sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Últimas férias no Brasil!

E é isso, minha gente: estou no finzinho das minhas últimas férias como trabalhador no Brasil. Se isso fez alguma diferença? Bom, na viagem que fiz, não. Mas no resto? Muita!

Não tinha nenhuma viagem dos sonhos programada ou coisa do tipo. A única coisa que eu queria é que fosse uma viagem tranquila, que me fizesse esquecer trabalho e imigração, que eu curtisse do primeiro ao último dia, tudo pra poder voltar renovado e encarar o que vem pela frente. E, salvo um ou dois percalços nada mirabolantes pelo caminho, assim foi!

O relato da viagem em si talvez fique para outra hora. Aliás, fui para fora do Brasil, passei por alguns controles de fronteira e, caso alguém aí esteja se perguntando, não, ninguém fez nenhuma indagação sobre o meu visto de imigrante colado no passaporte. Obviamente, não quer dizer que ninguém nunca fará (eu soube de um caso em que o cara teve de responder uma ou duas perguntas sobre o visto), mas, aparentemente, ninguém tá nem aí com o seu visto de imigrante de outro país.

O que rolou foi um daqueles momentos em que você, por um breve instante, consegue vislumbrar algo além do seu próprio mundo. Algo como Wendy, João e Miguel faziam naquele momento entre estar dormindo e acordado, no qual o véu que separa o mundo da Terra do Nunca pode ser rasgado. Foi um daqueles momentos em que me dou conta da minha pequenez diante do mundo e do tanto que os meus receios, embora embasados no mundo material e concreto do meu dia a dia, são insignificantes, ridículos e pueris diante da grandeza de tudo ao meu redor.

Um dia, durante a viagem, parei para pensar que, naquele momento, o pessoal no trabalho estaria fazendo as mesmas coisas de sempre, sem ter a menor noção de que, a meio mundo de distância, tantas outras coisas estavam acontecendo com outras pessoas, em outros lugares. Da mesma forma, eu estava presenciando uma ínfima parcela da realidade, sem me dar conta de que, a outro meio mundo de distância, outras pessoas estavam presenciando outras parcelas da realidade. Cada um de nós, talvez, absorto no "todo" ao nosso redor, sem percebermos que o todo, de fato, é tão maior e tão  mais abrangente, que as nossas vidas, a nossa rotina, nossos problema se nossas alegrias são ridiculamente pequenos.

Depois dessa pequena jornada interna, tive de encarar um outro tipo de realidade: minha avó morreu. Eu não era exatamente próximo dela, mas acompanhei, mesmo à distância, a luta dela contra doença, pobreza e abandono. Algumas almas boas tornaram o fim dela menos doloroso e mais digno. Mas toda a situação dela, que foi uma pessoa que teve outras pessoas trabalhando para ela no passado de bonança, me fizeram pensar em quanto a minha (nossa) tentativa de controlar tudo pode ser apenas desgastante e infrutífera. Não, não deixei de achar que é melhor prevenir que remediar. Mas ficou claro pra mim que certas coisas simplesmente estão bem além do nosso controle. Assim como todas as parcelas de realidade que não podemos contemplar, como o que um pescador está fazendo numa vila da China enquanto eu digito esse texto, ou o que eu estarei fazendo quando você estiver lendo estas linhas.

De modo que, sim, imigrar, mudar de país, deixar o certo para trás e abraçar um duvidoso que apresenta tantas ramificações que você simplesmente não sabe onde pode dar continua sendo um tanto assustador. Não dá pra saber onde eu vou parar. Mas, além de todos os outros motivos para imigrar, passei a curtir mais a ideia de estar a par de uma outra parcela ínfima de realidade.

À bientôt!

4 comentários:

  1. Post profundo...*esperando por sobre sua viagem
    Já tem data para embarcar para as terras do norte ?
    Sinto muito pela sua avó...

    abraços;
    Catherine
    http://meetyoutherecanada.blogspot.com.br/

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  2. Doug.

    Sorry about you grandma. Ela está em um lugar melhor agora.

    Eu não tive últimas férias no Brasil, eu pedi demissão do trabalho, 1 semana antes da viagem. Tive uma semana para arrumar todos os preparativos da viagem.

    Logo logo vc estará em Montreal, e será uma nova rotina, nova vida, novos caminhos, novas conquistas.

    Abraços!!!

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    1. Obrigado, meu caro! Pra ser sincero, eu estou curtindo esse lance das etapas... saber que certas coisas eu estou fazendo pela última vez (pelo menos, até segunda ordem) dá um revestimento todo especial a quase tudo.

      Abraço!

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