terça-feira, 5 de maio de 2015

Meu primeiro apartamento (alugado) em Montreal



...um imigrante brasileiro recém-chegado a Montreal que, por graça divina, podia contar com um amigo para passar os primeiros dias nas Terras do Norte. Aliás, segundo ele, eu podia ficar os primeiros meses, se quisesse. A gente se conheceu quando estudava francês, e ele já havia obtido o CSQ, enquanto eu estava tentando juntar as famosas 150 horas (na época em que isso ainda existia).

Enfim, esse meu amigo foi uma alma extremamente generosa! Não mantivemos um contato constante  depois que nos separamos no curso de francês, mas, quando falei que o processo finalmente tinha terminado e que eu viria em março, ele prontamente se ofereceu para me hospedar. Eu confesso que fiquei um tanto relutante porque detesto dar trabalho ou incomodar os outros. Considerei um bom tempo alugar um apartamento do Studio Meublé ou um do Airbnb, mas, no fim, com ele insistindo pra valer, acabei aceitando. Fui e sou extremamente grato, porque ele me deixou à vontade não só para fazer a casa dele como minha como me ajudou e deu dicas em relação a várias coisas. Realmente, quando você pode contar com a experiência de quem veio antes, várias coisas deixam de ser assombrosas. Então deixo aqui registrado meu agradecimento incondicional.

Mas, porém, contudo, todavia, entretanto... como disse antes, não gosto de incomodar, e não queria bancar o folgado e ficar no sofá como se não houvesse amanhã. Então já na minha primeira semana aqui, tratei de começar a procurar apartamento. Meu amigo, inclusive, se ofereceu e foi comigo dar uma olhada nos primeiros, e me passava algumas coisas nas quais eu deveria ficar de olho. E ele servia de parâmetro também em relação aos preços, já que podíamos comparar com o que ele está pagando de aluguel.

Aí veio a semana do Objectif Intégration e eu fiquei sem tempo algum para olhar apartamento. Os que eu tinha olhado na primeira semana eram legais, mas um tanto acima do que eu estava querendo pagar neste primeiro ano. Resolvi mirar nos studios (a nossa boa e velha quitinete, ou o 1 1/2 dos quebecos francófonos), porque, morando só, ainda tomando um rumo na vida, realmente não tenho necessidade de nada muito grande. Encontrei uma quitinete pertinho da McGill, mas tinha dois inconvenientes pra mim: primeiro, era no térreo (que, pro pessoal daqui, é o primeiro andar); segundo, o apartamento ficava no caminho pra lavanderia do prédio, de modo que sempre tinha gente transitando por ali - e eu gosto é de sossego.

O prédio pareceu legal, bem localizado, mas fiquei em dúvida e resolvi esperar um pouco mais. E, finda a minha segunda semana, voltei a procurar. Aqui funciona mais ou menos assim: você pode procurar anúncios no jornal ou internet, ligar, fazer as perguntas pra saber o que quiser e marcar uma visita; ou você pode simplesmente ir andando, entrando nos prédios e perguntando se há algo disponível. Muitas imobiliárias possuem escritório ou representação nos próprios prédios dos quais são donas, então isso facilita na hora de procurar. Mas vou te falar: eu não encontrei muitas pessoas simpáticas, não. Não fui destratado nem me fizeram perguntas absurdas, mas era difícil encontrar alguém que pelo menos fingisse estar ali pra te atender bem. O povo parece que acorda com uma prisão de ventre barba!

Falando em perguntas, basicamente queriam saber se eu tinha histórico de crédito. Eu já falava de cara que tinha acabado de chegar e que, por isso, era perda de tempo levantar histórico porque eu não teria nada lá. Teve um senhor de um prédio pra quem eu perguntei qual tipo de garantia ele pedia. E ele falou: "você tem dinheiro no banco?". Falei que sim e ele disse que era tudo que ele precisava saber ali. Aí eu pressionei e ele disse rispidamente: "primeiro você assina a proposta e aí a gente discute o que você vai dar como garantia pra nenhum de nós dois perder tempo". Aí eu subi o tom também e disse que eu estava perguntando sobre a garantia justamente para que a gente não perdesse tempo, porque se eles quisessem algo que eu não poderia dar, eu já descartaria aquele apartamento. Depois disso, ele baixou o tom e até sorriu, vejam só. Mas não assinei proposta nenhuma, já que o apartamento - de novo - estava acima do valor que eu queria.

