sexta-feira, 1 de abril de 2011

Motivações

Dando uma olhada em alguns dos vários blogs de imigrantes, futuros imigrantes e indecisos, uma coisa chama a minha atenção: praticamente ninguém parece querer imigrar pensando na possibilidade de ficar rico ou, pelo menos, ganhar mais grana do que ganha aqui no Brasil. Não que eu achasse que a maioria das pessoas imigrava iludida, acreditando que ia enriquecer só por estar morando em um país de primeiro mundo, mas eu pensava, sim, que eu veria o assunto "dinheiro" mais comentado. Mas me enganei redondamente.

E que bom saber disso!! Por dois motivos: primeiro, dentre as minha motivações, não está incluído o fator dinheiro. Claro, não quero imigrar pra passar fome (e por isso as pesquisas e a preparação antes de me meter a preencher formulários), mas não estou realmente nem um pouco preocupado com a possibilidade de ganhar mais ou menos do que ganho aqui. Segundo, porque, com tanta gente motivada por mais ou menos as mesmas coisas que eu, parece mais fácil não me sentir sozinho nesse barco hehehe.

Falando das minhas motivações... bom, que me conhece sabe que eu tenho um sério problema pra me sentir parte de um lugar e pra resolver o que vou ser quando crescer. Por isso, em princípio, toda possibilidade de recomeçar sempre me parece muito, mas muito tentadora. Mas dar um passo tão grande como a imigração não pode ser algo feito só pela vontade de recomeçar - pelo menos, não na minha visão e condição, e lembrando que sempre deixamos algo para trás ou de lado, em toda escolha que fazemos. É algo inerente à própria natureza de escolher. Mas enfim, o que me motiva hoje em dia, em primeiro lugar, é a segurança - ou a falta dela, quando se trata do Brasil. Simplesmente detesto a sensação de insegurança que sinto toda vez que saio andando por São Paulo. Embora eu nunca tenha passado por uma situação de violência extrema (agressão, assalto à mão armada, sequestro relâmpago, etc), não sou do tipo que acha que isso só acontece com os outros. Aqui, só me sinto seguro depois que passo por uma catraca de metrô, antes de embarcar, e quando estou dentro da minha casa. Fora isso, a sensação de insegurança é constante. E isso afeta todo o resto. Acabo deixando de ir ver uma peça em cartaz ou algum outro evento porque vejo o horário e penso "hmm, vai começar às 21h30... então deve acabar lá pelas 23h, 23h30... não tem metrô perto.. vou ter que voltar de táxi/ônibus... é na região X... lá semana passada teve dois assaltos, um com morte... é, melhor deixar pra lá". É claro que eu sei que algo assim pode acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar, mas, convenhamos... melhor arriscar passear à noite numa cidade com criminalidade baixa do que tentar a sorte por aqui, certo?

Deixando a (in)segurança um pouco de lado, também busco um pouco mais de respeito entre os seres humanos. Não sei como é no Canadá, acredito que exista gente de todo jeito também, mas boa parte dos relatos que li até agora falam de pessoas receptivas e dispostas a ajudar, não só no que diz respeito ao processo de imigração, mas em tudo, incluindo o respeito às normas de quem vive em sociedade. Aqui no Brasil, a gente é ótimo pra doar alimentos, remédios e dinheiro quando as tempestades de verão trazem parte de um morro abaixo, mas é quase impossível pra mim aqui encontrar alguém que seja educado o suficiente pra abrir um pouco de espaço na calçada para que eu passe. No metrô então... tem um monte de indicações do tipo "por favor, antes de embarcar, deixe as pessoas saírem". Mas quem disse? Acho que o povo tem tanto medo de ter um braço ou uma perna decepada pela porta do metrô que nem bem a porta abre começa a rinha de galo entre os que querem entrar e os que querem sair.

Fora isso, a possibilidade de estudar novamente, em instituições de qualidade realmente, é algo que me atrai muito. Pelo que li até agora, é relativamente tranquilo estudar lá, fazer uma segunda graduação ou uma pós. Ainda não me informei muito a esse respeito, até porque tenho consciência de que vou ter que primeiro me acostumar com o francês pra depois ter cacife suficiente pra encarar uma faculdade, mas, enfim, existe a possibilidade e ela não é algo pra se jogar fora. E começar de novo em outro emprego, talvez numa outra atividade, com outros objetivos é algo que eu sempre encarei muito bem.

Enfim, pode haver outras coisas, ou desdobramentos dessas que listei aí, mas é mais ou menos isso: me sentir seguro, poder fazer as coisas de que gosto sem ficar olhando sobre o ombro o tempo todo; ter e dar respeito sem que isso pareça coisa de "caxias", "mauricinho", "otário" e outros adjetivos simpáticos; e ter a chance de estudar e trabalhar num ambiente que favorece isso. Tô me iludindo demais?

Um comentário:

  1. Gostei desse post, traduz bem o que eu sinto, penso exatamente como você no que se refere a viver aqui no Brasil, ninguém merece...

    Boa sorte e sucesso.

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