quinta-feira, 14 de março de 2013

CSQ recebido! Relato da entrevista

Gente, é com grande alívio que venho aqui dizer que fui aprovado na entrevista de seleção hoje e já estou com o meu CSQ!

A entrevista estava marcada para às 13h30. Acordei 76 vezes durante a noite, e em cada uma era assombrado por uma pergunta diferente que podiam me fazer. Apesar disso, descansei até razoavelmente bem. Passei a manhã ouvindo TV5 e relendo alguns pontos que eu considerava mais críticos das pesquisas que fiz e da minha situação.


Cheguei no local da entrevista pouco antes do meio-dia. Não tinha muita esperança de ser chamado antes das 13h30, até porque imagino que a entrevistadora precise comer em algum momento, né? Então fiquei lá na salinha indicada pelo pessoal da recepção do hotel. Lá haviam dois homens de mais idade, que imaginei estarem esperando alguém para ir embora (e não deu outra: uns 20 minutos depois, chegou um terceiro, e os três foram embora); e um casal, que adivinhei ser de candidatos à imigração. A gente se reconhece fácil, né? Cara de angústia, pastas gigantescas com marcadores coloridos para facilitar o manuseio dos documentos, celular como companheiro fiel, fazendo buscas em dicionários de francês e em sites que ensinam a pronúncia e por aí vai. Fiquei com vontade de puxar papo, mas eles estavam compenetrados e eu achei por bem ficar lendo minhas coisas.


Dali a pouco (ou seja, um pouco depois do meio-dia), chegou um casal que tinha acabado de passar pela entrevista. Obviamente, os dois casais já haviam se falado antes, pois a mulher do casal que tinha feito a entrevista já chegou dizendo: "olha, deu tudo certo, ela é tranquila" e por aí vai. Fiquei prestando atenção na conversa, até que não me aguentei, pulei da cadeira e falei "desculpa, mas vocês têm profissão prioritária?". Eles falaram que não, e continuaram falando que era pra ir tranquilo porque a entrevistadora era ótima, e que a maior parte da entrevista tinha sido análise dos documentos originais, mas que as perguntas nem haviam sido muitas.


Enfim, eles foram embora e aí eu comecei a conversar com o casal que estava lá. Trocamos algumas figurinhas (aliás, espero que eles tenham conseguido o CSQ. Estavam tão nervosos, e viajaram hoje tão cedo para chegar lá, espero realmente que tenham conseguido), eles saíram para almoçar, eu parei de ler e fiquei só vendo o tempo passar. Por volta de 13h15, a entrevistadora, Daniela, chegou na salinha, me chamou e fomos para o elevador. Lá mesmo ela já foi perguntando se eu falava francês e onde tinha aprendido. Perguntou se eu tinha estudado na Aliança Francesa e eu falei que foi um dos lugares em que estudei. Aí ela perguntou com qual nível eu tinha sido classificado e eu respondi que tinha sido básico-intermediário no último semestre em que estudei lá. Ela fez uma cara de "o quê?" e disse que, pelo jeito, eu tinha pelo menos um B2. Já fiquei feliz dali.


Chegamos até o andar onde instalaram a salinha de entrevista. Do elevador, passamos por uma varanda, fazia um calor de fritar ovo no asfalto e eu de repente achei que a entrevista seria ali na varanda mesmo. Mas, graças ao bom Deus, ela passou direto pela varanda e foi para dentro de uma sala pequena, com uma mesa redonda, sobre a qual haviam um laptop e uma impressora pequena. E o mais importante: ar-condicionado! No caminho até lá, ela perguntou se eu tinha ido ao escritório de imigração quando ele ainda era no Brasil, já que moro em São Paulo, mas eu disse que não.


Já dentro da salinha, ela indicou o lugar para eu sentar e colocou-se na cadeira atrás do laptop. Em rápidas palavras, falou que o que viria a seguir era o seguinte: ela verificaria meus documentos, verificaria o que eu sabia sobre o Québec e as minhas intenções para morar lá, se eu tinha uma visão realista da imigração e, no final, se eu obtivesse os pontos necessários, eu receberia o CSQ. Do contrário, eu receberia um outro documento cujo nome agora esqueci, com a pontuação detalhada. Em seguida, falou para eu deixar a pasta com os documentos em cima da mesa e que ela iria pedindo conforme a entrevista andava. Eu levei duas pastas: uma com os documentos e outra com as pesquisas. Deixei as duas em cima da mesa como ela falou, e fiquei meio travado estilo "cachorro de padaria", sentado, sem me mover, e olhando fixamente para a frente. Tava num nível de tensão extrema, mas lembrei de respirar e a coisa ficou um pouco mais fácil.


