sábado, 23 de maio de 2015

O Curso de Inglês da McGill - Parte I

Um tempo atrás, escrevi um post contando que tinha entrado no curso de inglês da Universidade McGill. Ontem terminei a terceira semana (de um total de seis) do módulo em que estou matriculado, e só não escrevi antes porque, primeiro, queria dar uma opinião com mais substância (e não dá pra fazer isso com um ou dois dias de aula); segundo, estava sem internet no apartamento e dependia das bibliotecas pra usar wi-fi; e, terceiro, os trabalhos do próprio curso deixavam pouco tempo livre pra eu usar a internet para postar.

Mas eis que surge, radiante e belo (aí, hein, pai??), a minha opinião sobre o curso que estou fazendo! Não custa lembrar que é a minha opinião, sem embasamento científico e que não constitui verdade universal, ok?

Nível

O curso da McGill está dividido em oito módulos: dois elementares, quatro intermediários e dois avançados. É preciso fazer um teste de nivelamento para que determinem o seu nível. Eu fiquei no avançado. A questão do nível avançado é que ele é composto por dois módulos (A e B), mas você pode cursá-los em qualquer ordem. O Avançado A tem uma pegada mais acadêmica, enquanto o B é mais direcionada para o lado profissional. De qualquer forma, pra conseguir o certificado de proficiência, é preciso fazer os dois módulos, independente da ordem. Eu optei por começar pelo módulo acadêmico.

Então, infelizmente não sei falar nada sobre os níveis elementares e intermediários, exceto que exigem um conhecimento básico prévio do idioma pra você entrar mesmo no primeiro nível do curso. Mas não sei exatamente o que seria esse "conhecimento básico prévio", porque... bom, acho que vai ficar mais claro ao longo da postagem.

Objetivo e motivação

Meu objetivo principal não era aprender present perfect ou as regras para se dobrar as consoantes de verbos no gerúndio ou particípio. Resolvi fazer o curso porque eu queria destravar! Se você aí, caro(a) amigo(a) leitor(a), passou os olhos pelos meu posts sobre a chegada e os primeiros dias, deve ter notado que eu mencionei como as frases vinham bonitinhas à minha cabeça, mas eu não conseguia colocar pra fora. Ansiedade, complexo de inferioridade, angústia e outros companheiros que só Freud mesmo.



E por que a McGill? Falo de novo, não tem problema. Porque é uma universidade muito bem conceituada não só no Canadá, mas em rankings internacionais. Tá certo que o curso de inglês não deve ter nada a ver com esses rankings, mas é aquela coisa de confiar mais em quem já tem fama de fazer o negócio certo. Outro ponto é que a McGill aceita o certificado desse curso como prova de competência linguística para ingresso nos cursos de graduação e pós. Ou seja, em tese o troço é tão bom que eles dão a cara a tapa e dispensam outros testes (como TOEFL e IELTS). Além disso, algumas pessoas que eu conheci aqui e que fizeram ou estão fazendo o curso lá recomendaram fortemente. Então, né, gente? Quer mais o quê? Cobertura de caramelo?

Primeiros dias

Eu estava feliz que nem pinto no lixo com a ideia de voltar para um curso, mesmo sendo de inglês, algo com que tenho contato desde a época do guaraná com rolha. Então fui que nem o Emo-Aranha pro prédio da McGill onde seriam minhas aulas.



Já lá dentro, procurando a sala, captei uma conversa de corredor em que dois colegas de curso se reencontraram. A menina disse pro cara que ela não ia estudar com ele porque tinha sido reprovada e ia refazer o nível que eles tinham cursado juntos na sessão de inverno.

"Cristo Rei", pensei, já sentindo o esfíncter dar aquela mexida, "o povo é reprovado por aqui! Não é pagou-passou!"

O que, na verdade, me deixou ainda mais feliz, mas fez eu pensar que eu provavelmente seria um dos mais Uga-Buga da turma na hora que abrisse a boca para começar a falar. Mas já tinha saído na chuva, né, então se molhar era inevitável.

Achei minha sala e sentei na primeira cadeira vaga que vi. Já havia algumas pessoas na sala, mas todo mundo concentrado no seu mundinho (o celular). Dali a um tempo, o professor chegou, se apresentou e aí fez algo super diferente e inovador: pediu pra todo mundo se apresentar e contar um pouco da sua história. Tá certo que, na verdade, ele dividiu a gente em grupos para que conversássemos entre nós e, depois, apresentássemos uma pessoa do grupo. Caí com uma francesa que não queria papo nenhum, então só consegui arrancar dela que se chamava Camille, e isso quase tendo que pagar 10 moedas de ouro canadenses pra ela abrir a boca.

