terça-feira, 28 de outubro de 2014

Mon travail, je n'en peux plus!

Eu estou numa situação bastante cômoda: faltam seis semanas para eu sair do trabalho, todo mundo já está sabendo, ninguém está exigindo mais de mim do que o que eu posso oferecer até a minha saída. Ou seja, a situação não está ruim. Mas, gente... começando hoje, oficialmente eu já não aguento mais ir pro trabalho!



Tá certo que esse sempre foi mais ou menos meu sentimento desde que me tornei servidor público. Exceto para aqueles que, de fato, possuem uma formação que se encaixa direitinho no setor público ou para aqueles que só querem saber de estabilidade e salário pago em dia no fim do mês (cof, cof, e eu acho que esses são a maioria esmagadora cof, cof), o trabalho é sacal. Você não desenvolve nada, você não cria nada, você está sempre sujeito a uma "portaria", uma "lei", uma "orientação de serviço", documentos, em geral, redigidos por gente que não faz a mínima ideia de como as coisas funcionam na prática e acham que, assinando um pedaço de papel com linguagem rebuscada, resolvem tudo.

Não vou entrar nos detalhes. Não é um sentimento novo pra mim. Mas agora, com a proximidade do começo da minha nova vida (e com uma penca de coisas para resolver), o trabalho passou de aborrecimento necessário para fardo insuportável. Já disse inúmeras vezes que, se meu processo de imigração fosse recusado, eu, de qualquer forma, não ficaria mais nessa bagaça de serviço público. Quem quiser olhar só as vantagens e achar que é o paraíso, fique à vontade (e com a minha vaga). O que mais escuto é gente falando que queria estar no meu lugar, que eu sou louco de largar essa "boquinha" (blargh!), ou falando que tem horror à corrupção, ao jeitinho brasileiro e a outras coisas, mas tá louca para entrar no serviço público, uma máquina inchada, incrivelmente corrupta, que tem bem mais gente do que precisa e bem menos aparelhamento, planejamento e boa administração do que deveria, além de benefícios e vantagens que muita gente não tem o menor pudor em distorcer para se beneficiar ainda mais. Boa parte dos servidores acredita que cumpriu sua missão quando conseguem passar num concurso e querem apenas desfrutar dos benefícios e vantagens. Trabalho? Não foi pra isso que eles prestaram concurso público. Prestaram para ganhar um salário acima da média, para ter pouco ou nenhum trabalho, para ficar reivindicando aumentos que são surreais face ao (péssimo) trabalho que desempenham, e reclamar que os outros (políticos, juízes, desembargadores, ministros, procuradores, o seu Zé da esquina) são corruptos e ladrões, mas eles mesmos estão acima do bem e do mal. Até quando você encontra um setor/departamento/seção/divisão/coordenadoria em que pode, de fato, fazer algo e se sentir útil, tem sempre alguém para diminuir o seu ritmo e falar para você não vir com muitas ideias criativas (porque elas não vão pra frente mesmo, diante do tanto de assinaturas, "cientes" e "de acordos" que precisariam ter) e nem fazer tudo muito rápido (senão, o trabalho acaba e o setor/departamento/seção/divisão/coordenadoria fica parecendo um local ocioso).

Eu tenho total consciência de que eu não faço ideia do que o futuro me reserva, e que pode ser que a minha situação, no Canadá ou no Brasil, seja tão ruim, mas tão ruim, que eu chore de saudade do serviço público. Mas eu juro de pé junto que eu vou mover montanhas para que eu nunca, mas NUNCA precise voltar para um trabalho tão inútil, frustrante e inócuo quanto esse.

Desculpem o desabafo. Segue o show.

À bientôt!

2 comentários:

  1. O meu único contato com o setor público foi um período de estágio, fiquei dois anos trabalhando numa prefeitura de uma cidade "grande" e jurei que jamais, jamais mesmo iria trabalhar no setor público em toda minha vida! Abomino quem fala que quer prestar concurso pra por o burro na sombra ou qualquer comentário do tipo! Só sou a favor das pessoas que buscam estabilidade, principalmente as pessoas que tem filhos! Tenho certeza que o Canadá te trará muitas oportunidades e novos desafios! Boa sorte com o resto das 6 semanas!!!!

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    1. Obrigado, Rita! Acho que só mesmo quem já passou pelo serviço público pra ter noção de como aquilo pode ser medonho (pelo menos pra quem não quer ficar estagnado na vida). Reconheço o tanto de benefícios e vantagens, entendo e aceito que foi por causa do serviço público que eu pude fazer algumas coisas na vida, mas não é por isso que vou deixar de reconhecer também que ele possui um monte de coisas que eu desprezo profundamente - uma das razões de eu estar querendo cair fora o mais rápido possível. Taí uma coisa da qual não vou sentir saudade! Boa sorte pra você também!

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