Eu acho que não vou conseguir lembrar na ordem o que ela me perguntou, até porque a entrevista flui e toma rumos de acordo com o que você fala ou mostra. O que eu posso dizer com certeza é que ela pediu meu passaporte, minha certidão de nascimento, os diplomas e históricos de notas do segundo grau e da faculdade, a declaração mais recente do meu trabalho e também do meu emprego anterior e meus contracheques. Estavam comigo, mas não foram pedidos, os comprovantes de declaração de imposto de renda, as declarações dos cursos de inglês e francês e meu currículo. Ela fazia uma conferência relativamente rápida de cada documento, aparentemente vendo se as datas e informações batiam com o que ela estava vendo na tela do laptop. Ela não contestou nenhum dos documentos.


Agora, ela foi pedindo a documentação enquanto ia perguntando sobre a minha vida inteira. Perguntou onde eu nasci, onde eu morava e porque eu havia escolhido o curso no qual me formei (Tradução e Interpretação). Respondi, e ela perguntou se era o que eu tencionava fazer no Québec. Falei que sim, e ela perguntou se trabalharia com inglês. Respondi que sim, mas também tinha intenção de trabalhar com português e francês. Ela parou, olhou pra mim e perguntou: "português?". Falei que sim, que haviam vagas nessa área. Ela disse que achava que não, e eu rebati dizendo que elas podiam não ser as mais numerosas, mas com certeza haviam, e que, por mais que eu tenha vontade de trabalhar com tradução para o francês, eu não poderia dizer, no momento, que tenho conhecimentos suficientes para traduzir para o francês, e que então começaria com português e inglês. Ela então perguntou se eu tinha algum vaga para mostrar. Puxei uma e mostrei. Ela fez cara de surpresa, leu um pouco e logo depois disse: "sim, mas essa é uma vaga. Você tem mais alguma coisa?". Puxei outra vaga e mostrei. Nova exclamação de surpresa da parte dela, e aí parece que ela se convenceu e falou que não fazia ideia de que existiam essas vagas.


Em seguida, perguntou sobre o meu emprego atual, o que eu fazia e quanto ganhava. Respondi e expliquei tudo. Ela perguntou se eu fazia alguma coisa relacionada à tradução e interpretação e eu disse que não, no meu emprego atual estou ligado à área de recursos humanos. Ela perguntou sobre minha experiência como tradutor e então falei sobre o ano em que trabalhei para uma cooperativa de turismo e também sobre um emprego anterior em um órgão público, no qual trabalhava com outros idiomas. Aí ela perguntou: "e você vai largar seu emprego atual para ir trabalhar no Québec?". Respondi que sim, que tenho vivido os últimos 3 anos com isso em mente.


Enquanto me pedia um outro documento, ela me perguntou em inglês - do nada - se eu falava inglês. Eu mudei a chave interna pro inglês e respondi que sim. Ela perguntou há quanto tempo eu falava, onde eu havia aprendido e se eu falava melhor inglês do que o francês. Falei que meu inglês é melhor que o meu francês e ela perguntou se eu não tinha interesse em mudar para a parte inglesa do Canadá. Eu falei que não, que o inglês, pra mim, seria uma ferramenta de trabalho, assim como o francês, e que meu interesse era me estabelecer no Québec mesmo. Daí voltou pro francês e perguntou por que no Québec. Falei sobre qualidade de vida, sobre segurança, sobre oportunidades de emprego, e ela questionou que eu poderia ter o mesmo no resto do Canadá. Aí eu falei sobre o custo de vida mais baixo no Québec. Ela concordou e pareceu aceitar as explicações.


Eu não tenho dúvida de que eu continuava com a mesma cara e postura de cachorro de padaria. Ela perguntou que outras línguas eu falava, respondi, e tudo que eu falava ela digitava alguma coisa no laptop. Me perguntou também o que eu faria se não encontrasse um emprego como tradutor. Aí aproveitei e mostrei não só o plano B, que ainda estava ligado à área de formação, como também o C, que estava ligado à minha experiência atual. Ela me perguntou então se eu estava disposto a descer alguns degraus na área profissional e eu disse que era exatamente o que eu tinha em mente. Daí ela digitou mais alguma coisa, e, do nada, pediu para eu falar sobre alguma coisa recente do Québec. Falei sobre a eleição da Pauline Marois, a Comission Charbonneau e alguma outra coisa de que agora eu não lembro, mas só citei, não entrei em detalhes. Ela perguntou onde eu tinha visto isso e falei que escutava todo dia um pouquinho de Radio Canada. Ela perguntou qual programa, eu falei, e ela fez cara de quem sabia do que eu estava falando. Digitou mais alguma coisa, parou e me olhou.


Eu travei mais ainda, mas ela começou de cara falando que não via motivo algum para não aceitar a minha solicitação de imigração para o Québec. Falou que a minha área não é a de maior demanda, mas que realmente há alguma demanda, e que ela gostou dos planos que eu apresentei, inclusive de uma área que ela não fazia ideia que oferecia oportunidades como as que eu mostrei. Falou também que ela achou meu nível de francês muito bom, que ficou realmente impressionada e que me classificaria como francófono. Falou também muito bem do meu inglês e disse acreditar que eu realmente não teria problemas para me comunicar e conseguir emprego no Québec. Nessa hora, eu já tava com a boca aberta. Ela imprimiu uma carta com instruções, uma outra com sites e a impressora deu pau bem na hora da impressão do CSQ. Mas,ainda bem, logo voltou a funcionar.


