segunda-feira, 23 de março de 2015

Conta em banco, Assurance Maladie e frio nazureba!

A segunda já havia sido muito emocionante em termos de obrigações relacionadas à residência permanente e contato com nativos, mas essa parte ainda não havia terminado. Como não consegui ir ao banco no primeiro dia, resolvi que seria a primeira coisa a fazer na terça. Acabou sendo a segunda, porque a primeira foi esperar a neve diminuir.


Conta bancária

Foi a primeira vez que vi neve caindo pra valer. E, vou te contar, fiquei hipnotizado pela bagaça! Passei um bom tempo vendo o vento soprando cada hora de um lado e a neve rodopiando ora pra cá, ora pra lá. Sim, é deslumbre de recém-chegado, eu sei, mas vamos combinar que eu mereço, né? Depois de todo o estresse e de ficar andando de mão dada com crises de pânico iminentes nos últimos três dias, eu merecia um momento Kodak pra relaxar.

Demorou pra neve diminuir, mas, quando ela diminuiu, lá fui eu pra rua. Eu tinha escolhido o Scotia Bank pra abrigar minhas moedas de ouro, e, no dia anterior, tinha tentado ir na agência do metrô McGill. Mas descobri que havia uma perto de onde estou, e foi pra lá que rumei. Quando cheguei, a recepcionista me cumprimentou com um "Bonjour". Então respirei fundo e soltei:

- Bonjour! Je suis un nouvel arrivant et je voudrais parler à quelqu'un sur la possibil--

- Pour ouvrir un compte?

Poxa, dona... eu tô aqui, me esforçando, fazendo exercício de relaxamento do maxilar, tentando levar meu distúrbio de ansiedade do jeito mais leve possível e você não me deixa nem terminar a frase? Mas oui, é isso aí mesmo, vamo lá... Ela foi até a mesinha, pegou um cartão e anotou que eu teria um rendez-vous com um gerente de contas dali a quarenta minutos. Já me disseram que pra tudo tem rendez-vous. Se você vai à farmácia procurando um remédio pra dor de estômago, eles marcam um rendez-vous com o farmacêutico dali a 10 minutos, mas você não escapa. Ela pediu meu passaporte e um comprovante de residência (apresentei o contrato de celular, mas ela pediu outro. Então apresentei a folha impressa quando peguei o NAS, e aí ela aceitou).

Fui matar tempo e voltei no horário marcado. Pontualmente, fui levado até a sala do gerente. Depois das devidas apresentações, expliquei que eu tinha acabado de chegar e que eu já tinha lido que o banco possui um programa para imigrantes recém-chegados e gostaria de saber dos detalhes. Cara... eu nunca recebi tanta atenção em banco algum no Brasil! Tá certo que minha vida bancária nunca foi muito agitada, mas eu já tive que falar com um ou dois gerentes algumas vezes e NUNCA recebi tanta atenção. Verdade seja dita: o gerente que me atendeu foi cordial e profissional, mas não exalava simpatia (só que eu provavelmente também não exalo, então dá empate). A boa notícia é que consegui entender 98% do que o gerente falou, o que é bem importante na hora de lidar com a instituição que vai cuidar do seu ouro.

Ganhei vááááários papéis (que estou lendo aos poucos), vááários cartões de visita do gerente ("caso você tenha amigos imigrantes que estejam chegando"), folhetos e brochuras com informações sobre as operações bancárias, uma pastinha para guardar tudo e o mais importante: um cartão de débito (ativado na hora, no caixa da agência) e o pedido do cartão de crédito já pré-aprovado. E ele chegou três dias depois (a previsão era de 10)! Consequentemente, já estou construindo meu histórico de crédito (pagando conta de celular e comprando pão, mas tá valendo, néam?).


Comprinha

Depois do banco, fiquei tão feliz da vida que resolvi dar o passo seguinte, que é... gastar! Nada como o capitalismo e o consumismo pra fazer a gente relaxar (só que não). O fato é que eu não trouxe o meu computador do Brasil, por uma série de razões: primeiro, ele é bem antigo e já estava bem lento; segundo, por ser bem antigo, dá pra imaginar que ele é bem pesado, principalmente se comparado com os modelos modernosos; terceiro, o espaço era restrito (viajei só com uma mala, além da bagagem de mão), e era melhor aproveitar esse espaço com outras coisas que me serviriam mais permanentemente do que com um computador que não demoraria muito a morrer de vez.

