segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O Curso de Inglês da McGill - Epílogo

Não bastasse a McGill ter sido responsável por alguns dos meus melhores dias até agora aqui em Montreal, olha o que eles ainda me deram no final:




Chegou na hora certa pra dar me dar novo ânimo em relação ao francês. Quem sabe chego lá um dia também na língua de Molière, né?

À bientôt!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Le Réveil de la Force

Não vou nem tecer comentários sobre meu nível de nerdice nas 13487 vezes assistindo a esse trailer, maaaaaaas foi bom poder assistir em francês! Tá certo que tem só um punhado de frases e o ritmo é tranquilo, mas neste momento em que a gente está se esforçando pra melhorar no idioma, qualquer coisa bem compreendida deve servir de motivação, né não?

Então vamos de Star Wars: Le Réveil de la Force! E que venha dezembro!




À bientôt!

domingo, 18 de outubro de 2015

E o frio já chegou!

Depois de 34 anos de verão praticamente de janeiro a janeiro, não tenho mais do que reclamar! Ontem Montreal registrou (ou o meu celular registrou) a primeira sensação térmica negativa pós-verão. Observem:




E hoje, no início da tarde, rolou a primeira neve! Tá certo que durou um minutinho e meio só, e os flocos eram beeeeeem pequenos, mas,  para fim de registros, foi a primeira depois do verão!

Se eu tô achando ruim o frio? Em algum momento no futuro pode ser que eu responda afirmativamente, mas,  por enquanto, ainda no meu primeiro ano por aqui e sujeito a pulinhos de felicidade vendo esquilos e neve, não tem como. Tô adorando sair encapotado pra rua!

À bientôt!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte III


Depois do susto da primeira aula de francês escrito, sentei e coloquei a cabeça no lugar (ou tentei, pelo menos). Cheguei à conclusão que, provavelmente, a maioria dos alunos que mandou muito bem na hora de falar talvez já more há um tempo por aqui. Afinal, o curso é aberto para qualquer um que não seja francófono nativo. Então, é bem possível que muita gente já esteja vivendo aqui há um tempo, consiga se expressar muito bem falando, mas tenha problemas para escrever. Isso é algo bem normal, em qualquer idioma. Quando parei pra pensar, me lembrei que vários brasileiros que conheço obviamente se expressam muito bem em português na hora de bater um papo; mas coloque-os para escrever e você vê o slogan "Brasil: Pátria Inducadora" em ação:


Claro que esse pensamento não resolvia o meu problema, mas me dava, ao menos, um pouco de calma. Decidi não tomar nenhuma decisão quanto à minha permanência na aula de francês escrito antes de ir pra aula de francês oral. Depois que eu sentisse o drama da coisa e, principalmente, se eu sentisse que a coisa seria tão ou mais puxada que a aula escrita, eu resolveria o que fazer.

Ainda assim, tinha a tal da análise pra fazer, né? Em algum momento do dia seguinte à aula de francês escrito, me dei conta que eu não sabia se havia um formato específico a ser seguido: precisava imprimir? Manda por e-mail? Precisa de cabeçalho? Quais informações preciso colocar, além do dever em si? Pode parecer besteira, mas aprendi na McGill uma série de coisas desse tipo que podem até fazer você perder nota, dependendo do professor. Então, como a professora não disse nada, resolvi escrever um e-mail pra ela.

Tentei ser o mais formal que pude, já que ela não foi um poço de simpatia durante a aula. Perguntei se havia um formato específico para os trabalhos da aula, onde podia obter esse tipo de informação, se precisava imprimir o trabalho ou mandar por e-mail. Ainda acrescentei que talvez as perguntas fossem muito básicas, mas era o meu primeiro trimestre, então, eu estava um tanto perdido.

