Essa tem sido a palavra que me define nas últimas duas ou três semanas. Desânimo. Não exatamente com o processo; afinal de contas, eu já sabia que ia ser demorado e não fico achando que as coisas vão andar de uma hora pra outra, do nada. O desânimo é mais pessoal, tem mais a ver com a estagnação da vida (que, sim, está ligada à demora do processo) e a uma sensação que é velha conhecida minha: a de não saber para onde estou indo e muito menos o que vou - e quero - fazer.
A cada dia que passa, eu me certifico de que meu prazo de validade com São Paulo já venceu. Já não me sinto bem aqui. Não é de hoje, mas, até há algum tempo, era algo de menos importância. Agora, a coisa vem assumindo características de perseguição. Não me sinto mais bem aqui - sim, porque houve uma época, lá nos meus dois primeiros anos de vida aqui, que eu me senti bem. Não realizado e pleno de felicidade, mas estava bem. Não gosto do clima, quente e abafado na maior parte do tempo. Não tenho mais vontade de aproveitar as tais milhares de oportunidades para se divertir e "viver a vida" que gostam de apregoar por aqui. Uma, porque às vezes é tudo tão longe, caro, mal organizado e frustrante que prefiro um cineminha básico. Outra, porque as histórias de arrepiar que você escuta que aconteceram com o amigo do vizinho só porque ele foi à padaria fazem você ter cada vez menos vontade de estar exposto, à vista.
Além disso, o meu trabalho, que era para ser provisório enquanto eu "me encontrava", já dura oito anos. Nunca me realizei nele. Apenas por um breve período, antes de começar, eu pensei que, quem sabe, eu poderia gostar desse trabalho, me realizar nele e seguir por uma vida estável, rumo a uma aposentadoria tranquila. Mas detestei praticamente desde o primeiro dia. Superei a birra inicial, me concentrei nas coisas boas (que existem, é claro) e continuei. Não adiantou. Tentei sufocar a sensação de inutilidade, a raiva e a frustração com as coisas mal feitas e o "jeitinho" que parece permear todo e qualquer tipo de atividade neste país, mas, mesmo que ela fique dormindo um pouco, acaba voltando. Tento ser indiferente, porque não quero acabar com um câncer só por sentir raiva das coisas como elas são ou porque não sei o que fazer da vida (já bastam os resfriados constantes que eu pego), resisto, resisto, resisto, mas não consigo ficar impassível frente a determinadas coisas. E aí me frustro e fico desanimado (e com raiva) de novo, por constatar que não adianta nada. Fazer algo e fazer nada parecem dar no mesmo.
Então, agora estou morando numa cidade da qual não gosto, fazendo um trabalho que não me satisfaz, não encontrando mais diversão nem nas coisas das quais gosto (ou gostava). Minha vontade, às vezes, é só jogar tudo pro alto, voltar para perto dos meus e ficar lá esperando esse processo de imigração terminar. Tirar um descanso da vida. A dúvida, o receito maldito do "será que lá no Canadá vai ser a mesma coisa?" não me aflige agora; minha vontade é só de me desligar de tudo isso que tem me deixado mal e simplesmente sumir. Em vez disso, sigo tentando me lembrar de que estou melhor que muita gente, e que não é proibido querer algo melhor para si, mas, na impossibilidade, deve-se fazer o melhor uso possível do que se tem.
Eu torço, de verdade, para que a ida para o Canadá signifique mudança. Mudança de cidade, de país, de profissão, de idioma, de mentalidade, mas, acima de tudo, de vida. Espero encontrar lá o que ainda não encontrei aqui, por mais que tenha procurado (e ninguém, me conhecendo, pode dizer que não procurei). Porque, dizem, a busca e a jornada para se encontrar são belas. Mas acho que é o tipo de viagem que só podemos apreciar quando chega ao fim.
me identifico com teus dois ultimos paragrafos :D
ResponderExcluirNossa vez vai chegar, sei que essa demora do processo deve ser difícil, mas precisamos ser fortes. Você ai que já está com o processo quase no fim e, eu aqui ansiando para que o tempo que me falta para terminar o curso de adm passe rápido e, que 2015 chegue logo e eu tenha chances de imigrar com o novo processo que iniciará em 2015. Porque também não aguento mais muita coisa aqui. Se tivesse condições financeiras, pegava minhas coisas e ia embora, mas não posso ficar gastando o dinheiro que me foi difícil guardar, porque ai sim, o sonho vai levar muito mais tempo para se concretizar. Então foco e fé que dias melhores virão !!
abraço;
Catherine
http://meetyoutherecanada.blogspot.com.br/
Brigado pela força, Catherine!
ExcluirAbraço!
Ah, como eu entendo... Esse texto poderia ter sido escrito por mim, enquanto estava em Brasília, trabalhando no serviço público. Infelizmente, por experiência recente própria, não posso encarnar o velho discursinho do "daqui a pouco seu visto chega e melhora" porque eu sei que não adianta nada. Se sua vida está chata, ela vai continuar assim ou até piorar com a espera do visto. A única coisa que aliviava a minha mente, eram os paliativos: viagens, amigos, filmes, livros, hobbies... Mas eram apenas paliativos e o cenário todo continuava bem cinza.