Enfim, eu escrevo demais, eu sei. Minha entrevista durou uns 40 minutos. Em suma: se você tem algum ponto fraco ou brecha, ela vai tentar explorar isso. Não quer dizer que ela vá tirar pontos ou te reprovar por isso, mas, como ela mesma deixou claro no início da entrevista, ela está ali, dentre outras coisas, para ver se você tem uma visão realista da imigração. Então, se seu plano depende demais de alinhamento planetário, conjunção astral e fatores abstratos, ela vai pegar no seu pé. Se você depende muito dos idiomas para trabalhar e tem um nível baixo, ela com certeza vai implicar. Se alguma informação que você levou for mais achismo do que fato, ela vai querer que você prove o que está falando. Ela é simpática, mas bastante rígida e não tem medo de te corrigir, de falar que você está errado ou de mostrar que acha que você tem outras intenções. Contudo, é só você mostrar alguma coisa que contradiga o que ela fala que ela se cala ou faz um comentário neutro e passa para o próximo ponto. Exceto pela pergunta sobre eventos recentes do Québec, ela não fez nenhum questionamento sobre história, geografia, hidrografia, política ou economia, seja do Québec, seja do Canada. Minha pesquisa valeu muito para responder a várias perguntas, mas, fora as vagas, não precisei mostrar uma tabelinha sequer. Então reforço o que outros já falaram nos fóruns e blogs da vida: estejam preparados para falar sobre você, seu trabalho atual e eventual anterior, e com as intenções de imigração bem definidas, e não se intimidem. Por mais que ela tente achar brechas, se você tiver como explicar tudo o que pretende fazer, ela não vai poder fazer muita coisa.


Agradeci muito, ela perguntou que horas eu voltaria para casa e nos despedimos. No fim, apenas três pequenas frustrações: (1) não ter conhecido o M. Leblanc; (2) não ter assistido ao famoso DVD da Céline Dion; (3) constatar que o CSQ ainda é uma foha A4. Depois de todo o stress, toda a pesquisa, todo o esforço e toda a espera, deveria vir em um quadro esculpido em mármore, com letras garrafais douradas, entregue por uma coruja da neve treinada, e com mensagem personalizada da Pauline Marois. 


Abraços a todos e obrigado a todo mundo que torceu por mim. E boa sorte àqueles que ainda farão a entrevista! Tô torcendo muito por todos!

12 comentários:

  1. Parabéns !!! Que felicidade poder dar o próximo passo.

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    1. Obrigado!! Realmente, é muito boa essa sensação de alívio e de poder continuar o processo sem o fantasma da entrevista!

      Abraço!

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  2. Aaaaaaaaaaah hehehehehehehehe
    \o/
    Graças a Deus meu amigo!!!!!
    Agora é correr para o processo federal.
    Mas atenção!
    Já saíram novos formulários, dá uma olhada no meu último post sobre as novas regras pra pagamento tbm.

    e sucesso pra nós!

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    1. Muito obrigado, pessoal do Diário, e obrigado também pela ajuda com a pasta para a entrevista! Foi muito útil para eu ter segurança de que o que eu estava fazendo era o certo mesmo!

      Valeu também pela dica, já li o post e vou ficar atento!

      Agora é o federal! \\\ooo///

      Abraço!

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  3. Já comentei isto na CBQ, e digo novamente! rs.. Caaaaara!! Muito feliz por isso!

    Que canseira até aqui meu parceiro! Não tá fácil, mas essa fechou com chave de ouro!

    Agora é partir para o segundo teste de resistencia, e se aprontar, pois agora está tudo mais perto de acontecer!

    Parabéns mais uma vez. Estarei aqui torcendo muito por esta nova etapa!

    Abraço!

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    1. Brigadão, Filipe!! Realmente, foi uma canseira só, principalmente depois da convocação para a entrevista. Parei minha vida pra me dedicar a ela e é muito bom ver o resultado desse trabalho! Agora dá pra tomar novo fôlego pra encarar o federal (que tá batendo nos 20 meses... misericórdia).

      Valeu pelo apoio, tô aqui também torcendo por você e quero comemorar junto quando você estiver com seu CSQ na mão também!

      Abraço!

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  4. Olá, nos conhecemos no dia da entrevista. Fico feliz por vc tb ter conseguido. Também torço para aquele casal ter conseguido também... abraços e até a etapa federal...

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    1. Poxa, legal "reencontrar" vcs por aqui! Já deram início à etapa federal? Eu estou começando a juntar a papelada agora!

      Abraços!

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