quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Frustrações de uma Vida não Iniciada

Essa fase na qual me encontro no momento é, ao mesmo tempo, extremamente empolgante e incrivelmente frustrante. É aquela na qual você quer começar a sua nova vida, mas ainda não encerrou o ciclo da antiga e, portanto, não tem como dar o primeiro passo de fato. Trocando em miúdos, é estar meio cá, meio lá.

De um lado, você está aqui, separando roupas e utensílios de cozinha para doação, tentando organizar, no meio do ninho de cobra da bagunça que só aumenta, o que vai e o que fica. Do outro, tem todas aquelas pesquisas que você faz, pensando em como sua vida poderá ser, tentando antecipar alguns problemas ou dificuldades e se planejando para lidar com tudo isso. O problema é que a distância física da nova vida te impede de ir além de um determinado ponto, o que, às vezes, faz você querer tirar as calças e pisar em cima.

Exemplificando:

Moradia

Acredito que seja a principal preocupação de quem chega. Ainda que você tenha algum conhecido que gentilmente se ofereça para te hospedar na sua chegada, na maioria das vezes você vai querer (ou precisar) arrumar um canto só seu o quanto antes. É o meu caso. Se aparecer alguém disposto a me tolerar por algumas semanas, ótimo, mas eu ficaria incomodado se minha estadia se prolongasse muito porque (1) eu gosto de ter o meu canto e (2) sou o tipo de hóspede que sempre está com receio de incomodar o anfitrião. Então, ainda que seja melhor do que ficar torrando grana em hotel, eu não ficarei 100% tranquilo enquanto não achar o meu canto

O que tenho feito: olho com alguma frequência os sites de anúncios de aluguel de imóveis, como o Kijiji e o Padmapper. Leio blogues de quem já está morando lá em Montreal, principalmente os posts relacionados aos bairros e ao tipo de residência. Teve a viagem que fiz a Montreal ano passado também, que ajudou a colocar um pouco em perspectiva o tamanho da cidade.

O que tirei de bom até agora: basicamente, a média de preços (o que permite te dar uma ideia de quantas moedas de ouro serão consumidas na brincadeira de pagar aluguel mensal) e uma ideia geral dos bairros da cidade. Ah, e, às vezes, você esbarra em algo que parece ter sido feito pensando em você, com carinho de mãe. E daí devaneia, imaginando como sua vida será perfeita lá na parte de cima do mundo!



Por que é frustrante: estando neste hemisfério, tudo o que posso ver são fotos. Não posso ir visitar, não posso ver o tanto que as fotos correspondem à realidade, não sei como a parte do contrato funciona na real, não sei se o proprietário irá com a minha cara ou se meu inglês e francês serão suficientes pra não ser enrolado. E sabe o apê construído com esmero, que você viu num anúncio ontem como um sinal divino da sua futura vida perfeita? Pois é, você não pôde ir lá e, no dia seguinte, o anúncio já foi tirado do ar porque alugaram.




Móveis, roupas e utensílios

Como já falei em algum post do passado, eu descobri que posso viver com pouco em casa, principalmente quando a situação é incerta. Vim pra São Paulo não pensando em ficar vários anos, mas voilà! E aí descobri que posso viver, por exemplo, sem conjunto de mesa com seis cadeiras ou fogão quatro bocas high-tech. Mas, ainda assim, alguma coisa a gente acaba tendo de comprar, né? Roupas então... porque eu que não vou tentar encarar -20°C com meu casaquinho da C&A.

O que tenho feito: só pesquisa mesmo em sites, como o da IKEA, Wallmart ou The North Face. Há uma variedade grande, para todos os gostos.

O que tirei de bom até agora: É outra maneira de você ver as moedas de ouro que podem ir embora nos primeiros meses. E, se você ainda está em estado de nirvana porque encontrou a casa dos sonhos no Kijiji e resolve pensar nos móveis para cada ambiente, rapidinho a pesquisa deixa de ser pesquisa e volta a ser devaneio.



Por que é frustrante: porque eu ainda não tenho casa, não sei o tamanho dela, não sei nem se vai ter mais de um ambiente, quanto mais se vai precisar de mesa de canto. Alguns apartamentos tem geladeira e fogão incluídos no preço do aluguel, alguns prédios têm máquina de lavar e secar comunitárias, outros não.. então, acabo tendo uma ideia de preços, mas, no fim, é como se eu estivesse jogando The Sims.




Trabalho

Aqui é onde o monstro embaixo da cama reside, no meu caso. Minha área (línguas estrangeiras e tradução) tem uma certa demanda (escutei alguém de TI rindo aí?), mas, em se tratando de inglês e francês, eu não tenho como concorrer muito com nativos logo de cara. Então sei que há um loooooongo caminho pela frente, e eles não são pavimentados exatamente com tijolos amarelos.

