quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte III


Depois do susto da primeira aula de francês escrito, sentei e coloquei a cabeça no lugar (ou tentei, pelo menos). Cheguei à conclusão que, provavelmente, a maioria dos alunos que mandou muito bem na hora de falar talvez já more há um tempo por aqui. Afinal, o curso é aberto para qualquer um que não seja francófono nativo. Então, é bem possível que muita gente já esteja vivendo aqui há um tempo, consiga se expressar muito bem falando, mas tenha problemas para escrever. Isso é algo bem normal, em qualquer idioma. Quando parei pra pensar, me lembrei que vários brasileiros que conheço obviamente se expressam muito bem em português na hora de bater um papo; mas coloque-os para escrever e você vê o slogan "Brasil: Pátria Inducadora" em ação:


Claro que esse pensamento não resolvia o meu problema, mas me dava, ao menos, um pouco de calma. Decidi não tomar nenhuma decisão quanto à minha permanência na aula de francês escrito antes de ir pra aula de francês oral. Depois que eu sentisse o drama da coisa e, principalmente, se eu sentisse que a coisa seria tão ou mais puxada que a aula escrita, eu resolveria o que fazer.

Ainda assim, tinha a tal da análise pra fazer, né? Em algum momento do dia seguinte à aula de francês escrito, me dei conta que eu não sabia se havia um formato específico a ser seguido: precisava imprimir? Manda por e-mail? Precisa de cabeçalho? Quais informações preciso colocar, além do dever em si? Pode parecer besteira, mas aprendi na McGill uma série de coisas desse tipo que podem até fazer você perder nota, dependendo do professor. Então, como a professora não disse nada, resolvi escrever um e-mail pra ela.

Tentei ser o mais formal que pude, já que ela não foi um poço de simpatia durante a aula. Perguntei se havia um formato específico para os trabalhos da aula, onde podia obter esse tipo de informação, se precisava imprimir o trabalho ou mandar por e-mail. Ainda acrescentei que talvez as perguntas fossem muito básicas, mas era o meu primeiro trimestre, então, eu estava um tanto perdido.

Ela me respondeu no fim de semana. Ou talvez eu devesse dizer que ela tentou responder. Na verdade, ela só disse o que eu já tinha ouvido na sala: tínhamos que fazer a análise do texto "seguindo o que foi passado na aula" (embora ela não tenha dado nenhum roteiro explícito para isso, o que me fez pensar que só quem já fez análise de texto teria uma ideia do que ela provavelmente queria) e que tudo seria corrigido na aula. Nada sobre formato para os trabalhos gerais da aula, sobre se há um lugar para eu pegar essas informações, se eu devia usar o sistema para enviar o trabalho (afinal, ela falou em correção em sala, mas, até aí, ela poderia querer ver o que a gente tinha feito. Isso sem falar que ela abriu um link no sistema para envio do trabalho), nada. E aí?

Resolvi defecar pra ela. Já que não respondeu de forma clara e objetiva, eu ia fazer como me desse na telha. Mas isso me mostrou que realmente ela não é do tipo professora Helena. 


Se eu resolvesse ficar, tinha a séria impressão de que seria osso.

Entretanto, como falei, adiei a decisão para depois da aula de francês oral. Tive uma semana entre a aula escrita e a oral, e aproveitei para estudar o máximo que pude e me aconselhar com o meu colega quebeco com quem estou fazendo intercâmbio linguístico. Falei da minha impressão em relação à aula e à professora e que estava com receio da aula de francês oral ser mais ou menos do mesmo nível. E falei que não estava pronto pra expor opiniões e pensamentos lá muito complexos em francês.

—Mas você faz isso toda semana aqui comigo!—respondeu ele.

—Mas com um bilhão de erros, né?—retruquei.

