domingo, 28 de junho de 2015

Problemas no Paraíso (1)

Todo mundo sabe (ou deveria saber) que vai ter problemas quando sair do conforto do seu lar e do seu país para embarcar numa jornada ao desconhecido. Muita gente sonha com o CSQ e o visto de residente permanente como se eles fossem o fim dessa jornada, como se, a partir dali, você só tivesse que colher os louros da sua "árdua" batalha. Batalha essa que, em boa parte dos casos, tem a ver mais com ansiedade, impaciência e falta de informação do "combatente" do que com lutas travadas contra obstáculos reais. Então, muita gente diz que sabe que problemas surgirão, mas sequer pensa neles. Nem nos mais básicos, como dificuldade com idioma, a falta que a família e/ou os amigos vai fazer e por aí vai. É como se o CSQ ou o visto fossem o objetivo final, e tudo girasse em torno deles, quando, na verdade, eles são só o início do futuro - que continua sendo tão incerto quanto no dia que você mandou sua papelada para o BIQ.

Com esse discurso, estou inaugurando uma série aqui para contar os problemas que surgirem pelo meu caminho. Podem ser pequenos ou grandes, mas, se me incomodarem, eu vou tentar vir aqui e relatar. O objetivo é não só parte da meta principal do blogue (manter um relato sobre a minha jornada, algo que eu possa depois vir vasculhar e lembrar como foi), mas também ministrar doses de realidade, principalmente para aqueles que, quando pensam em vir pro Canadá ou pro Québec, confundem o lugar com esse aí, ó:



Então vamos lá?


A Origem

Todo mundo que acompanha o blogue sabe que estou fazendo um curso de inglês na McGill pra destravar, e que ele tem feito muito bem pra mim. Sabe também que eu me dei muito bem com a turma, fui elogiado pelos professores, fiz um amigo quebeco quando achava que ia levar eras até conhecer um canadense e por aí vai. Realmente, as seis semanas do curso me fizeram um bem enoooooooorme, não só pro meu inglês, como pro meu bem-estar nesse início de jornada.

Com o fim do módulo, quem ainda continuaria no curso correu pra fazer a matrícula para o próximo nível. O quebeco falou para irmos fazer juntos para garantir que ficássemos na mesma turma. Achei muito legal da parte dele, e assim fizemos. Inclusive, perguntei para a atendente se aquilo bastava para sermos colocados na mesma sala e ela falou que achava que não haveria problema algum, até porque fomos alguns dos primeiros a se matricular. Ótimo!

Só que não. As aulas recomeçaram na última segunda-feira e, quando olhei a lista dos integrantes da turma, eu e meu amigo (além de outros) havíamos sido separados. Na hora, senti a minha motivação despencar. Quer dizer que eu chego aqui, sozinho, dou a sorte de fazer um amigo local com quem REALMENTE me dou bem, a ponto de as pessoas em volta acharem que a gente já se conhecia ANTES do curso, tudo pra chegar agora, no último nível, e ser separado assim, do nada?? E ainda por cima tendo pedido pra ficar na mesma sala? Não teve jeito. A motivação afundou e eu fiquei me sentindo marido traído.

"Ué, Doug? Esse é o seu problema? Ficou separado do amiguinho de turma? Buá, buá, faz novas amizades, segue em frente e pronto!"