Ela me respondeu no fim de semana. Ou talvez eu devesse dizer que ela tentou responder. Na verdade, ela só disse o que eu já tinha ouvido na sala: tínhamos que fazer a análise do texto "seguindo o que foi passado na aula" (embora ela não tenha dado nenhum roteiro explícito para isso, o que me fez pensar que só quem já fez análise de texto teria uma ideia do que ela provavelmente queria) e que tudo seria corrigido na aula. Nada sobre formato para os trabalhos gerais da aula, sobre se há um lugar para eu pegar essas informações, se eu devia usar o sistema para enviar o trabalho (afinal, ela falou em correção em sala, mas, até aí, ela poderia querer ver o que a gente tinha feito. Isso sem falar que ela abriu um link no sistema para envio do trabalho), nada. E aí?

Resolvi defecar pra ela. Já que não respondeu de forma clara e objetiva, eu ia fazer como me desse na telha. Mas isso me mostrou que realmente ela não é do tipo professora Helena. 


Se eu resolvesse ficar, tinha a séria impressão de que seria osso.

Entretanto, como falei, adiei a decisão para depois da aula de francês oral. Tive uma semana entre a aula escrita e a oral, e aproveitei para estudar o máximo que pude e me aconselhar com o meu colega quebeco com quem estou fazendo intercâmbio linguístico. Falei da minha impressão em relação à aula e à professora e que estava com receio da aula de francês oral ser mais ou menos do mesmo nível. E falei que não estava pronto pra expor opiniões e pensamentos lá muito complexos em francês.

—Mas você faz isso toda semana aqui comigo!—respondeu ele.

—Mas com um bilhão de erros, né?—retruquei.

Em suma, ele falou pra eu relaxar. Que talvez a aula de francês escrito não tenha sido uma boa primeira impressão, mas que eu iria ganhando confiança ao longo do trimestre e logo estaria tudo bem. Concordei em relação à parte de "ganhar confiança", mas tinha minhas dúvidas quanto ao "tudo bem".

Enfim, chegou a segunda-feira seguinte e lá fui eu pra aula de francês oral. Mesmo ritual: saí mais cedo de casa, peguei três metrôs, cheguei no prédio da Faculté de L'éducation Permanente e fui consultar o quadro com a listagem e classificação. Eu sabia que era impossível eu estar num nível alto dada a tragédia que foi a minha entrevista, então nem estava tão preocupado, no fim. Como tinha ficado no Avançado 1 no francês escrita, com certeza tinha ficado no Intermediário Qualquer Coisa no francês oral. Procurei meu nome na lista. Achei. Nível de francês oral: Avançado 2.


Que @!#$@*&! é essa???? Quem deixa esses avaliadores da Universidade de Montreal beberem antes de entrevistar os alunos??? Não tem ninguém comandando essa bagaça desse universo, não?? Ou é o Darkseid que tá pilotando essa !@$&*#&@????

Quase, quase, QUASE fui falar com a coordenadora do curso, que estava ali perto orientando os perdidos. Pensei em chegar lá e falar "onde é que você deixou seu juízo, minha senhora?", mas é óbvio que eu tinha primeiro que assistir à aula pra poder falar isso de forma tão... direta.

Achei a sala bem rápido e sentei lá no fundão. Ah, queria nem saber! Não estava nem aí de onde eram os outros alunos, se a sala era grande, pequena, oval, se a cor da parede combinava com a lousa ou se tinha tomadas para eu carregar o celular (mas tinha). Estava pensando é que, como aquecimento, era bem possível que a professora pedisse pra gente recitar de cor nossa passagem favorita de Molière ou Victor Hugo e explicar o contexto histórico da joça toda sem esquecer nenhuma liaison. Ah, inferno!

Quando a professora entrou e deu "bonsoir!", eu já quase levantei a mão e disse "protesto!". Mas aí notei que ela, pelo menos, tinha cumprimentado—coisa que a outra, de francês escrito, não tinha se dignado a fazer. Então esperei. E fiz bem! A professora não só se apresentou, perguntou o nome de cada um, fez um joguinho pra tentar adivinhar de onde todo mundo era e explicou como seriam as aulas, como também perguntou se havia pessoas novas no programa, gente que nunca havia estudado na UdeM. Passou uma lista para os novatos colocarem o nome e, em seguida, começou a aula.