Ótima deixa para eu falar do quesito "variedade cultural" da sala de aula. Somos 22 alunos no total. Há três francesas, duas venezuelanas, uma equatoriana, duas mexicanas, dois chineses, uma vietnamita, um japonês, uma congolesa, um mauriciano, um saudita, uma camaronesa, um iraniano, uma libanesa, um líbio, uma sul-coreana e um quebeco (uia!), além do brasileiro aqui. Achei isso sensacional! Me amarro em ter gente de todos os cantos, porque ajuda a desconstruir estereótipos e você passa a enxergar as pessoas não como nacionalidades, mas como... pessoas. Já no primeiro dia, me aproximei do japonês e do quebeco (ou eles se aproximaram de mim, melhor dizendo, falando que meu sotaque era britânico), e o quebeco virou meu "melhor amigo" de sala de aula. Nunca imaginei que conheceria um quebeco assim tão rápido, e muito menos que ele fosse virar meu parceirão de sala de aula. Já li tantos relatos sobre a frieza dos canadenses/quebecos que eu não estava contando com nada como o que aconteceu. Eu e ele só não falamos mais bobagem e damos mais risada porque só ficamos seis horas dentro da escola. Claro que eu sei que só vai durar enquanto estivermos no curso, mas, ainda assim, foi uma surpresa pra mim.

Mas voltando. Ainda no primeiro dia, tivemos que fazer uma pequena redação para que o professor pudesse avaliar nossa escrita. Somos avisados, no dia do teste de nivelamento, de que nosso nível pode ser alterado se o professor julgar que o aluno está mais forte ou mais fraco do que o nível em que foi classificado. Ninguém saiu dali. Conclusão lógica: todos escreveram bem. Guardem isso.

Aí veio a primeira parte das letras miúdas do curso: as tardes de segunda e sexta são para o que eles chamam de "Guided Studies", um período que, teoricamente, os alunos devem usar para tirar dúvidas com os professores, trabalhar nos projetos que são desenvolvidos, usar o laboratório de línguas, enfim, estudar e praticar por conta própria. Na prática, é uma carta de alforria pra você ir pra casa, encher a cara, fazer compras, se harmonizar com Gaia, ou o que quer que você faça quando sobram algumas horas no dia. Eu tenho sentimentos conflitantes quando a isso. Por um lado, se você é um estudante dedicado, você vai fazer bom uso disso. Os professores ficam por lá, você pode ir conversar com eles, tirar dúvidas, pedir orientação, tem biblioteca que você pode usar, enfim... os recursos estão lá. Por outro, o curso é vendido como tendo 25 horas de contato por semana com os professores. Se você desconta as tardes de segunda e sexta, isso cai pra 20 horas. Então não está lá muito certo falar em 25 horas, sendo que isso praticamente não vai acontecer. Particularmente, tendo terminado a terceira semana, eu dou graças a Deus por ter essas tardes "livres" porque às vezes fico mega-ultra-atarefado com os trabalhos do curso. Mas, ainda assim, fica aquela pontinha de que eles vendem um peixe que não é assim tão fresco.

No segundo dia, o curso começou pra valer, com leituras, exercícios, discussões e coisas do tipo. Passaram o cronograma dos trabalhos, projetos, o valor que cada um teria na nota final, explicaram sobre as páginas da intranet da McGill a que temos acesso, o que é possível fazer nelas, como enviar trabalhos pelo sistema da universidade, informações sobre a carteira de estudante da McGill, etc. A turma mais entrosada, todos conversando um pouco com todos, o povo falando que meu sotaque era legal (!)... Cada módulo tem dois professores, um que fica pela manhã e, em geral, cuida mais da parte escrita, e outro que fica à tarde, que cuida mais da compreensão e expressão orais. Como não tivemos aula à tarde na segunda por causa dos tais "Guided Studies", só conhecemos a professora da tarde na terça. Dá-lhe apresentação de novo, todo mundo falando o nome, de onde vem, porque está ali e por aí ai. Chega a minha vez, repito minha história, e o comentário que ela faz em seguida foi esse:

- Estou achando muito interessante ouvir o seu sotaque. Deixa eu adivinhar: é australiano? Sul-africano?

