quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Metodologias para o aprendizado de línguas: a gente gosta de fazer de conta? - Parte 1

A maioria das pessoas que já passou, está passando ou vai passar por um processo de imigração, seja para qual país for, vai ter que se acostumar com uma nova língua (exceto os que tiveram a sorte de crescer com pais que falavam outras línguas e que tenham tido a inspiração divina de criar os filhos valendo-se do uso de outros idiomas). É bem verdade que cada pessoa é diferente, cada uma tem seu próprio método para aprender, e é por isso que, já aviso logo, esse post vai ser bem pessoal.

Eu sinto falta das minhas primeiras aulas de inglês. Ou melhor, de como eu aprendia naquelas aulas. Eu comecei a aprender o idioma aos nove anos de idade, por estímulo da minha mãe. Morria de medo de ir para uma escola de inglês. Lembro claramente de pensar que eu não ia entender nada e não conseguiria aprender. Mas, quando finalmente expus isso pra minha mãe (levou um tempinho... acho que, no fundo, eu sabia que era uma desculpa esfarrapada), ela foi incrível em me tranquilizar, explicar como funcionava e deixar claro que, se eu não gostasse, poderia sair. Com essa liberdade toda, lá fui eu.




E eu adorei. Minha paixão por idiomas começou ali. Da noite para o dia, o medo desapareceu e eu passei a assimilar cada nova palavra, cada regra, cada som com avidez. Tá certo que, quando criança, eu tinha uma certa vergonha de me empenhar pra pronunciar os sons de forma correta. Secretamente, eu ficava murmurando as palavras que aprendia, tentando aproximar o que eu falava do que eu ouvia na sala de aula, mas, na frente dos outros... ixi... eu falava o inglês mais carregado de fonética luso-brasileira que se pode imaginar. Vergonha pura de criança que temia parecer ridícula em qualquer situação.

As aulas, eu lembro bem, não se resumiam a seguir o livro adotado. O livro estava lá, claro, mas, em primeiro lugar, não havia, em geral, uma historinha pra seguir, personagens para acompanhar ou coisa do tipo. Havia desenhos, sim, gravuras, imagens e tal, mas não necessariamente uma história acompanhando.

Havia muitos exercícios. MUITOS. Havia exercícios no livro principal, no livro de exercícios e, além disso, vários exercícios feitos em sala e dados em folhas avulsas para fazer em casa. Eu não passava mais tempo fazendo os deveres de casa de inglês do que os da escola, mas, ainda assim, não era uma coisa que eu acabava em 10 ou 15 minutos. Talvez por causa disso, eu dificilmente tinha que voltar para revisar alguma coisa que fora dada: era tanto exercício, e fazíamos tantas vezes que não tinha como alguém esquecer. E havia listas de palavras, de tempos verbais, de declinações. E você tinha, sim, que memorizar muita coisa, embora tudo fosse recapitulado nos exercício.



Além disso, usávamos sempre o conteúdo visto antes em sala. Era bastante comum a gente, por exemplo, aprender um tempo verbal e relembrar como se formavam os outros. E, na lista de exercícios para o novo tempo verbal aprendido, quase sempre vinham exercícios do que já havia sido aprendido antes, ainda que em menor quantidade. Dessa forma, a gente estava sempre em contato com boa parte do conteúdo do semestre, praticamente o tempo todo.

Era uma época sem CDs ou internet. De vez em quando, havia uma fita cassete, tocada num microsystem (arre!) cujas caixas de som eram do nível de autofalantes de drive-through. Mais raramente, íamos para alguma Sala de Vídeo, quase um templo de tecnologia, com uma televisão de tubo de 20 polegadas e um vídeo-cassete conectado, para rodar alguma fita VHS de um filme ou coisa assim. Mas tanto a fita cassete quanto o vídeo eram raros comparados ao resto. Ainda assim, eu ouvia muito inglês na sala de aula: professores E alunos. Praticamente o tempo todo.

E passei vários anos assim. Apesar da minha paixão por idiomas, eu tive pouco contato com outras línguas durante toda a adolescência. Por iniciativa própria, comecei a estudar uma coisa aqui, outra ali, mas acabava esfriando, ou por me interessar por outra língua ou por falta de material pra estudar sozinho (meus pais não eram exatamente ricos, eu já fazia inglês e natação, além de idas e vindas de aulas de caratê, e minha irmã tinha as próprias atividades dela. Somando tudo, ainda mais em tempos de inflação a 80% ao mês, já viu, né?). Então, demorou um bom tempo até eu ter oportunidade de me engajar novamente. Só na faculdade, quando eu tinha 17 pra 18 anos, foi que eu tive oportunidade real de começar a estudar outra língua, e optei pelo alemão.