Em suma, ele falou pra eu relaxar. Que talvez a aula de francês escrito não tenha sido uma boa primeira impressão, mas que eu iria ganhando confiança ao longo do trimestre e logo estaria tudo bem. Concordei em relação à parte de "ganhar confiança", mas tinha minhas dúvidas quanto ao "tudo bem".

Enfim, chegou a segunda-feira seguinte e lá fui eu pra aula de francês oral. Mesmo ritual: saí mais cedo de casa, peguei três metrôs, cheguei no prédio da Faculté de L'éducation Permanente e fui consultar o quadro com a listagem e classificação. Eu sabia que era impossível eu estar num nível alto dada a tragédia que foi a minha entrevista, então nem estava tão preocupado, no fim. Como tinha ficado no Avançado 1 no francês escrita, com certeza tinha ficado no Intermediário Qualquer Coisa no francês oral. Procurei meu nome na lista. Achei. Nível de francês oral: Avançado 2.


Que @!#$@*&! é essa???? Quem deixa esses avaliadores da Universidade de Montreal beberem antes de entrevistar os alunos??? Não tem ninguém comandando essa bagaça desse universo, não?? Ou é o Darkseid que tá pilotando essa !@$&*#&@????

Quase, quase, QUASE fui falar com a coordenadora do curso, que estava ali perto orientando os perdidos. Pensei em chegar lá e falar "onde é que você deixou seu juízo, minha senhora?", mas é óbvio que eu tinha primeiro que assistir à aula pra poder falar isso de forma tão... direta.

Achei a sala bem rápido e sentei lá no fundão. Ah, queria nem saber! Não estava nem aí de onde eram os outros alunos, se a sala era grande, pequena, oval, se a cor da parede combinava com a lousa ou se tinha tomadas para eu carregar o celular (mas tinha). Estava pensando é que, como aquecimento, era bem possível que a professora pedisse pra gente recitar de cor nossa passagem favorita de Molière ou Victor Hugo e explicar o contexto histórico da joça toda sem esquecer nenhuma liaison. Ah, inferno!

Quando a professora entrou e deu "bonsoir!", eu já quase levantei a mão e disse "protesto!". Mas aí notei que ela, pelo menos, tinha cumprimentado—coisa que a outra, de francês escrito, não tinha se dignado a fazer. Então esperei. E fiz bem! A professora não só se apresentou, perguntou o nome de cada um, fez um joguinho pra tentar adivinhar de onde todo mundo era e explicou como seriam as aulas, como também perguntou se havia pessoas novas no programa, gente que nunca havia estudado na UdeM. Passou uma lista para os novatos colocarem o nome e, em seguida, começou a aula.

De cara, foi bem mais rápido fazer uma pré-avaliação da turma. Afinal, como é uma aula de francês oral, todo mundo tem que falar, néam? Então eu relaxei um pouco mais, pois vi que tem gente de todos os níveis, mais ou menos como no curso de inglês da McGill, que também era avançado. As europeias da sala (duas alemãs, uma finlandesa e uma austríaca) tem um nível muito, muito bom. Algo que eu realmente classificaria como "avançado". Já eu, um espanhol, um iraniano, uma mexicana e um búlgaro temos um nível que eu diria ser intermediário. O restante (umas cinco ou seis pessoas, incluindo um outro brasileiro) tem um nível mais no limite entre básico e intermediário. Claro que isso tudo é muito subjetivo: a minha escala particular, como ficou óbvio, não bate em nada com a da UdeM, e provavelmente não bate com o do Quadro Comum Europeu, e nem com a sua classificação pessoal, caro(a) leitor(a). Mas é só pra dar uma ideia de que, embora a turma seja "Avançado 2", tem gente em todos os níveis de aprendizado.