E foi assim durante a terceira semana toda. Eu olhava apartamentos na internet ou anotava o número de telefone de imobiliárias, ligava ou ia pessoalmente e via o que estava disponível. Até que resolvi voltar ao prédio da quitinete que eu tinha gostado (exceto por ser no andar térreo) e ver o que mais estava disponível lá. Da primeira vez, tratei direto com a inquilina que estava passando o apartamento pra frente, mas dessa vez falei com a imobiliária direto. Marquei um horário para o dia seguinte e fui lá pra ver o que eles tinham. E foi assim que achei minha quitinete :)

Depois de fazer a visita, fazer as perguntas e considerar o orçamento, mandei um e-mail para a imobiliária dizendo que estava interessado e perguntando o que eu precisava fazer em seguida. Me responderam no dia seguinte com o formulário de proposta de locação. Essa proposta é semelhante à que fazemos no Brasil, mas, ao contrário de lá, aqui a proposta tem validade jurídica. Ou seja, se você assina uma proposta e o proprietário do imóvel te escolhe para ser o inquilino, a proposta já é um compromisso formal. Então, cuidado para não sair assinando propostas por aqui como se você um documento sem importância, porque você pode acabar legalmente responsável por meia dúzia de locações!

Preenchi o formulário, anexei os documentos que pediram (basicamente, cópia do passaporte e comprovante de fundos. Usei um extrato da minha conta aqui - e olha que ela tá pobrinha - e outro da conta do Brasil, sem tradução nem nada). No dia seguinte, me retornaram por e-mail dizendo que minha proposta tinha sido aprovada e que eu podia marcar um horário para ir assinar o contrato. Nem acreditei! Simples assim? Respondi o e-mail e, no dia e hora marcados, fui lá.

O contrato é o padrãozão daqui. Você pode encontrá-lo à venda em vários lugares, mas é o proprietário que se encarrega de obtê-lo. Junto com esse documento, às vezes vêm também uma folha com as normas do prédio, serviços oferecidos e outras coisas, como cláusulas extras que não estão cobertas pelo contrato-padrão. O contrato possui campos e até quadradinhos pra você marcar! Por exemplo, em uma determinada seção, há a seguinte afirmação: "o imóvel será locado apenas para fins residenciais". Aí, na frente, tem os quadradinhos com as opções "sim" e "não". Então, preencher um formulário desses é quase como fazer prova de escola. Tem espaço e quadradinhos para número de cômodos, eletrodomésticos que fazem parte do imóvel, quem ficará responsável por pagar água, luz, calefação, etc, etc, etc.

A moça que me atendeu repassou o contrato comigo, e aproveitei para tirar mais algumas dúvidas que surgiram na hora. Depois de tudo certo, assinei o contrato, e ela disse que me avisaria quando a minha via estivesse pronta. Ela pediu para eu fazer o depósito do primeiro mês (o único depósito legalmente aceito por aqui. Mais do que isso é ilegal, mas um monte de gente faz), mas confesso que o meu desconfiômetro brasileiro ficou ligado e eu só fiz o pagamento depois de receber a minha via do contrato (o que aconteceu só uma semana depois).

Com tudo certo, fiquei apenas esperando para ver se dava sorte e conseguia me mudar antes do dia estipulado (que foi 1º de maio). Infelizmente, não rolou. Só liberaram a chave dia 1º mesmo. Depois que a peguei, fui levando minha tralha pra lá ao longo do dia, e foi uma experiência divertida, porque o que mais você via na rua eram estudantes saindo ou chegando dos prédios! Todo mundo fala que 1º de julho é o dia da mudança no Canadá, mas acho que 1º de maio é o dia da mudança dos estudantes! Foi um barato ver dezenas de caminhõezinhos da U-Haul o pessoal carregando malas, sacolas, televisões, colchões, mesas e outras tralhas pelas ruas. E mais legal ainda foi fazer parte disso! Me senti até com 20 anos de novo, de tanta pirralhada zanzando pra lá e pra cá :D 

Ah, detalhe: o apartamento não estava limpo e nem pintado. Quando peguei as chaves, disseram pra eu ficar tranquilo que isso seria providenciado. Eu não quis esperar e comecei a limpar logo que entrei lá, mas nem bem comecei e apareceu uma funcionária para fazer essa limpeza inicial. Gente boníssima, e fez um trabalho primoroso! Me poupou um tempo enorme! A pintura foi feita hoje, quando eu estava fora. Aliás, isso é um ponto importante e que difere bastante pra gente no Brasil: aqui, aparentemente é comum para os zeladores dos prédios entrarem nos apartamentos, mesmo sem aviso prévio, se for necessário por algum motivo. Aconteceu no apartamento do meu amigo umas três vezes enquanto estive lá (ele teve um problema com a geladeira e o zelador apareceu lá quando nenhum de nós dois estava em casa), e comigo já aconteceu agora, quando pintaram tudo. Não dá pra deixar de dizer que é esquisitíssimo você chegar e encontrar a casa meio que fora de lugar, mas, até onde vi, não mexeram em nada que estava dentro dos armários. Só mexeram no essencial para pintar as paredes e portas.