De cara, foi bem mais rápido fazer uma pré-avaliação da turma. Afinal, como é uma aula de francês oral, todo mundo tem que falar, néam? Então eu relaxei um pouco mais, pois vi que tem gente de todos os níveis, mais ou menos como no curso de inglês da McGill, que também era avançado. As europeias da sala (duas alemãs, uma finlandesa e uma austríaca) tem um nível muito, muito bom. Algo que eu realmente classificaria como "avançado". Já eu, um espanhol, um iraniano, uma mexicana e um búlgaro temos um nível que eu diria ser intermediário. O restante (umas cinco ou seis pessoas, incluindo um outro brasileiro) tem um nível mais no limite entre básico e intermediário. Claro que isso tudo é muito subjetivo: a minha escala particular, como ficou óbvio, não bate em nada com a da UdeM, e provavelmente não bate com o do Quadro Comum Europeu, e nem com a sua classificação pessoal, caro(a) leitor(a). Mas é só pra dar uma ideia de que, embora a turma seja "Avançado 2", tem gente em todos os níveis de aprendizado.

A professora—francesa, o que acabou com as minhas esperanças de escutar o sotaque quebeco mais assiduamente neste trimestre—foi um anjo de candura. Deixou todo mundo tranquilo em relação ao acompanhamento das aulas, trabalhos e provas, mas disse que o importante é falar. Falar entre nós, falar com ela (professora), participar em sala. Falou pra evitarmos as línguas maternas (e lançou um olharzinho todo especial pra mim e pro outro brasileiro, e também para as alemãs e a austríaca, embora tenha ignorado os de fala hispânica) e finalizou dizendo que não existe aula que ensine ninguém a falar: ela dá as ferramentas pros alunos utilizarem e, em seguida, é com eles.

Resultado: saí de lá beeeeeeeeem mais tranquilo. Não que tenha me parecido fácil; meu problema maior é falar, então qualquer aula já seria um tanto complicada, principalmente por causa da minha ansiedade. Mas, pelo menos, não me senti tão atrás de todo mundo como aconteceu na aula anterior. Senti que realmente consigo fazer o que preciso fazer, por mais que isso exija de mim. Enfim, senti que talvez tenha ficado no nível certo, por mais que discorde do tal "avançado". E, como a professora disse, agora é comigo.

Com base nisso, resolvi que iria dar a cara a tapa e iria continuar na aula de francês escrito. Se eu tivesse que mostrar meu francês uga-buga, paciência. Fora meu orgulho, o dano seria mínimo, já que não posso ser avaliado pelo meu francês oral na aula de francês escrito, certo? Então, pronto.

Isso tudo aconteceu na primeira semana entre as duas aulas, entre 08 e 14 de setembro. Tô só um pouquinho atrasado hehehe. Mas, como as aulas, em si, são só aulas, não preciso ficar relatando tudo o que acontece, claro. Então no próximo post (ou talvez nos próximos) eu vou fazer um apanhado de como foram as coisas até agora. Sim, porque até prova nas duas aulas eu já fiz.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte II

Se você não leu a parte I, clique aqui!

Dia 08 de setembro chegou, e lá fui eu de metrô para a Universidade de Montreal. Eu imaginava que o curso e a experiência seriam bem diferentes da McGill, então só faltava descobrir o quanto. E esse foi o primeiro ponto: pra McGill, eu ia à pé; pra Universidade de Montreal, preciso pegar três metrôs. Levo, em geral, uma meia hora pra chegar lá. Em dias tensos, uns quarenta minutos. Nada de mais, na minha opinião, mas a parte ruim é ter que acrescentar na brincadeira (e no orçamento) mais uma despesa: transporte público.