A professora—francesa, o que acabou com as minhas esperanças de escutar o sotaque quebeco mais assiduamente neste trimestre—foi um anjo de candura. Deixou todo mundo tranquilo em relação ao acompanhamento das aulas, trabalhos e provas, mas disse que o importante é falar. Falar entre nós, falar com ela (professora), participar em sala. Falou pra evitarmos as línguas maternas (e lançou um olharzinho todo especial pra mim e pro outro brasileiro, e também para as alemãs e a austríaca, embora tenha ignorado os de fala hispânica) e finalizou dizendo que não existe aula que ensine ninguém a falar: ela dá as ferramentas pros alunos utilizarem e, em seguida, é com eles.

Resultado: saí de lá beeeeeeeeem mais tranquilo. Não que tenha me parecido fácil; meu problema maior é falar, então qualquer aula já seria um tanto complicada, principalmente por causa da minha ansiedade. Mas, pelo menos, não me senti tão atrás de todo mundo como aconteceu na aula anterior. Senti que realmente consigo fazer o que preciso fazer, por mais que isso exija de mim. Enfim, senti que talvez tenha ficado no nível certo, por mais que discorde do tal "avançado". E, como a professora disse, agora é comigo.

Com base nisso, resolvi que iria dar a cara a tapa e iria continuar na aula de francês escrito. Se eu tivesse que mostrar meu francês uga-buga, paciência. Fora meu orgulho, o dano seria mínimo, já que não posso ser avaliado pelo meu francês oral na aula de francês escrito, certo? Então, pronto.

Isso tudo aconteceu na primeira semana entre as duas aulas, entre 08 e 14 de setembro. Tô só um pouquinho atrasado hehehe. Mas, como as aulas, em si, são só aulas, não preciso ficar relatando tudo o que acontece, claro. Então no próximo post (ou talvez nos próximos) eu vou fazer um apanhado de como foram as coisas até agora. Sim, porque até prova nas duas aulas eu já fiz.

2 comentários:

  1. E ai Doug ainda lembra de mim? rsrs
    faz tempo que não passo por aqui.... quer dizer passar eu passo, leio tudo mas faz tempo que não comento!
    Cara me divirto com tuass postagens. muito criativo os gifs.

    Tem feito alguma coisa além de estudar homem??? rsrs quero ver postagens depois de supermercados, preços, parques e todas essas coisas de quem ta do lado de cá quer saber rsrs!

    Novembro faço meu IELTS, vamos ver a tragédia que será!
    A propósito sabes um bom livro de gramatica em inglês? Digo gramática que não ensine o verbo to be nem o present perfect... mas tipo, análise das frases, sujeito, predicado, objeto direto, indireto... queria vê se consigo entender as estruturas gramaticais quem sabe assim consigo escrever melhor.... ô coisinha complexa viu!

    Ahh e o carinha maluquinho que queria tomar banho no teu banheiro? Sumiu? ainda no teu pé??

    Abraços e tudo de bom!

    Att. Itanauã

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    1. Oi, Itanauã! Faz tempo mesmo, hei??

      Olha, uma boa parte do meu tempo é voltada pros estudos, viu? Um tempo atrás, eu estava até com ideia de fazer uns vídeos pra responder perguntas que quase sempre recebo por e-mail e contar as coisas de outra forma. Mas acabei ficando meio preguiçoso, ainda mais sem ter alguém do lado pra dar risada das tentativas de gravar algo que preste hehehe.

      O meu admirador secreto aparece de vez em quando ("já comprou a TV?"), mas eu tô dando um gelo mesmo agora. Pelo menos, com o fim das aulas na McGill, a chance de eu esbarrar com ele é bem menor.

      Faz tempo que não pego em gramática mesmo de inglês, viu? Eu gostava de uma chamada Understanding and Using English Grammar, mas não sei se vai te ser útil. Pelo que eu lembro, ela até tem análise de frases e tal, mas isso é tudo integrado ao resto (tempos verbais, artigos, etc). Mas dá uma olhada, talvez te ajude. E, se alguém estiver lendo o comentário e quiser sugerir outra gramática, fique à vontade!

      Boa sorte no IELTS, tenho certeza de que vai dar tudo certo!! Logo vocês estão por aqui!

      Abraço!

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