sexta-feira, 17 de junho de 2016

Imposto de Renda

Não é tudo que faz com que a gente realmente sinta que está vivendo em outro país. Passear pelas ruas, ir a restaurantes, pegar o carro e fazer viagens de fins de semana são ótimas pedidas, mas qualquer turista pode fazer isso. A verdade é que, pra mim, nada me dá mais a sensação de fazer parte de uma outra sociedade do que... ai, ai (suspiro)... os deveres.

Claro que não é com grande alegria e satisfação que você senta pra fazer algo como, por exemplo, sua declaração de imposto de renda no novo país. Mas é esse tipo de coisa, mais do que tomar café no Tim Horton's, que mostra um elo sério entre você e seu novo pedaço de terra. Tem jeito, não, minha gente: é arregaçar as mangas e mandar ver.




No Canadá, são duas as declarações de imposto de renda que devem ser feitas: a federal (para a Canada Revenue Agency, a Receita Federal daqui) e a provincial (no caso dos residentes do Quebec, para a Revenu Quebec). Como no Brasil, há uma faixa de renda que é isenta da declaração. Se você recebe até esse valor, não precisa declarar. Ainda assim, se você imigrou no ano fiscal anterior, é uma boa ideia apresentar a sua declaração, mesmo sem renda, não só por facilitar a sua vida no futuro como também para ter acesso a benefícios concedidos para o governo (dependendo da sua situação).

Eu queria apresentar a declaração, principalmente porque queria tentar entender como a coisa funciona. A ideia era ir lendo aos poucos sobre como o sistema funcionava para ter uma ideia mais sólida quando chegasse a época de declarar (que, como no Brasil, costuma ser nos meses de março e abril). O problema é que fui adiando, adiando, adiando... e, quando vi, não só março já havia chegado e se instalado como abril já estava acenando pra mim.

Finalmente, tomei vergonha na cara e, entre um trabalho aqui e uma prova ali na Universidade de Montreal, lia um pouco de cada vez. Tem até bastante informação, e o site da Canada Revenue Agency tem até videozinhos temáticos. Mas não demorou para dar aquela desanimada sensacional... ô assuntozinho chato! Eu posso não saber o que fazer da vida, mas realmente contabilidade está totalmente descartada! Juro como tentei: baixei manuais, salvei páginas de referência na internet, li exemplos, procurei fóruns... mas, no fim, acabava retendo pouca coisa porque o troço é muito, muito, muito chato. No Brasil, eu também nunca fui fã do imposto de renda, mas já estava acostumado a fazer na prática tudo que dizia respeito à minha situação, então não era nenhum problema. Porém, imagino que, se fosse tentar entender a legislação e os cálculos, me divertiria tanto quanto vendo a grama do jardim crescer.




Como o plano infalível de tentar entender e fazer os cálculos por conta própria não estava rendendo, fui atrás de outra opção. Aqui, como também em várias cidades do Brasil, você pode buscar a ajuda de voluntários que te ajudam com a declaração se a sua situação fiscal for simples. Há desde mutirões em universidades até órgãos de ajuda a imigrantes que se dispõem a ajudar. Só que cada um tem suas peculiaridades: alguns só atendem com hora marcada, outros só atendem uma determinada faixa etária, outros só atendem mulheres, alguns só atendem em uma língua (inglês ou francês), outros oferecem atendentes em outras línguas, e por aí vai. Então, uma pesquisa antes ajuda, e o site do Canada Revenue Agency possui uma lista pra ajudar. Só que, com base na experiência de alguns conhecidos (que saíram do encontro com os voluntários com mais dúvidas do que quando chegaram), juro que fiquei com preguiça de tentar. Um amigo, inclusive, ficou com tanto receio que acabou pagando para um contador dar uma olhada e ver se estava tudo certo. Vale lembrar que essa é só a amostra do meu mundinho, tá, gente? Com certeza, há pessoas por aí que sempre fizeram com voluntários e nunca tiveram problemas. Não é pra generalizar.

Eu também considerei a hipótese de pagar um contador, até porque, se for alguém bom, sempre pode extrair mais vantagens pra você, desde pagar menos imposto até receber benefícios. Ao mesmo tempo, eu sabia que a minha situação era simples. Não trabalhei, não tive renda, e o único patrimônio que tenho está no Brasil. Assim, voltei com a ideia de fazer sozinho. Mas, em vez de tentar entender o processo todo, resolvi apenas fazer a declaração: comprei um dos programas aprovados pela Canada Revenue Agency (no caso, o TurboTax), sentei e mandei ver. Para quem  não sabe, a agência canadense não possui programa gratuito para preenchimento da declaração como temos no Brasil. Assim, se você quer mandar tudo online, precisa comprar a licença de algum programa de terceiros. Além dessa característica, esses programas costumam ser bem mais intuitivos e didáticos do que os formulários, regulamentos, leis e anexos sobre o assunto. O TurboTax, por exemplo, vai te fazendo perguntas e, com base nas suas respostas, preenche ele mesmo os campos dos formulários. Quando você termina de responder as perguntas, o programa pode enviar os dados para a Canada Revenue Agency (e para a Revenu Québec) ou imprimir a papelada para envio pelo correio. Como era a primeira vez que eu fazia a declaração, o programa me alertou para a necessidade de enviar tudo pelo correio, mas me garantiu que, a partir do ano que vem, poderei enviar tudo online.

Achei uma mão na roda! Pelo menos, para quem tem situação simples, acho que vale muito a pena. Fiz as declarações federal e provincial numa noite e, no dia seguinte, fui colocar tudo no correio. Tentei não ficar angustiado porque, na pior das hipóteses, eu receberia uma cartinha da agência dizendo para eu explicar alguma coisa, enviar algum documento ou aparecer para conversar. Como não menti em nada, só seria tenso, mas eu teria como provar tudo que coloquei lá. Para minha alegria, não rolou nada disso: pouco mais de um mês depois de eu ter enviado a papelada, recebi uma cartinha da Revenu Québec dizendo que estava tudo ok e, umas duas semanas depois, um e-mail da Canada Revenue Agency dizendo a mesma coisa. Ufa! Além dessa boa notícia, usar o programa me deixou um pouco mais familiarizado com o jeito deles aqui de fazer a declaração, principalmente depois de eu ter passado semanas lendo sobre o assunto (mas ainda estou longe de ser especialista — e nem quero ser!).

Se alguém aí tiver uma maneira ainda mais tranquila e barata de fazer a declaração, por favor, não seja tímido(a)! Serei eternamente grato!

À bientôt!

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