Respondo à pergunta em instantes, mas, primeiro uma declaração do nosso patrocinador. Eu sempre fui alguém com uma certa dificuldade para socializar. Sempre curti coisas que a maioria das pessoas só faz quando não tem o que fazer ou quando está chovendo lá fora. Enquanto todo mundo se amarra em ir pro boteco com os amigos, encher a cara e falar sobre "variedades", eu sempre curti jogar vídeo game ou ler um gibi, ou rever Guerra nas Estrelas pela 189341987 vez. Não é melhor nem pior do que ir pro tal boteco (embora muita gente insista que é bem, bem pior, sim), é só diferente. Eu me divirto tanto com um gibi do Batman quanto algumas pessoas se divertem ingerindo bebidas amargas. Mas por aí dá pra notar que eu nunca fui o cara mais popular, cheio de amigos, e com vários convites para eventos diversos, né? Então, o mês e meio que passei no primeiro módulo do curso da McGill me deu a chance de viver algo que há muito, muito tempo eu não vivia: fazer parte de um grupo, ser aceito por ele e encontrar alguém que seja tão nerd quanto eu. Assim, ser separado das pessoas que fizeram eu me sentir tão bem depois de tanto tempo seria um problema, pra mim, sim. Digno de vir aqui chorar as pitangas, falar que o mundo é injusto, que nunca mais vai acontecer nada assim e blábláblá. Mesmo sendo um cara adulto e reconhecendo que a revoltinha seria infantil, eu sei exatamente o porque disso me afetar. Mas, ainda assim, eu provavelmente iria ficar chateado uns dias, comer um pote de sorvete e tentar me animar para as próximas seis semanas de curso.

Mas não, fiel leitor(a). Esse foi UM problema, mas não O problema que me motivou a escrever essa postagem.. Antes fosse. Eu viria aqui, bancaria o menininho, um monte de gente gritaria "VIRA HOMEM!" e pronto. Então, sem mais delongas, senhoras e senhores, uma salva de palmas para...

Meu Perseguidor Particular


Na turma anterior, em meio a toda aquela gente legal que mencionei, havia um cidadão pitoresco, para dizer o mínimo. Visual esquisito, um tanto desleixado. Mas, até aí, viva a revolução e vivam as diferenças, né? Ele não foi o primeiro e nem será o último cujas peculiares escolhas de indumentária vão fazer minha sobrancelha subir.

Eu falava pouco com ele e ele falava pouco comigo. Não sentávamos perto e, como a amizade com o quebeco surgiu logo nos primeiros dias (e como o cara ficava bem na dele na maior parte do tempo), não houve muita oportunidade pra interagir. Quando falo que ele ficava na dele, vocês têm de ter em mente que eu sou um cara na minha. Eu não saio batendo altos papos com desconhecidos. Quando falo com alguém que não conheço, acho que devo soar até meio formal demais. Mas esse cara é um nível diferente. Nas vezes em que ele era chamado a se manifestar na sala de aula, eu não entendia o que ele falava, não só pelo sotaque, mas porque ele tinha um jeito brusco de falar, meio "cortado". Tenho dúvidas até se os próprios professores entendiam tudo.

Aí, como comentei em outros posts, virei meio que "garoto sensação do momento" por causa do meu sotaque, de como me saía nas apresentações e nas notas. De repente, um monte de gente ficou curiosa a meu respeito e se aproximou. Eu fui receptivo com todo mundo, morrendo de vergonha, porque estar no centro das atenções definitivamente não é o meu habitat natural, mas posso dizer que foi legal ver as pessoas me aceitando, me recebendo e, de certa forma, me admirando (se já esqueceu, releia o parágrafo ali em cima sobre a minha dificuldade para fazer amizades e tente imaginar como eu me senti. Não tem nada a ver com "me achar"). Mas o tal cara, não. Não falou nada, não perguntou nada, não fez nada. Continuou como sempre tinha sido até ali.

Até que descobrimos que moramos no mesmo prédio.

Foi justamente no dia da minha primeira apresentação "séria", com plateia e avaliação. Aquele dia foi o início da minha "consagração" pela turma e, quando voltei pra casa depois da aula, pimba - trombei com o cara na entrada do prédio. "Ah, você mora aqui?", "Moro! Você também?, "Que coincidência!", e todo aquele papo de comadre no elevador. Aí ele fez o convite pela primeira vez:

- Vamos lá no meu apartamento pra você conhecer!

Se você, saliente leitor(a), pensou alguma bobagem, eu não te culpo. Mas, por hora, relembre apenas que eu sou uma pessoa discreta, não socializo fácil, sou de Brasília (que, segundo pesquisas informais, só rivaliza com Curitiba no quesito "pessoas frias que não fazem amizade com alguém de manhã e já chamam pra festa de família à noite"), tenho um histórico de passatempos que dão sono na maioria das pessoas. Então, minha resposta foi um reflexo desse contexto.