Quando cheguei ao prédio da universidade, o térreo estava fervilhando de estudantes. Os responsáveis pelo curso colocaram um quadro com a listagem dos alunos por sobrenome e a classificação obtida, juntamente com o número da sala. Tive que esperar um pouquinho porque chegava gente de todo lado e, embora a maioria meio que formasse uma fila imaginária, alguns vinham comendo pelas beiradas e tumultuavam o meio de campo. Quando finalmente me vi cara a cara com a lista, procurei e achei meu nome. Nível de francês escrito: Avançado 1.



Tudo bem, eu tenho consciência de que escrevo melhor do que falo, mas... avançado?? "Bom", pensei, quando o estado de choque começou a ceder, "pelo menos é Avançado 1. Quantos serão? De repente, pode ser que eu consiga ficar bom de verdade na escrita até o fim de todos os avançados".





Fast forward pro futuro: depois da aula, e nos dias que se sucederam, descobri que havia só Avançado 1 e 2. Depois de vários #comassim? na minha cabeça, fiquei sabendo sobre a reestruturação do curso. Os avançados desapareceram, e agora têm nomes high society, tipo, Escrita e estilo. Criaram mais alguns também, específicos para vida universitária e redação científica. Rewind pro primeiro dia de aula. 




Fui atrás da sala, subindo as escadas apinhadas de gente. Quando cheguei no andar certo e achei o corredor, por algum motivo, que ainda não sei explicar, me lembrei do CEUB (Centro de Ensino Unificado de Brasília, uma faculdade particular). Talvez tenha sido a modernidade e claridade do local, que contrasta e muito com, por exemplo, a UnB, onde estudei. A impressão geral foi positiva, exceto pelo tanto de gente zanzando pra lá e pra cá. Isso me fez lembrar mais da escola do que da universidade.

Entrei timidamente na sala, que é bem ampla, com mesas longas dispostas em três filas. Cada mesa comporta de três a cinco alunos. A sala é no estilo auditório: as mesas mais afastadas do quadro são elevadas, de modo que o professor fica "embaixo" e os alunos do fundão ficam "em cima". Não havia um número grande de pessoas na sala quando entrei. Arrumei um lugar mais ou menos no centro, sentei, tentei relaxar (claro que não consegui) e esperei. Tinha chegado quinze minutos antes, então fiquei só mesmo observando os outros alunos chegando.

Juro que, quando a professora chegou, não achei que fosse professora. Primeiro, porque ela não disse nada. Nem "boa noite", nem "oi", nem "vai pro inferno", nada. Segundo, porque ela começou a tirar cabos da mochila e daí achei que era alguma funcionária que tinha ido checar se o projetor estava funcionando ou preparar algum equipamento. Quando ela começou a tirar papéis da mochila e espalhar sobre a mesa, aí caiu a ficha de que era a professora. Achei super estranho. "Vai ver", pensou o inocente, "ela só vai levantar os olhos e cumprimentar quando der a hora".

Mas não. Quando deu a hora, ela foi até o quadro, escreveu o e-mail dela, colocou no quadro o plano de aula e começou a falar sobre provas e trabalhos. Assim, sem cumprimentar, sem perguntar se todo mundo estava ali pra aula de francês escrito, se tinha algum novato na turma, coisas que até eu, quando dei aula de inglês na Wizard aos 19 anos, fazia. O jeito de falar da professora era semi-automático, característico de alguém que (1) já leciona a mesma coisa há muito tempo ou (2) descobriu, em algum momento, que detesta ensinar, mas não sabe o que fazer pra sair dali, então leva com a barriga. Como primeira impressão das aulas, foi frustrante.

Conforme ela seguiu com a aula, alguns alunos se animaram a participar. Com horror e lágrimas, constatei que o nível de francês oral da galera que abriu a boca era infinitamente superior ao meu. Gotas de suor de desenho japonês brotavam aos montes, principalmente quando a professora começou a pedir sugestões aos alunos. "Odin", pensei, "se ela virar pra mim e me mandar abrir a boca, todo mundo vai achar que está diante do Capitão Caverna".


