sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Quem sou? Onde estou? Para onde vou? Essa eu sei!!!

Eu vou para o Canadá. Para o Québec. Vou para Montreal, a não ser que apareça alguma oportunidade sensacional em outra cidade da província. Mas, em relação ao resto, tudo sempre foi, e continua sendo, uma incógnita.




Agora que a bagunça mundana que eu vinha enfrentando terminou, minha mente começou a se voltar para como vai ser minha vida daqui pra frente, e, principalmente, depois da imigração. Eu não sei se me classificaria exatamente como uma pessoa ansiosa. Não perco o sono com coisas que eu não posso mudar ou que estão muito longe. Mas fico pensando em várias dessas coisas. Sempre fui de antecipar cenários para tentar me preparar e ter "rotas de fuga" caso algo não dê certo. Mas me explica, minha amiga dona de casa: COMO você faz isso se você vai mudar de país e mal conhece a língua, muito menos a cultura, o mercado de trabalho, o pensamento da sociedade, as opções de estudo, a dinâmica de relacionamentos e por aí vai? Sim, porque não é pelo fato de eu ter pesquisado para a imigração ou ler artigos que eu virei PhD em Québec, né? E aí, será que sou ansioso?

Então, tentando dar ordem às coisas, está mais ou menos assim: eu não tenho mais muito saco ânimo no meu trabalho. Nunca tive, se eu parar pra pensar, mas, pelo menos, sempre fiz tudo que tinha de fazer, e acho que bem. Continuo fazendo isso, mas cada tarefa agora me parece mais estressante, burocrática, inútil e estúpida que antes. Eu me pego, às vezes, questionando coisas que já questionava internamente, fazendo perguntas que partiam de mim para mim mesmo - só que agora em voz alta, pra todo mundo ouvir. Tenho tentado frear esses impulsos porque boa parte dos que me rodeiam não veem a questão pelo mesmo ângulo, e eu não quero passar a impressão do cara que cospe no prato que comeu, embora minha posição sempre tenha sido contra a direção normal da corrente. Mas não tenho como fugir do fato de que está cada vez mais difícil ficar quieto.

Aí começo a pensar o que eu faria se eu tivesse o tempo que passo no trabalho totalmente livre. Não há resposta fácil. Algo me diz que eu dividiria as horas entre aprender idiomas, ler e escrever, mas até aí não estaria fazendo nada de mais, e em algum momento eu descobriria que essas atividades não enchem a despensa. O que eu gostaria de fazer pra ganhar dinheiro? Com o que eu acho que poderia trabalhar sem que levantar todos os dias pareça um martírio? Não sou ingênuo nem jovem o suficiente para achar que apenas paixão pelo que se faz é suficiente para dar conta de encher a barriga e o bolso, mas também não entreguei os pontos de vez para achar que é impossível extrair satisfação do trabalho. Essas questões sempre fizeram parte de mim, e algo me diz que elas continuarão fazendo.

De algum lugar dessa salada toda, começam a brotar as perguntas: o que vou fazer quando chegar no Québec? Onde vou morar em Montreal? Será que vou me adaptar à cidade? Será que consigo pagar um apartamento legal mesmo? Será que consigo arranjar emprego a tempo de continuar pagando esse apartamento legal? E que emprego será esse? Conseguirei me adaptar a ele também? Será mais um emprego para pagar as contas ou será que consigo fazer algo que realmente me interesse? E se for só pra pagar as contas, será algo para começar a vida ou estarei condenado ao peso da palavra "trabalho" indefinidamente? Vou conseguir um salário legal com esse trabalho? Conseguirei comprar os livros, os DVDs e as outras pequenas coisas que me deixam feliz (incluindo aí jogos de vídeo game \o/)? Vai dar pra usar o francês e o inglês de forma que me baste no início ou será que vou penar pra conseguir me comunicar com as pessoas? E quanto tempo vou levar para conseguir me comunicar bem nos dois idiomas? Vou conseguir lidar com as situações comuns, como ir comprar uma ferramenta cujo nome não sei pra poder desentupir uma pia (acreditem, isso pode me estressar)? E quanto a estudos? Vontade eu tenho, mas vou ter coragem e oportunidade para isso? Consigo levar três, quatro, cinco anos de estudo? Vai dar pra trabalhar e estudar ao mesmo tempo, mesmo que eu reduza o meu salário e padrão de vida? Vale a pena fazer isso? Mesmo se for pra fazer um curso que, digamos assim, não vá me abrir perspectivas gigantescas de emprego e muito menos me deixar mundialmente rico e famoso? Quanta falta eu vou sentir realmente do Brasil? Sempre sentirei falta da minha família (e olha que ela está a 1h30 de avião daqui),  mas vou conseguir ficar tranquilo sabendo que eles estão há mais de 12 horas de voo de mim? Quanta falta vou sentir da cultura, de saber mais ou menos o que esperar ao parar alguém pra pedir informação na rua ou pra pedir um serviço específico, ou quando for usar o transporte público, pagar contas, declarar imposto de renda? Como serei tratado de fato, sendo imigrante, não tendo o biotipo europeu/norte-americano padrão, vindo de um país pobre, tentando me inserir numa cultura que não é a minha, com um nome que vai soar esquisito aos ouvidos dos nativos? Vou conseguir comprar uma casa de cerquinha branca com um cachorro labrador embutido ou chegarei aos 40, aos 50 morando de aluguel e dividindo apê? Vou ficar o resto da minha vida no Canadá? Vou voltar para o Brasil algum dia? Ou acabarei descobrindo que o Canadá será uma base temporária, e que irei em seguida, por vontade, por oportunidade ou em fuga, para a Rússia, o País de Gales, o Afeganistão, a Nova Zelândia, o Congo, a Hungria?

Obviamente, não há resposta definitiva para nenhuma dessas perguntas. Mas eu penso nelas, e em várias outras, de vez em quando, seja por causa de um post que li em um blog, seja por causa de um artigo, seja por uma notícia, ou simplesmente por fruto da minha imaginação. Algumas me fazem dar risada; outras me dão medo. Mas em nenhum momento eu penso em parar. Não por uma infalível sensação de que "tudo vai dar certo" (não, nem tudo dá certo, nem na minha vida, nem na de ninguém) ou de que "pior do que está, não fica" (sim, sempre dá pra piorar um pouco), mas, sim, por curiosidade. Eu quero ver onde isso vai dar. Quero ver quais serão as respostas àquelas perguntas, se elas vão me satisfazer ou não, se elas se encerrarão ali ou se darão origem a novas perguntas.

No fim das contas, cada vez mais percebo que eu sei, sim, o que me afasta de querer continuar minha vida no Brasil, mas fica claro também que o passo que estou prestes inicia um caminho que não está mapeado em lugar algum.

À bientôt!

2 comentários:

  1. Pois é meu amigo, eu mesma já esqueci q este processo existe, de verdade.
    A ansiedade mata, portanto, n se estresse com tantos pensamentos q não valem se ocupar agora sabe.
    Deixa o tempo passar, mesmo q devagar, e enquanto isso junte dinheiro e não largue o francês.
    Sucesso pra todos nós!

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    1. Então, é realmente só o que dá pra fazer... pesquisar, juntar dinheiro e estudar francês. Mas eu sou assim mesmo, gosto de, pelo menos, dedicar alguns segundos para imaginar como pode ser minha trajetória e criar um esboço de fluxograma para lidar com as opões hehehe. E, com os prazos sempre aumentando, pelo jeito vai dar pra bolar vááááários fluxogramas..

      Abraços!!

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