumir. Em vez disso, sigo tentando me lembrar de que estou melhor que muita gente, e que não é proibido querer algo melhor para si, mas, na impossibilidade, deve-se fazer o melhor uso possível do que se tem. 

Eu torço, de verdade, para que a ida para o Canadá signifique mudança. Mudança de cidade, de país, de profissão, de idioma, de mentalidade, mas, acima de tudo, de vida. Espero encontrar lá o que ainda não encontrei aqui, por mais que tenha procurado (e ninguém, me conhecendo, pode dizer que não procurei). Porque, dizem, a busca e a jornada para se encontrar são belas. Mas acho que é o tipo de viagem que só podemos apreciar quando chega ao fim.