- Ah, obrigado! Quem sabe outro dia?

E fui embora pro meu apartamento. Até aí, tudo bem. Ele podia só estar sendo simpático e cordial (tipo "beijomeliga") e nem querer que eu fosse mesmo lá. Foi uma das razões que me fez recusar. Sou de uma cultura em que às vezes as pessoas falam só por educação; então, na dúvida, melhor recusar. E tudo bem.

Só que, depois desse dia, praticamente todas as vezes em que eu esbarrava com o cidadão na escola, ele falava que eu podia ir ao apartamento dele na hora que eu quisesse. Eu agradecia e saía andando. Só que ele começou a mudar o discurso. Em vez de falar que eu podia ir ao apartamento dele, começou a falar que eu devia ir. E também que ele queria ir ver como era o meu apartamento. Comecei a inventar desculpas e a ver que tinha algo estranho ali. Afinal, com meu parco conhecimento de mundo, ninguém fica insistindo tanto assim para que você vá visitar, a não ser que seja aquela sua tia solteirona esquecida por todos. Achei melhor ficar na minha.

Mas aí, um belo dia, eis que esbarro com o dito cujo novamente na entrada do prédio.  "Danou-se", pensei. "Lá vamos nós de novo". E claro que ele veio falar comigo e me dizer pra ir ao apartamento dele. Quando recusei, ele disse:

-Então vamos lá ao seu apartamento agora para eu ver como é.

Prendi a respiração. "Quer saber?", pensei, "vamos acabar logo com isso então".

-Claro, vamos lá. Já te adianto que não tem quase nada, porque não comprei mobília ainda.

Abri a porta (tomando o cuidado de deixá-la bem aberta, mesmo depois que entramos), mostrei o apê pra ele (não que ele não pudesse ver tudo já da porta; afinal, é uma quitinete, né?), ele fez sugestões sobre o que eu deveria comprar (!), eu agradeci, e aí ele resolveu ir embora - não sem antes tentar me levar de novo pra conhecer o apartamento dele, mas eu recusei mais uma vez. Ele insistiu, e então eu falei que iria no dia seguinte depois da aula. A ideia era que, se eu acabasse logo com isso, ele ia ter que parar.

No dia seguinte, pedi pra um colega do curso me acompanhar e fui lá conhecer o apartamento do cara. Nada de mais, olhei tudo rapidamente só pra constar, agradeci e fui embora. Respirei aliviado e achei que tudo acabava ali.

Mas não. Nos dias subsequentes, sempre que o cara me achava sozinho na escola, ele vinha me falar pra eu ir de novo ao apartamento dele. Eu comecei a falar que já tinha ido conhecer, que era legal, mas que eu não precisava ir lá de novo. Ele falava que a gente podia jogar alguma coisa, ou ele podia ir ao meu apartamento e jogar vídeo game. Eu lembrava que ainda não tinha comprado nada pro apartamento (o que continua sendo verdade até hoje) e pronto. Mas todo dia ele, em algum momento, vinha falar as mesmas coisas: "já comprou móveis?", "e a televisão?", "vai lá pra casa hoje!", "me avisa quando você tiver televisão pra eu ir jogar vídeo game com você".

Até o final do curso, foi enchendo o saco, mas não passou disso. Era irritante, inconveniente, mas, como eu tinha meu grupinho de amigos de turma por perto na maior parte do tempo, o cara ficava à distância. Quando surgia uma brecha, ele ia falar comigo ("vai lá em casa hoje!", "já comprou a televisão?"), mas eu respondia com monossílabos e não dava corda. Inconveniente, mas não ia além disso.

Só que, como falei ali em cima, quando as aulas recomeçaram, descobri que tinham me separado dos meus amigos mais próximos. Caí numa turma em que não conhecia praticamente ninguém, e os poucos remanescentes da turma anterior não tinham porque estar comigo o tempo todo. E essa era a oportunidade dourada que o cidadão insistente precisava: "Oba! Ele está sozinho! Minha vez! \o/".