A aula estava sendo sobre análise de texto (!), como identificar certos elementos no parágrafo introdutório, como um texto argumentativo é desenvolvido e por aí vai. Metade do meu cérebro estava prestando atenção e mandando minha mão fazer anotações como se a vida dependesse disso, enquanto a outra metade ficava lançando perguntas do tipo "quem mandou se meter a ir pra faculdade tão cedo?", "por que você não fez um cursinho básico de revisão antes de se meter à besta?" e coisas do tipo, coisas que nem eu, nem a outra metade do cérebro tínhamos condições de responder naquele momento. Ao longo da aula, ficou claro pra mim que o jeito da professora era o tipo (1) acima: ela já dá aquela aula há um bom tempo e passa o conteúdo aos alunos como se eles já soubessem do que se trata. Quando a aula acabou, sem que eu tivesse aberto a boca nem pra pedir pra ir ao banheiro, eu estava um turbilhão de sensações: a professora dominava o conteúdo (ponto positivo), mas era extremamente antipática (ponto negativo) e passava o conteúdo como se a gente tivesse tratado sobre o assunto ontem (ponto negativo duplo). A turma parecia bastante diversificada (ponto positivo), mas todo mundo que abriu a boca tinha francês nível Juliette Binoche (ponto negativo, dado o meu transtorno de ansiedade)—inclusive, uma menina com traços asiáticos fala francês com sotaque quebeco im-pe-cá-vel—, embora eu tivesse esperança que os outros fossem mais uga-buga como eu (ponto meio positivo). No final, tenso pelo jeito da professora e pelo medo de ter que abrir a boca pra falar, achei que ia dar pra relaxar. Mas aí ela passou o dever de casa: analisar dois textos, um do Voltaire (!!) e outro do La Bruyère (!!!) para a aula seguinte. Ah, e dois alunos seriam escolhidos para apresentar a análise.

Em algum lugar, eu sabia que Cersei Lannister estava sorrindo e tomando vinho, esperando eu ser decapitado.



Juro como voltei pra casa bastante preocupado e—por que não?— frustrado. Embora uma aula com aquele nível de exigência sem dúvida pudesse trazer muita coisa boa em termos de conhecimento, eu fiquei me perguntando se a minha redaçãozinha no dia do teste de nivelamento tinha sido tão boa assim pra o pessoal da Universidade de Montreal achar que eu tenho condições de analisar textos de Voltaire e fazer explanações orais sobre o assunto. Parte de mim queria procurar o formulário de desistência do curso assim que saí da sala, mas outra parte ficava me oferecendo água com açúcar e dizendo "calma, vai passar. Foi só o choque inicial, deixa pra tomar qualquer decisão depois". Achei essa parte de mim mais razoável, então tomei o metrô de volta e tentei relaxar. Mas foi difícil.

No caminho, lembrei de ter lido várias vezes sobre o nível de exigência das faculdades daqui comparadas às do Brasil. "Deve ser isso", pensei, "taí a tal exigência", embora eu também pensasse que o certificado, apesar de tudo, ainda é um curso de idioma. Sem ainda entender direito o que tinha acontecido, fiz a única coisa que achei sensata: revisei as minhas notas e fui começar a procurar material na Internet sobre o que tínhamos visto em sala. Se eu fosse continuar no curso, era bom preparar a minha possível apresentação de análise. Aff...

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte I

Como mencionei nas postagens anteriores, meu curso na Universidade de Montreal já começou. Estou fazendo o Certificat en Français Langue Seconde (que, a partir da sessão de inverno, ganhará um sobrenome: agora vai ser Certificat en Français Langue Seconde: Culture, Études et Travail). Terei que cumprir 30 créditos, atingir certos níveis e ter uma nota geral média pré-determinada para pode clamar o diploma no final.

Ou seja: agora é que o negócio ficou sério!

