terça-feira, 15 de setembro de 2015

Seis meses de Canadá!




Quando acordei no dia 14 de março deste ano, não consegui de forma alguma me sentir bem. Não bastasse a saborosa apreensão natural de uma situação tão "banal" como mudar de país, ainda tinha a deliciosa cobertura extra de apreensão e angústia que eu sempre coloco em qualquer coisa que faço, mais a tristeza da separação da família, tudo por apenas um Real a mais. Era o dia da mudança, o dia da virada na vida, o dia que marcava o recomeço, mas eu não conseguiria sentir nada disso naquele 14 de março. Meu pensamento se dividia entre a tristeza por deixar minha família (de novo), um pouco de culpa por deixá-los tristes com uma nova partida minha, e as variantes para perguntas como "será que estou MESMO com todos os documentos de que vou precisar?".

O 15 de março chegou um pouco mais leve. Apesar de todo o perrengue de chega-numa-cidade-muda-de-avião-vai-pra-outra até aportar de vez em Montreal, o luto do dia anterior já se fazia mais discreto. Depois de encontrar meu amigo no aeroporto da cidade e ir pra casa dele (e, principalmente, depois de tomar um banho, comer e bater papo), comecei a olhar pra frente com mais otimismo e curiosidade.

Roda a fita pra seis meses depois, 15 de setembro de 2015. Seis meses de Canadá! Seis meses de Quebec! Seis meses de Montreal! Quanta coisa já mudou, quanta coisa continua a mesma, quanta coisa ainda acontecendo e por acontecer! Mudei de endereço (da casa do meu amigo para a "minha" quitinete alugada), de marca de computador (entrei pra ver qualé a dessa coisa de AiMéqui), de forma (um tanto esférica, quando cheguei, para algo mais retangular, depois que comecei a correr), de universidade (da McGill para a Universidade de Montreal, agora) e de idiomas (o tempo todo). A saudade da família continua, firme e forte, presente todos os dias, assim como continuam várias inseguranças e ignorâncias a respeito da nova cidade, da província escolhida, do país que parece ser dois. Aconteceu que descobri que sou fascinado por corvos, que meu inglês não é tão capenga quanto eu imaginava, que meu francês ainda vai chegar lá, que também tem stalker no Canadá; aconteceu também que fiz amizades com professores que se ofereceram até pra me dar carta de recomendação, com quebecos da gema que eu achava que só conheceria daqui a um booooooom tempo; está acontecendo de eu frequentar uma biblioteca de verdade pela primeira vez na vida, de morrer de vergonha toda vez que alguém me pergunta alguma coisa em francês na rua, de descobrir um lugar novo toda vez que saio de casa, de não cansar de ver os esquilos em duelos de fúria peluda nas árvores, de confirmar que eu e o Sol/calor/verão temos diferenças irreconciliáveis. Ainda está por acontecer o primeiro emprego, a fluência no francês, a decisão sobre os estudos, e toda uma lista de coisas que só aumenta a cada novo passo dado.

Com seis meses apenas, dá pra eu fazer um apanhado geral ou dar conselhos? Acho que ainda é cedo. Muito cedo. Por mais que eu já tenha tido o meu quinhão de experiências aqui, ainda me sinto muito cru para tirar conclusões ou traçar paralelos em demasia. Se tô gostando? Sim, e muito! Se acho que fiz a coisa certa? Quando penso no que eu estaria fazendo no Brasil, sem dúvida que me parece a coisa mais certa do mundo! Se dá vontade de voltar? Posso dizer que dá vontade — e muita! — de trazer os meus pra cá, ainda mais com as dificuldades que o Brasilzão velho de guerra está enfrentando agora. Se tenho receios? Sim, e muitos! Não estou bebendo champanhe e arrotando poutine só porque estou no Canadá. Dar um rumo pra vida é preciso, e isso dá origem a vários receios. Ao mesmo tempo, a oportunidade de poder começar de novo é muito, muito, muito estimulante!

Ah, um conselho eu acho que posso dar para quem ainda vai vir: trace seus planos, estude os idiomas, se prepare; mas, sobretudo, não se engane. A preparação não vai ser suficiente, não importa o quanto você se esforce, calcule ou imagine. Tem coisas que a gente só descobre e entende mesmo quando as vive. Então, não esqueça de tirar um tempo para relaxar e curtir o seu tempo aí no Brasil, com os seus.

À bientôt!

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