-Seu melhor amigo não está mais com você - foi a primeira fala dele no primeiro dia de aula.
-Pois é.
-Vocês vão continuar amigos?
-Hum-hum.

E aí ele retomou a ladainha sobre a mobília, a televisão e tudo o mais. Mas acrescentou uma particularidade diante da minha resposta:

-Vai lá em casa hoje depois da aula.
-Desculpa, cara, mas olha... eu realmente não sou muito de ir pra casa dos outros, principalmente sem motivo.
-Ah, a gente arranja alguma coisa pra fazer.
-Não, obrigado. Eu tenho minhas próprias coisas pra fazer.
-Então eu vou pro seu apartamento pra tomar um banho.

Não faço ideia da cara que eu fiz pra ele, mas sei que o que falei foi:

-Não, não vai mesmo!
-Por quê??? - ele perguntou como se fosse algo inconcebível.
-Porque não estamos com falta de água, você pode tomar banho na sua casa e eu não consigo imaginar porque você iria tomar banho no meu apartamento.

Ele resmungou alguma coisa e foi embora. E foi só nesse dia que eu realmente comecei a pensar que havia uma possibilidade de que, em algum momento, eu estivesse chegando ou saindo de casa e desse de cara com a Glenn Close em Atração Fatal.




Fui falar com o coordenador do curso e dei entrada num pedido de mudança de turma. Não mencionei a história do cara porque não queria expô-lo, complicar as coisas e também correr o risco de ser mal interpretado. Motivei o pedido apenas com base na minha vontade de ficar com os colegas da turma anterior - e esse teria sido o único motivo mesmo. E torci para que desse certo.

Só que a coisa ganhou outros contornos. Além de fazer as mesmas perguntas todos os dias, o cara começou a forçar a barra para sentar do meu lado e participar dos grupos de trabalho em que eu estava. Num espaço de dois dias, o que era só inconveniente antes ganhou contornos de perseguição pra mim. Ele começou a me falar coisas como:

-Eu vejo você às vezes voltando do supermercado com as sacolas.

Ou:

-Eu vejo você indo para a biblioteca.

"Vê"?? Vê como? Me avista por acaso na rua ou tá de olho no que eu tô fazendo?




A gota d'água foi na sexta-feira. Na semana anterior, o quebeco me chamou para a casa dele para jogarmos vídeo game e assistirmos seriados. Contexto completamente diferente do outro cidadão; então eu fui e levei meu vídeo game. No final, como realmente não tenho TV, e como eu queria mostrar um pouco mais de apreço (e gratidão) pelo meu amigo canadense, ofereci para que ele ficasse com o equipamento por uma semana. Ele se amarrou e eu deixei tudo lá. Combinamos que ele me levaria nessa última sexta e ele cumpriu o acordo. Tivemos uma atividade que envolveu as duas turmas do último nível do curso e o meu amigo aproveitou para me devolver o vídeo game ao final da atividade.

E o sujeito obscuro viu.

Quando meu amigo saiu, lá veio ele:

-Você já comprou a televisão?
-Não.
-Mas eu vi o seu melhor amigo te entregando um aparelho...
-Sim, eu tinha deixado na casa dele e ele me devolveu.
-Então você ainda não tem TV?
-Não.
-Hmmm... Não esqueça de me avisar quando tiver.
-...

Assim, ficou EVIDENTE pra mim que ele desconfiou que eu estivesse mentindo pra ele, que tivesse comprado a televisão e não tivesse chamado ele pra jogar vídeo game, enquanto jogava escondido com o meu "melhor amigo". Agora, me diz: que obrigação eu tenho de falar pra ele o que eu compro ou deixo de comprar, o que eu faço ou deixo de fazer, e com quem eu faço ou deixo de fazer??

Voltei ao coordenador do curso logo depois da aula. Eu vi, pela linguagem corporal dele, que ele ia negar meu pedido de mudança de turma. Então, assim que ele pediu que eu entrasse e me indicou a cadeira, já fui falando:

-There have been developments.