O que tenho feito: continuo coletando vagas pela internet, visitando sites de empresas e de profissionais autônomos. Minha vida profissional vai mudar radicalmente.

O que tirei de bom até agora: já deu pra ter algumas ideias em relação a encaixar meu perfil, e ver quais requerimentos e atributos precisarei desenvolver para determinadas vagas. Além disso, tenho consultado mais algumas outras opções que não estão diretamente ligadas à minha área, mas que podem me ajudar e até, quem sabe, se tornar meu ganha-pão principal.



Por que é frustrante: eu ainda não dei a cara a tapa, não mandei currículos nem contatei possíveis empregadores. Poderia ser um termômetro para ver como estaria a aceitação do meu currículo e experiência atuais, mas, lembrando que eu fiquei os últimos sete anos atrofiando o cérebro no serviço público, digamos que eu já tenha uma ideia. E, se você começa a duvidar que pode encontrar algo legal, logo, logo está imaginando que outras opções você terá se tudo der errado.




Estudos

E, em parte pelo receio de não encontrar trabalho, em parte por vontade mesmo, eu acabo voltando à ideia de estudar. A ideia, pra mim, é de recomeço mesmo, nesse caso: voltar para os bancos da faculdade, e estou falando de graduação, não de mestrado ou doutorado (embora não descarte estes). Se é pra recomeçar, talvez eu deva recomeçar direito.

O que tenho feito: entro em dezenas de sites de colleges, CEGEPS e universidades. Listo cursos que me agradam, aqueles que não faria nem por decreto, me informo sobre os custos. Tem muita informação sobre tudo, e as opções são as mais variadas. De gastronomia a mecânica de aviões, de metalurgia a Ph.D. em estudos africanos, dá pra gastar um bom tempo namorando os cursos. E, como eu sempre curti estudar e o meio acadêmico, é difícil parar de pesquisar e de imaginar as aulas.



Por que é frustrante: a perspectiva de estudar em outro país, em outro idioma, sempre foi empolgante, mas também intimidante pra mim. A duração do curso também pode vir a ser um problema. Se eu começo uma graduação, são três ou quatro anos de estudo pela frente. Como tenho o péssimo hábito de gostar de assuntos que não dão um emprego líquido, certo e prático no mundo real, pode ser que eu tenha que fazer mais um ou dois anos de mestrado, e três ou quatro de doutorado. Pense em dez anos estudando!!! Além disso, o fato de não estar ainda nas terras geladas dificulta um tanto o acesso a informações mais precisas. Pra dar um exemplo: eu me interessei pelo curso de Literatura Inglesa na McGill. PARECE, pelo que pesquisei e pelo que disseram em resposta às minhas dúvidas, que eu só poderia tentar entrar como Mature Applicant. Pois bem, uma das exigências para entrar nessa condição é concluir dois cursos ou disciplinas como pré-requisitos na área de interesse. Tentei conseguir mais detalhes sobre isso e disseram que eu poderia cursar essas disciplinas em CEGEPS, colleges ou na própria universidade. Perguntei o que seria aceito como pré-requisito para Literatura Inglesa e daí falaram pra eu entrar em contato com o Departamento de Inglês. Mandei um e-mail e me disseram que eu tinha que falar com o setor de admissões. Fiz isso e me disseram que eu tinha de contatar o Departamento de Inglês (!). Fiz isso de novo e disseram que eu tinha que cursar "alguma coisa como English Reading and Writing" em um CEGEP ou college. Entrei em contato com um college., expliquei a situação e me responderam dizendo que, no meu caso, é melhor cursar os pré-requisitos direto na universidade, porque tenho nível superior e pularia a etapa do college (!!). Agora, como eu faço isso se a universidade disse que eu tenho que fazer isso num college?



Perguntei também se eu poderia cursar matérias avulsas no college pra servir como pré-requisito. Ainda estou aguardando uma resposta, mas já deu pra sentir o drama, né? Será que o sistema de educação canadense é um tanto misterioso até para os canadenses ou sou eu que sou obtuso, produção?

Conclusão

Adivinha? Realmente, não dá pra passar o carro na frente dos bois. Enquanto eu estiver aqui no Brasil, só poderei ter uma visão parcial das coisas e acesso limitado às informações. Pesquisar e se informar é bom, mas também pode ser extremamente frustrante quando não leva diretamente a uma solução ou decisão. Então, nessas horas, é bom simplesmente ir estourar umas cabeças jogando GTA.

À bientôt!


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