Diferente do curso de inglês da McGill (que eu fiz basicamente pra destravar a língua), o curso de francês é mais que necessário pra mim. Meu francês ainda é muito básico, na minha opinião, e, embora eu consiga me virar muito bem aqui usando esse basicão, não vai muito além disso: me virar. Eu sei que tem muita gente pra quem o importante é se comunicar, e eu concordo que, na maior parte dos casos, é isso mesmo. Se você for para o hospital porque está sentindo dor na lombar, o importante é dizer que dói, onde dói e o quanto dói. Se o complément object direct vai vir antes do primeiro verbo ou se ele vai alterar a grafia do segundo não tem a menor relevância quando você está tentando sentar como a véia d'A Praça é Nossa.  




Dito isso, eu, particularmente, acho que é importante falar certo. Ou, pelo menos, tentar o máximo possível. Acho que terei mais dificuldade para seguir determinadas profissões e assumir determinados cargos se o idioma não estiver bom. Querendo ou não, as pessoas julgam. Juntamente com a aparência física e a indumentária, acredito que o modo de falar e uso da linguagem estão no top 5 das coisas avaliadas inconscientemente por quem encontro por aí. E isso contribui para um conceito e avaliação prévios do que pode ser que você seja. Mas, se isso ainda não fosse razão pra mim, tem o simples fato de que eu quero realmente dominar o francês.

Só que, pra isso, vou ter que ralar. Acabou a moleza.

Teste de Nivelamento

Como em qualquer custo, tive que me submeter a um teste de nivelamento. Ele foi aplicado no final de agosto. Tive que ir em duas noites diferentes pra fazê-lo, já que, seguindo o que minha conselheira falou, optei por pegar uma disciplina de francês oral e outra de francês escrito, e não dá pra fazer mais de um teste por noite. A Faculté de l'Éducation Permanente, que é quem coordena o curso do certificado dentro da Universidade de Montreal, disponibiliza três noites para os testes. Então, se você não pode ir no primeiro dia, por exemplo, ainda tem duas chances.

Não tive que me inscrever ou coisa do tipo. No dia (ou melhor, na noite), simplesmente cheguei lá antes da hora e procurei a sala onde o teste seria aplicado. Eu também podia escolher entre o teste oral e o escrito. Como falar pra mim é sempre o pior em qualquer idioma (ansiedade, traumas de infância, etc, etc, etc), resolvi fazer logo esse. Na entrada da sala, passei por uma rápida identificação por documento (eu, todo feliz, mostrei a minha carteira da Assurance Maladie. Como é bom parecer cidadão!), me sentei e aguardei.

Uns quinze minutos depois do horário marcado, a coordenadora do curso foi para a frente da sala e passou algumas orientações. Deixou claro que não ficaríamos sabendo o resultado no dia, explicou algumas regras da universidade e pediu para que preenchêssemos um pequeno formulário e também indicássemos o nível de francês que acreditávamos ter naquele momento. Havia seis opções, a primeira sendo o nível mais baixo ("sei falar 'Bonjour' ou nem isso") e a sexta, o mais alto ("posso explicar a Teoria da Relatividade de um só fôlego com sotaque de Marselha"). Por muito pouco não marquei a segunda opção, que era algo do tipo "sei que existem COD e COI, mas não sei pra que servem", mas achei que estava pegando muito pesado comigo mesmo (o que acontece só de vez em sempre). Então marquei a opção três e rezei para que isso realmente não tivesse influência no teste.

Terminada essa parte, formamos uma fila para receber um número de sala, sala essa na qual faríamos a prova que era "só" uma entrevista com um avaliador. Depois que peguei minha ficha com o número, fui procurar a sala e, claro, já havia uma outra fila enorme lá. Pelo que entendi, dividiram as pessoas em oito salas, e os avaliadores tinham níveis também: alguns estavam mais acostumados a trabalhar com alunos iniciantes, outros com alunos intermediários e outros ainda com alunos avançados. Calculei que a minha sala teria, então, um avaliador "intermediário", já que eu tinha marcado a opção correspondente. Se acertei ou não no meu cálculo, provavelmente nunca saberei.

