Depois do feriado, eis que retorno para o blogverso! Meus pais vieram me ver meu pai veio me ver e minha mãe foi passear de navio com minha tia, e só ficou alguns dias comigo no finzinho. Mas sempre é muito bom recebê-los aqui, mesmo com a vida de pobre de estudante que eu levo. Logo estarei em terras brasilienses para retribuir a visita, comer comidinha da mamãe e hibernar um pouco.
Depois do pedido de passaporte, ainda não me mexi muito, em parte devido ao feriado, em parte devido a outras coisas que estou priorizando no momento. Mas, de ontem para hoje, voltei a ler blogs. Tenho lido vários de pessoas que imigraram recentemente ou mesmo de pessoas que já estão lá há algum tempo para ver o que me espera no quesito "adaptação". Olha, eu sou super sincero quando digo que não faço muita ideia do que me espera. Eu sou ansioso e um tanto controlador por natureza, e saber que, em menos de um ano, tudo o que tenho como certo, garantido e estável será jogado para o alto em troca de dúvida, incerteza e trapalhadas dignas das altas confusões da Sessão da Tarde me deixa... precisando de Maracugina.
Mas, enfim, não vim desfiar meus medos. Não agora, pelo menos. Eu notei que alguns assuntos são recorrentes nos primeiros meses de adaptação dos imigrantes recém-chegados. E, embora eu ache que vou penar em alguns, fico feliz em ver outros provavelmente não me trarão dificuldade. Separei esses aqui, para consideração e posterior comparação, quando estiver por lá:
1. Idioma(s): aqui eu nem tento me enganar. Vou penar seriamente. Não importa há quanto tempo eu estude inglês, não importa o quanto os professores de francês tenham me elogiado, não é livro-texto ou prova de fim de semestre que estarão em jogo. É a comunicação de fato, a integração, é escalar os degraus entre o imigrante em mim que balbucia uma frase uga-buga e aquele para quem a língua já não é um obstáculo intransponível. Noto que muita gente dizendo que, embora esteja tendo ou tenha tido problemas no início, foram menores do que eles imaginavam . Torço para que comigo seja assim;
2. Frio/clima: aqui e ali, ao longo dos posts do blog, eu indiquei que detesto calor. Faz e sempre me fez mal. Além de imprestável para qualquer atividade dentro ou fora de casa, eu fico de mal humor, sinto um cansaço bizarro (mais que de costume), e quase fujo das pessoas. Sempre preferi o frio. A questão é que eu nunca peguei -30ºC. Embora eu saiba que ninguém fica de bermuda cáqui e havaiana curtindo uma brisa no inverno quebequense, eu me pergunto até onde vai meu amor pelo frio (ou minha raiva ao calor). E acho que neve por dias e dias deve ser um saco para quem tem de ir e vir como morador. Enfim, essa só lá pra saber;
3. Morar num cubículo/cafofo: gente... eu já moro num cubículo. Desde que me mudei para São Paulo - cujos preços de imóveis não são tão diferentes assim dos de Brasília, se você considera as regiões mais habitáveis da cidade - eu entendi uma coisa sobre mim: enquanto eu não estiver com a vida definida (super subjetivo, com certeza virá um post-melação no futuro sobre isso), eu não tenho muitas pretensões em relação a imóveis. Morei quatro anos numa kit em São Paulo, e só saí de lá porque a dona resolveu pedir o imóvel de volta para passar para um sobrinho ou algo assim. Agora, o apê onde moro não é muito maior. Então, ir para Montreal e morar numa kit (desde que não esteja caindo aos pedaços) não é bizarro pra mim. Na verdade, acho que será preferível de início. A mesma coisa em relação a móveis e apetrechos domésticos. Gente, eu estou há quase 7 anos sem fogão e sem mesa em casa! Só me dei conta disso quando, conversando com colegas de trabalho a respeito de moradia, citei isso como dispensável dependendo de que tipo de vida a pessoa tem. Os olhares de estupefação e as palavras de horror vieram rapidinho. Mas a verdade é que me viro bem com cama, geladeira/frigobar, microondas - e um computador, claro;
4. Doméstica: um dos compromissos que firmei comigo mesmo quando resolvi me mudar para São Paulo era o de não mais pagar ninguém para limpar a minha sujeira. Na casa dos meus pais, sempre tivemos uma empregada doméstica bem daquelas de novela do Manoel Carlos, que já trabalha há tampo tempo que é parte da família, cujos filhos vimos nascer e crescer, etc e tal. Sou e serei eternamente grato a ela por tudo o que fez, e entendo, até certo ponto, o paradoxo de que, de qualquer forma, trabalhar como doméstica seria a única alternativa para algumas pessoas. Mas eu realmente não gosto da ideia de alguém se curvar para limpar minha própria privada. De modo que, há quase sete anos, eu sou o Senhor Absoluto da Minha Privada e de todos os outros cantos da casa que mereçam uma limpeza. E não, não vivo pisando em pedaço de pizza dura no chão ou espantando a "natureza" (aranhas, baratas, moscas & cia). Sou pobre, mas limpinho. Então, já estou adaptado e pronto para continuar me virando sem empregada doméstica;
5. "Faça você mesmo": outro campo em que eu tenho muito a aprender. Esses anos em São Paulo têm servido para me mostrar todo um mundo de assuntos que eu praticamente desconhecia. E, avesso a ficar pagando caro por coisas que eu mesmo posso fazer, comecei - com a ajuda de São Google e Mestre YouTube - a me inteirar de coisinhas bestas como pequenos reparos domésticos. É dar um problema no apartamento e pimba, lá estou eu procurando alguma coisa para me amparar nesse momento de necessidade. Com isso, passei a entender melhor de algumas coisas, despertei minha curiosidade sobre outras, mas estou muuuuuuuuuuuuuuito longe dos canadenses, que fazem conjunto de mesa e seis cadeiras + conjunto de cristais LaVerrerie na garagem de casa. Mas estou super aberto, e eu me amarro na ideia de não precisar ficar chamando alguém pra fazer coisas que eu mesmo possa fazer;
6. Rótulo de imigrante: não vou negar que eu tenho um tanto de receio, sim, de virar "aquele imigrante brasileiro" nas rodas sociais. E acho que vai ser inevitável, até certo ponto. O que eu não quero é que isso chegue a atrapalhar a minha integração. Fato é que querer é uma coisa, poder é outra, e não são tão poucos assim os relatos de quem já teve de se provar mais de uma vez para não ficar só como "aquele imigrante brasileiro". Como eu não estou saindo daqui cheio de competências e habilidades profissionais sazonadas e temperadas por anos na labuta (sou servidor público há 10 anos, gente.. até onde consegui ver, isso só te prepara para a comodidade), acredito que vá ter de ralar ainda mais que o imigrante médio. Mas vamo lá, né? Se eu quisesse comodidade, voltava pra casa dos meus pais;
7. Saudade: vai pegar. Não tem jeito. Morando há 7 anos sozinho, eu já tive o rompimento inicial, que acredito ser o mais dolorido. Ainda assim, vou passar alguns meses em Brasília antes de embarcar de vez, e saber que estarei a 15 horas de voo em vez de 1h30 não facilita muito as coisas. Mas torço para que esses anos aqui já tenham me deixado um tanto preparado. De resto, acredito que eu vá sentir falta de uma coisa ou outra do Brasil, mas agora não consigo imaginar o quê. Rá!
Tem outros tópicos, claro, fora os meus particulares (que em algum momento verão a luz do blogue), mas acho que esses são os mais recorrentes. Alguém aí tem algum pra compartilhar/acrescentar/recusar?
À bientôt!