E aí ele voltou toda a atenção pra mim, o que achei muito legal da parte dele. Escutou a história toda. Na parte em que o cidadão falou que viria tomar banho aqui em casa, ele arregalou os olhos, deixou a boca aberta, soltou um risinho de nervoso e foi direto pro computador. Quando mencionei que uma garota da turma virou pra mim na quinta-feira e perguntou se eu já tinha notado que o cara ficava virando a cabeça pra olhar pra mim o tempo todo na sala de aula (e não, claro que eu não tinha notado. Eu faço o possível pra nunca olhar em qualquer direção em que ele esteja), o coordenador pulou da cadeira, pegou o telefone e disse:

-Estou te mudando de turma agora. Normalmente, não fazemos isso, muito menos para reunir colegas separados, mas essa situação é completamente diferente.

Pediu meus dados pra secretária, fez a alteração no sistema, me passou o número da sala nova e terminou com uma fala que eu sei que teve a melhor das intenções, mas que fez com que eu quisesse passar a noite num hotel:

-Olha, como coordenador eu não posso fazer nada fora daqui. Não acho que ele seja perigoso, mas a gente nunca pode ter certeza, e você me disse que ele mora no mesmo prédio que você. Então, vou pedir que você fique atento. Se as coisas continuarem desse jeito ou piorarem aqui na escola, venha me ver novamente. E, se isso continuar fora da escola, venha me ver também. Mesmo que eu não possa agir diretamente, posso pelo menos indicar onde você pode conseguir ajuda.


Considerações finais (pelo menos, por ora)

Então, taí meu primeiro problema pra valer em terras canadenses. O que acharam? Pra quem tava pensando que eu ia só chorar por não estar com o meu "melhor amigo", a trama se complicou, né?  Pra finalizar, algumas considerações:

1) Apesar das alusões e brincadeiras com imagens que fiz ao longo do texto, não acho que nada na situação tenha cunho sexual ou de obsessão. Como disse pro coordenador do curso, acho que o cara deve ser bastante solitário e não tem muito tato para fazer amizades. É possível que tenha algum distúrbio que o impeça de entender que certos comportamentos afastam as pessoas em vez de aproximá-las, e isso faz com que ele meta os pés pelas mãos na hora de tentar fazer amigos. E só;

2) Sei que uma das perguntas que provavelmente vai aparecer nos comentários ou por e-mail é: "de qual país ele é?". A curiosidade é natural, mas eu sinto dizer que não vou responder. Por mais que, pra muita gente, seja só mesmo curiosidade, há outras que criam e propagam estereótipos que nada têm a ver com um país ou com o restante da população. Se eu falo aqui de onde ele é, na próxima vez que alguém escutar esse país sendo mencionado em algum lugar, a primeira coisa que vão lembrar é que o cidadão esquisito é de lá. E, se a menção for de algo ruim, tá armado o circo: notícia ruim + o cara estranho de quem o Doug falou = país de gente doida. Então deixemos assim mesmo porque a nacionalidade dele não afeta nada do que relatei aqui;

3) Começo na outra turma amanhã, se o universo não inventar de bancar o engraçadinho pra cima de mim de novo. E, sim, estou muito feliz por poder passar as próximas cinco semanas com meus amigos do curso anterior, e com o quebeco em particular! Como mencionei alguns posts atrás, sei que é o tipo de amizade que dura apenas enquanto durarem as aulas. E, por isso mesmo, quero aproveitar o máximo possível a companhia deles durante as próximas semanas!

E que o meu perseguidor me esqueça!

À bientôt!

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Três meses de Canadá!

Segunda-feira passada, completei três meses de Canadá! Agora posso dar  meu testemunho de fé: realmente, passa muito rápido!