Esperei, esperei e esperei. Quando finalmente chegou minha vez, a entrevistadora pediu para eu ajudá-la a passar umas cadeiras para pessoas que ainda estavam aguardando do lado de fora e já começou a perguntar meu nome, de onde eu vinha e o que eu fazia. Fui respondendo enquanto passava as cadeiras e, entre fechar a porta e me sentar, terminei de responder as perguntas de que lembrava. Surpreendentemente, a frase seguinte dela foi:

—Mas você tem uma pronúncia ótima! Você estudou na Aliança Francesa?

Fiquei em choque e travei. Daí lembrei de agradecer. E só então expliquei que havia estudado lá, sim, mas que havia pego a base numa outra escola, chamada IFESP, em São Paulo. Ela parabenizou de novo e veio com outras perguntas: há quanto tempo eu estava em Montreal, quais eram os meus planos, se eu queria fazer um curso superior na Universidade de Montreal... pediu pra eu comparar Brasília e Montreal, pra eu relatar como foi a minha chegada aqui, o que fiz no primeiro diz, como me senti, o que espero do curso. Enfim, as perguntas eram todas feitas de forma casual, mas, claro, visando ver até onde eu conseguia ir. Eu acho que comecei até bem, mas acho que dei muita importância pro elogio que ela fez no início e acabei me desconcentrando. Daí todas as minhas falhas e inseguranças em relação ao idioma apareceram. Tanto que, após o elogio, ela olhava pra mim com cara e sorriso de quem estava se encontrando com o Dalai Lama; mas, no final, a cara dela era de alguém que tinha visto alguma cena com o cigano Igor.


Ela terminou dizendo que já tinha tudo de que precisava e que eu saberia o resultado no primeiro dia de aulas. Falou pra eu chegar mais cedo porque pode ser meio complicado encontrar a sala, principalmente pra quem está estudando na universidade pela primeira vez. Agradeci e fui embora, com a sensação de que tinha tomado 7 a 1 da Alemanha.

No caminho, pensei melhor e achei que tinha sido uma coisa boa: melhor ficar num nível mais baixo e poder começar o meu percurso revisando conceitos básicos e ir incorporando-os gradualmente ao meu dia a dia do que ser colocado em um nível avançado e depois ficar uga-bugando dentro da sala. Esse pensamento me deixou em paz.

No dia (ou noite) seguinte, lá tomei o caminho da roça de novo para a universidade, desta vez para fazer o teste escrito. Nesse dia, mudaram de última hora o local do teste e lá fui eu procurar um daqueles pavilhões perdidos no campus. Levei uns 10 ou 15 minutos para achar o pavilhão e a sala, mas depois foi tranquilo. Não houve identificação no início: cada um que chegava era solicitado a sentar em uma das mesas que tinham papéis. Uma meia hora depois do horário marcado (provavelmente por causa da mudança de local), a responsável pela prova explicou as regras e o teste, de forma bem parecida com o dia anterior. Basicamente, era só uma redação, cujo tema estaria no alto da página com um pequeno parágrafo para nos dar uma direção. Eu achei que haveria uma parte gramatical mais específica, mas não. Enfim, a redação era sobre tecnologia e, pra mim, foi bem mais tranquilo. Sem a trava de ter que falar, escrevi de forma tão fluida que até me espantei. No final, quando entreguei o teste, fiz a identificação e, de novo, fui informado de que o resultado estaria disponível no primeiro dia de aulas, num listão que colariam na parede.

E foi isso, pelo menos de início. Dali, eu teria que esperar quase duas semanas até o início das aulas. A de francês escrito começaria no dia 08 de setembro e a de francês oral, no dia 14. Estava curioso a respeito do resultado do teste, claro, mas, como não tinha o que fazer, só me restava curtir as últimas semanas de "férias".

No próximo post, falo da aula de francês escrito.

À bientôt!

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