Segundo a imobiliária, eles não enviam nada para lembrar o pagamento. O dia em que você pagará cada aluguel fica estabelecido no contrato, e cabe a você mesmo lembrar de pagar. Há a possibilidade de fazer débito automático, mas isso depende do proprietário ou da imobiliária. Aliás, várias coisas podem ser acordadas entre você e o proprietário, então cada caso tem suas próprias particularidades. É importante, contudo, lembrar sempre de perguntar o que está incluído no preço, pois às vezes o preço de um apartamento parece bom, mas quando você descobre que terá de arcar com eletricidade, calefação, serviço de remoção de neve e outros, o preço final pode mudar muito, e o bolso pode ficar dolorido.

Enfim, acho que é isso. Ainda vou demorar um pouco a me ambientar à nova casa, mas gostei do cantinho que consegui. O bom é que, se por algum motivo eu não curtir, o contrato dura só um ano (ao contrário dos 30 meses de São Paulo...), então eu posso simplesmente não renovar e procurar outro lugar. Mas nem quero pensar nisso. Que os próximos meses sejam tão tranquilos quanto esses primeiros dias!

À bientôt!

10 comentários:

  1. Parabens ! Continue compartilhando sua experiência nas terras geladas.
    Sucesso.

    abraços;
    Catherine
    http://meetyoutherecanada.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Hoomiii faltou o principal... fotos!!! kkkk
    Ah vai, se não for invadir de mais sua privacidade a garota aqui tem curiosidade de saber como é as casas/apt dai!

    Ahh também se não for pedir muito quanto sai a média de aluguel ai??
    No teu caso que é térreo a obrigação de retirar a neve é tua?? Li em algum lugar que quem mora em casa é obrigado a tirar a neve da sua calçada e tal!

    Tá bom já perguntei muito!!

    Parabéns e sucesso!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Hahaha! Olha, Itanauã, vou ficar devendo as fotos por enquanto porque internet ainda tá meio escassa no meu estágio atual de imigrante. Mas, assim que der, coloco as fotos que tirei antes da mudança, que aí dá pra ter uma noção do espaço, ok?

      Média de aluguel vai depender da região e do número de cômodos. Eu tô numa região central, então os preços são mais altos. As quitinetes saem por algo entre 600-800 dólares canadenses, mas você encontra apartamentos 2 1/2 a partir de 720 ou 750. Um amigo mora num 3 1/2 (= 1 quarto, 1 sala e 1 cozinha separados) e paga $1000. Mas, saindo do centro, dá pra achar imóveis mais em conta, mas aí você precisa contabilizar o gasto com transporte público ou automóvel pra ver o que vale a pena.

      Nussa, acabei não mencionando no post! Eu não fiquei com o do térreo, não! Fiquei com um apartamento no mesmo prédio desse que tinha visto no térreo, mas é no quarto andar. A neve quem remove, no meu caso, é a imobiliária porque tô num prédio que tem zelador e tudo mais. Nas casas, o proprietário é que tem que remover a neve sob risco de multa e de arcar com os custos de hospital se alguém se machucar por conta de gelo ou neve da calçada em frente a casa.

      Brigadão, e pode perguntar à vontade! Agora que tô aqui, no que puder ajudar, vamos aí! :)

      Excluir
  3. Oi!! Tô namorando o seu blog já faz um tempinho, desde um pouquinho antes da sua mudança, e já escrevi umas três ou quatro reviews enormes pra vc, que, nessa minha ignorância informática, perdia sempre que apertava o botão publicar (não faço ideia do por quê).
    Hoje decidi que ia escrever pouquinho, até porque certamente vou perder tudo de novo. Sou formada em Letras e Jornalismo, morrendo de vontade de imigrar e há umas duas semanas comecei um curso de "français écit en ligne" na McGill...
    Hoje é só mesmo pra deixar registrado que fico esperando os seus posts, tipo novelinha ou edição nova de HQ, sabe? E quanto maior, melhor! rs Você leva jeito pra escrever...
    Boa sorte por aí!
    Aline

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Aline! Puxa, obrigado pelo post!!! É sempre legal saber que tem alguém que se identifica e acompanha! Tá gostando do curso de francês na McGill? Vamos trocar umas figurinhas!!

      Obrigado pelos elogios! :)

      Excluir
  4. Rs.. Eu me divirto com suas histórias!

    Que bom que as coisas estão se ajustando por aí, meu parceiro! Poste as fotos como o Itanauã mencionou, queremos ver como ficou seu cantinho mega bem localizado junto aos estudantes rs..

    Já iniciou as aulas de inglês? Quando possível, compartilhe conosco!
    Grande abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grande Filipe!! Realmente, tudo caminhando bem! Como falei no post da Itanauã, as fotos virão, pode deixar! E o meu cantinho é de estudante meeeeeeesmo, com direito a colchão no chão hehehehe

      Comecei as aulas essa semana, e logo, logo venho contar as primeiras impressões.

      Abraço!

      Excluir