Olhando pra trás, o primeiro mês foi o mais lento. Mesmo com todas as pendengas pra resolver (tirar documentos, comprar número de celular, procurar apartamento, etc), lembro que parecia que estava levando uma eternidade para cada semana passar. E eu achando ótimo, porque o que mais queria (e ainda quero) é ter tempo para absorver as novidades. O segundo mês foi gasto com menos obrigações e mais passeios. Foi também o mês da mudança pro apê que aluguei e do início das aulas na McGill. E o terceiro mês foi gasto única e exclusivamente com essas aulas, e acho que o tempo que elas me tomaram foi o grande responsável pela sensação de vídeo acelerado.

Então, depois de três meses, estou adaptado? Acho que seria presunçoso responder "sim", mas também não posso dizer "não". Algumas coisas que eram um bicho de sete cabeças no início e faziam com que eu me sentisse o Chico Bento (como usar totens de auto-atendimento no supermercado ou não fazer ideia de pra onde a linha verde do metrô vai) já não despertam tanto receio ou estranheza. Outras, como pensar o tempo todo que meu francês precisa melhorar pra anteontem, me lembram que ainda tem muito chão pela frente.

Ainda que não esteja me sentindo totalmente "em casa", muita coisa já mudou pra melhor nesses três meses. Continuo com as minhas corridinhas três ou quatro vezes por semana; estou mais próximo de pessoas aqui do que jamais estive em sete anos de São Paulo; posso andar com geringonças tecnológicas na rua sem medo de que algum trombadinha passe correndo e leve ou que algum infeliz resolva brincar de sequestro-relâmpago comigo; também posso percorrer o mesmo caminho que uma mulher, ficando coincidentemente atrás dela o tempo todo, sem que ela ache que eu vou assaltá-la ou estuprá-la (em São Paulo, e provavelmente no resto do Brasil, bastavam 30 segundos de trajeto em comum para qualquer mulher começar a espiar por cima do ombro a cada 5 passos e ver se eu ainda estava atrás dela); tenho REALMENTE vontade de ir pra fora de casa e aproveitar meu tempo livre a céu aberto; e destravei completamente no inglês (a ponto de me assustar quando alguém me fala "bonjour" na rua).

Falando no inglês, terminei o módulo que estava cursando na McGill na sexta-feira passada. Sem dúvidas, me ajudou muuuuito!! Por mais que meu bloqueio fosse mais psicológico que linguístico, estar num ambiente de sala de aula foi de grande valia. E, de quebra, a gente sempre aprende algo novo, né? Tem sempre uma palavra nova, um phrasal verb do inferno, e até gramática que você não sabia que não dominava. Eu, por exemplo, me dei conta que nunca tinha estudado pontuação em inglês formalmente. Pontuava misturando regras do português com o que eu via em textos por aí (e até que dava certo). Mas foi bom sentar e ver como se faz o negócio direito. Além disso, conheci pessoas de vários cantos do mundo. E o mais legal desse processo é você perceber que os rótulos que você mesmo põe no início ("o cara do Irã", "a menina do Congo") vão sendo substituídos à medida que você passa a enxergar esse pessoal como gente de carne e osso como você. Então, eles passam a ser "meu colega Asghar" ou "aquela fofa da Martina". Caem as fronteiras, erguem-se as amizades, mesmo que sejam de sala de aula.

E foi tão legal esse período de aulas que realmente fiquei nostálgico no último dia. Tivemos festa de confraternização em que cada um levou um prato ou bebida típicos de seu país. Eu não cozinho (ainda), então saí na chuva e paguei caro num Guaraná Antártica, tudo pra ouvir o comentário "é bem doce" - mas faz parte, né? No fim, passei no módulo com A+, ganhei elogios mil dos professores (minha professora da tarde repetiu a frase "ainda não sei o que você está fazendo aqui" várias vezes ao longo das últimas semanas), e, contrariamente ao que todo mundo esperava, resolvi seguir adiante e fazer o último módulo. Só falta mais um mesmo, né? Ter um certificado a mais no currículo não machuca. E não é como se eu tivesse abarrotado de coisas para fazer. Embora exista a pressão interna pra dar um rumo pra vida, ainda estou tentando me manter fiel à ideia de dedicar o primeiro ano aos idiomas. Vamos ver se aguento!

E que venham os próximos meses!

À bientôt!