ResponderExcluirA parte boa é que sim, eu acho que o Canadá vai representar uma mudança total para você. Aqui eu estou me reconstruindo e estou apenas no começo da minha busca, mas já deu para perceber que aquele acinzentado todo dos meus dias de bibliotecária em um ministério qualquer ficaram para trás. Tenho certeza de que, se você é uma dessas pessoas que buscam, você vai encontrar o seu melhor caminho por aqui. :)
Abraços,
Lidia.
Obrigado, Lidia! Eu também me afundo nos meus livros, viagems, cursos de idiomas e video-games para tirar um descanso da realidade. A nuvem preta já se dissipou um pouco, agora, mas é como você disse: mesmo com as coisas boas, o panorama é cinzento enquanto a gente não consegue, de fato, (se) mudar.
ExcluirEnquanto isso, vou acompanhando a vida de vocês se realizando aí, torcendo para a minha vida entrar nos eixos também quando for a minha vez de desembarcar nas terras do norte.
Abraço!
Fala Rodrigão,
ResponderExcluirCara, eu tenho depressão crônica então sei como é as vezes a gente entrar nessa espiral descendente. A dica que posso dar é que algo precisa mudar, senão, por mais que você lute contra você mesmo, a coisa toda ainda vai descender. Por mais que a gente ignore a "realidade" afundando-se em jogos, filmes e outros entretenimentos, sempre fica aquela luzinha piscando no fundo da mente, te lembrando que atualmente a vida está um cocô.
No meu caso é doença, no seu imagino que deva ser só uma fase, o que é mais fácil de resolver. Mas infelizmente não existe uma receita pronta pra sair dessa, tipo, o que fazer exatamente... O que é fato é que você precisa mudar algo.
O que funcionou pra mim foi quando tirei férias do trabalho e pedi 1 mês de licensa não remunerada pra ir na França estudar francês por 2 meses (alguns meses após ter dado abertura no processo de Quebec). Eu até teria pedido as contas se não conseguisse essa licença. Enfiei a mão na minha poupança-canadá e ranquei a grana pra realmente passar 2 meses fora. Como não era uma curta viagem, realmente me tirou da realidade, esqueci tudo da minha vida pra trás e vivi uma nova vida por 2 meses. Gostei tanto que, quando voltei, fiquei só 2 meses aqui no BR e decidi ir pra lá 2 meses novamente - fui demitido, ai peguei FGTS + outro dip na poupança-canada.
Fiz grandes amizades, encontrei o amor da minha vida (que me deu um pé na bunda depois) e não necessariamente fiz muito turismo. Realmente eu estava vivendo em outra realidade, sem preocupar com dinheiro, emprego, canadá, nada. Voltei com as pilhas totalmente recarregadas e até com outro propósito de vida.
Fica a dica... Eu sei que você, assim como eu, gosta de planejar tudo. Mas solte-se disso um pouco e faça uma doidera. Enfia o pé na jaca, a mão na poupança e vai passar uns 2 ou 3 meses fora, fazendo um curso ou qualquer coisa do tipo. Pode até ser no Canadá, por que não? Pelo que li, parece ser possivel fazer a francisação presencial sem ter o RP, só com CSQ. Mas se o Canadá está sendo uma das causas do seu desânimo, pode ser que um outro país seja melhor. Recomendo fortemente a Riviera Francesa.
Caso deseje seguir algo desse tipo, só leve em conta que o processo ainda anda. Eu mesmo perdi a primeira entrevista pois estava fora. Já era até pra eu estar no Canadá, provavelmente. E eu acabei de receber o pedido dos exames médicos hoje, então você já deve ter recebido o seu também. Planejando uma longa viagem em torno do tempo de processo pode ser uma boa pra ti.
Abraços
Valeu, Philippe! Obrigado pela força. Há algum tempo, pensei em fazer algo parecido com o que você falou, mas essa questão, no meu caso, envolve várias coisas - incluindo a resposta à pergunta "o que eu vou ser quando crescer?". Isso me persegue há mais de uma década, e eu aprendi a não pensar nisso (pelo menos, não como pensava) para poder ir adiante. E funciona na maior parte do tempo. Mas, de vez em quando, entro nessa espiral descendente que consome minha energia e me joga pra baixo. Mas bom saber que com você deu certo, porque posso levar isso em consideração com um pouco mais de confiança na próxima vez.
ExcluirParabéns pelo pedido de exames médicos. Eu e outros mortais continuamos na espera hehehe. Já tá empacotando as coisas?
Abraço e feliz 2014!
Pelo que vejo, esse sentimento é muito mais comum do que parece. Já ouvi comentários parecidos de muitos imigrantes, que já vieram e que ainda estão no Brasil. A boa notícia: imigração é SIM mudança. De tudo o que vc quiser, desde que vc esteja aberto a isso...
ResponderExcluirTente não desanimar...
Beijos!
Obrigado, Pati e Temps! Eu tô mais aberto que frango assado de padaria hehehe. O desânimo e a apatia que se abatem sobre mim de vez em quando é uma soma de questões não respondidas mais descontentamento com aspectos da vida atual. Torçamos para que um pouco (tudo seria melhor!) disso seja amenizado quando eu desembarcar em terras canadenses.
ExcluirBeijão!