No que metade da turma caiu na gargalhada e a outra começou a falar: "é britânico, é britânico!". A professora quis saber de onde vinha o raio do sotaque, e eu disse que, até dois dias antes, a única coisa que eu sabia é que eu tinha sotaque brasileiro. Falei que tinha estudado inglês em diversas escolas de idiomas, algumas mais voltadas para o inglês norte-americano, outras mais para o britânico, mas que, pra mim, era o sotaque brasileiro que aparecia mais, provavelmente misturado com a salada de sotaques que ouvia em sala de aula. Ela disse que não, e que eu poderia enganar as pessoas! Eu juro que não sabia onde enfiar a cara, e o povo da turma não ajudou: começaram a me chamar de "Australian guy" e de "my lord" (mas, graças aos céus, isso só durou alguns dias).

Eita, que o post já tá comprido e eu ainda nem tô perto de acabar! Então vou parar por aqui e continuo no próximo, ok?

À bientôt!

Clique aqui para ler a parte II!

7 comentários:

  1. Olá, descobri seu blog pesquisando sobre a Mcgill, queria encontrar relatos de brasileiros que estivessem estudando la. Pretendo fazer um mestrado, vamos ver se consigo... Mas adorei o blog e estou as outras postagens. Adoro quem escreve bastante, pois adoro ler. Boa sorte no curso e no Quebec.

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    1. Oi, Cibele, obrigado pela visita! Que bom que está gostando do blogue! :D Eu penso em estudar também na McGill (talvez outra graduação ou um mestrado), mas tenho ver como pagar as contas! Então, quem sabe a gente pode trocar figurinhas? Você pensa em fazer mestrado em qual área?

      Boa sorte pra você também!

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  2. Olá Doug!

    Sempre que posso acompanho seu blog, excelente!
    Estava namorando o curso de inglês na McGill, mas eles não oferecem residência estudantil nem casa de família, daí fui ver ap para alugar e virou uma coisa de louco ($$)...
    Curiosidade: quanto tempo demora seu curso?
    Para quem fez landing ou PR é mais barato? Agora não lembro quanto tinha visto...
    Meio que estou mudando de ideia para a University of Winnipeg que está um pouco mais barata e tem residência...mas Montreal deve ser linda, entretanto, fiquei com receio com relação ao francês...não o tenho.

    Obrigada!!!
    Abç
    Izabel

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    1. Oi, Izabel, tudo bem? Obrigado por acompanhar o blogue! Realmente, pro curso de inglês da McGill, você só poderia conseguir algum dormitório na faculdade na sessão de verão. Nessa época, eles disponibilizam quartos e apartamentos para pessoas de fora da universidade. Mas tem que pagar por fora do mesmo jeito, então não sei se compensa.

      Então, o curso inteiro é composto por oito módulos. Cada módulo dura seis semanas. Fazendo dois módulos por sessão, dá pra terminar em pouco mais de um ano. Eu estou no penúltimo módulo, o que me deixa com algo em torno de dois meses pela frente.

      Quem tem CSQ e é residente permanente paga menos. Acho que a diferença gira em torno de CAN$ 600,00, mas é melhor conferir no site deles. Se a sua ideia é basicamente aprender ou aperfeiçoar o inglês, vale a pena mesmo olhar em outras cidades. Com certeza é possível achar várias opções!

      Boa sorte!
      Abraço!

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  3. Milord! kkkkkkkk

    É interessante, pois, com seu relato, a turma parece não ser exatamente aquela turma mais cheia de imigrantes (como ocorre na francisação, por exemplo). Parece que tem também os farofeiros rs..

    Essa coisa da quantidade de horas do curso é algo interessante, pois na prática, essas horas durante a tarde serão utilizadas uma vez ou outra, o que acaba talvez tornando o curso mais caro, e você paga por algo que não usa de fato. Eu pelo menos utilizaria quando realmente necessário.

    Mas em grandes linhas, o que tem achado do seu rendimento? Tem se soltado mais como queria? Está evoluindo bem?

    Obrigado por compartilhar suas experiências conosco!

    Grande abraço!

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    1. Zoa não que eu fiquei com medo do negócio pegar hahahahaha

      Realmente, são poucos ali que são imigrantes. A maioria é estudante de outros países que está passando uma temporada para melhorar o inglês. Alguns vão tentar ir pra uma universidade no Canadá depois do curso, mas a maioria vai voltar pro país de origem. Então, realmente é diferente da francização.

      Pois é, eu acho que deveriam dizer que o curso tem 20 hs semanais e pronto. No fim das contas, eles oferecem bem mais do que as 25 hs que eles vendem, porque há laboratório de línguas, palestras, workshops de pronúncia e escrita, enfim, uma série de benefícios extras além das aulas em si. Então pra que dizer que o curso tem 25 horas por semana, né?

      Quanto ao meu rendimento, estou bastante satisfeito - e surpreso também! Tá servindo exatamente pro que eu queria, e realmente não me arrependo de ter me inscrito pra esse curso.

      Abraço!

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