O problema é que, na faculdade, os horários em um semestre quase nunca eram os mesmos no semestre seguinte. Então, ficava difícil se programar para realmente seguir os módulos semestre após semestre. Consegui o primeiro nível de alemão no meu segundo semestre, engatei o segundo nível no semestre seguinte, mas, depois disso, nunca mais consegui pegar módulos de alemão simplesmente porque os horários não batiam. Nesse meio tempo, fiz um ano de francês, um ano de espanhol e seis meses de japonês, e essa salada se deu basicamente porque eu não conseguia dar continuidade às línguas já iniciadas. Eu pegava francês, aí no semestre seguinte não tinha horário pra eu pegar o segundo nível; mas tinha espanhol, e eu, com receio de não poder voltar ao francês, começava espanhol. Então acabou que saí da faculdade com um conhecimento básico em algumas línguas, mas um tanto frustrado por não ter conseguido aprofundar de fato como eu fiz com o inglês (que estudei dos 9 até o final da faculdade).

Enfim, depois que me formei e comecei a trabalhar, resolvi voltar a encarar o aprendizado de idiomas pra valer. Optei pelo alemão, idioma pelo qual eu tinha uma curiosidade absurda desde que ouvi algumas frases em Indiana Jones e a Última Cruzada (não tô brincando!). E lá fui eu, pra uma escola famosa, e basicamente a única da qual eu tinha alguma referência.

O primeiro semestre foi empolgação pura. Nível iniciante de qualquer língua é só alegria. O segundo semestre foi igualmente empolgante. O terceiro foi bom, mas foi ali que eu comecei a notar que havia alguma coisa errada, mas ainda não fazia ideia do quê. Eu tirava notas boas, tinha uma certa desenvoltura com o idioma, os professores ficavam visivelmente satisfeitos comigo, então tudo parecia bem. E assim passou o quarto semestre. Mas alguma coisa não encaixava. Acabei tendo de deixar o curso após o quinto semestre, com média 9.0, mas prometi a mim mesmo um retorno assim que fosse possível.

A possibilidade de retorno foi adiada além do que eu queria. Nesse meio tempo, pra não perder o que eu havia aprendido, fiquei estudando e revisando por conta própria o que fora dado em sala de aula. Certas coisas acabavam ficando meio soltas, mas, enfim, eu tinha em mente que a pausa era temporária e que eu poderia recuperar o que fosse perdido tão logo eu estivesse em sala de aula novamente. Acabou que conheci alguns alemães e passei a tentar conversar (ou melhor, escrever, via MSN) com eles em alemão. E foi com isso que eu comecei a me dar conta de qual era o problema lá naquele terceiro semestre.

Clique aqui para a parte 2.




7 comentários:

  1. afff, agora fiquei curiosa! qual era o problema??
    alemao eh minha primeira lingua (aprendi com meus pais), estudei por anos, mas hj nao falo mais muito... e das 4 linguas que "falo", acho a mais dificil!

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    1. Demorou um tantinho, mas contei o problema hehehe.

      Também acho alemão difícil. Apesar da pronúncia e da escrita serem mais sólidas do que o inglês ou o francês, por exemplo, eu ainda não consegui "internalizar" a forma como eles ordenam as coisas na frase. É osso!

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  2. Pois é, Doug!

    Temos que ocupar nossas mentes durante esse processo, senão ficamos malucos! rs..

    Rapaz, essa coisa de aprender novas línguas é uma loucura. Eu só consegui aprender de fato o inglês e o francês fazendo cursos intensivos, e tendo contato diário com essas línguas.

    Tem que ter vontade, senão, é complicado mesmo!

    Um abraço!

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  3. quantos idiomas !!! eu tb comecei a estudar inglês cedo, entre 8 e 9 anos no CCAA. Nesse verão fiquei sabendo que foi influencia de meu pai ter começado a estudar inglês. já o espanhol, aprendi do mesmo jeito que o português. É minha segunda lingua materna. É o jeito mais fácil de se aprender um idioma.

    abraços;
    Catherine
    meetyoutherecanada.blogspot.com.br

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    1. Poxa, Catherine, que bom você ter já crescido com duas línguas! Já sai na frente nesse quesito e isso pode abrir muitas portas depois, ainda mais na sua área.

      Abraço!

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  4. Olá Doug!!!

    Me identifiquei com o seu post, sempre fui apaixonado por línguas eu comecei a aprender tarde aos 15 anos, e ainda estudo, o espanhol aprendi por conta propiá, hoje eu estou estudando estudando alemão, to no 1º semestre ainda, e cara é muito difícil o jeito de forma uma frase é mt mt complicado, mais espero sobreviver até o final do semestre, hahahah

    abraço

    William
    http://williamrumoaocanada.blogspot.com.br/

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    1. Fala, William!

      Pois é, cara, estudar idiomas sempre demanda um bom tempo e bastante esforço. Eu também acho alemão beeeeeeem puxado, e muita coisa que eu deveria saber na época em que estava aprendendo foi deixada de lado. Só há relativamente pouco tempo comecei a recuperar esse tempo perdido e, embora eu ainda não possa incluir a língua entre as que eu falo, pelo menos não estou me sentindo mais tão perdido aí hehehe.

      Boa sorte nos estudos!

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