Então, uma das coisas que eu queria fazer logo que chegasse era comprar um laptop novo. Dei uma olhada em lojas no centro de Montreal, mas não achei exatamente o que estava procurando. Me aconselharam ir até o mercado central, que é um aglomerado de várias lojas grandes que fica fora do centrão, um pouco mais para o norte. Peguei o metrô (pro lado errado) e demorei um tanto pra chegar lá. Na verdade, desci na estação de l'Acadie e já tinha me proposto a caminhar até o mercado (embora pudesse muito bem pegar o ônibus).

E andei... e andei... e andei... e consultei o Google Maps pra ver se eu estava indo pro lugar certo... e andei mais... e o negócio não chegava. Acho que durou uns 20, 25 minutos pra eu poder avistar os prédios. Mas andar não foi o problema: o problema foi o vento! O boulevard é reto, com construções baixas, então o vento passa numa boa por todo lado! Eu estava bem agasalhado, mas tinha deixado o rosto e as orelhas expostas porque ah, não é tão longe, e eu não tava sentindo incômodo. Bom, quando passei a mão nas zurebas, descobri que não estava sentindo nada porque elas já estavam dormentes há um bom tempo (e, quando peguei, elas começaram a doer). Eu tinha levado o gorro, mas já estava tão perto do mercado que valia mais apertar o passo do que parar pra tirar o dito cujo da mochila.

Na loja, demorei a me decidir por um laptop, mas finalmente escolhi. Na saída, taquei o gorro pra deixar de ser besta e pensei em pegar o ônibus de volta. Mas, quando você está bem protegido, tudo fica mais fácil, de modo que voltei andando mesmo e curtindo o céu azul e o -8ºC que o termômetro marcava.


Assurance Maladie

A quarta-feira foi gasta com pesquisas sobre as quais vou falar em algum outro post. Na quinta, havia o meu rendez-vous (olha ele aí de novo) na Régie d'assurance maladie. Eu poderia ter tentado ir lá antes, já que, se você não marcou, pode tentar se "encaixar" na hora. Mas quis fazer tudo bonitinho, então deixei pra ir só no dia e hora indicados mesmo.

Mas me atrasei 15 minutos por ainda não saber me situar na cidade e não ter ideia do tempo que se leva de um lugar a outro. Entrei no prédio meio esbaforido e tentei localizar o balcão de recepção (Rá! Pegadinha do Malandro, não tem disso no prédio e você perambula à vontade), daí me lembrei que estava em Montreal e fui pro elevador. Achei a salinha e me identifiquei à guarida que ficava perto da entrada da sala. Ela achou meu nome na lista e já me encaminhou para um guichê. Lá, fui muito bem recebido por uma funcionária que me deu várias informações sobre a assurance maladie (como, por exemplo, a de que eu deixo de ser coberto pelo sistema de saúde pública se ficar mais de 183 dias por ano fora do Quebec). Ela pediu meu passaporte, minha confirmação de residente permanente, meu CSQ e um comprovante de residência (lá vai o contrato de celular de novo), saiu, voltou, pediu pra eu assinar vários papéis e, no fim, falou o que eu já imaginava: estarei coberto pelo sistema de saúde pública a partir do dia 1º de junho, e minha carteirinha deve chegar um pouco depois dessa data.

Ou seja: realmente procede a história de que o mês em que você se apresenta à Regie já conta como primeiro mês cheio, independente do dia. Se eu fosse lá dia 31 de março, continuaria entrando no sistema só em 1º de junho. Se tivesse ido antes, nada mudaria. E de que isso serve? Serve pra você aí, que ainda vai vir, calcular direitinho até quando terá de cumprir carência e contratar um seguro particular por fora para o número de dias exatos em que não estará coberto, evitando assim pagar pelos dias em que já estará coberto pela saúde pública daqui.

Ah, teve uma surpresa! No final do atendimento, além de me desejar as boas-vindas, ela elogiou meu francês! A minha cara de choque deve ter sido bem evidente, pois ela sorriu, confirmou e disse que, em geral, os brasileiros não falam bem e quase sempre se expressam em inglês lá na Régie. Então, gente boa que está vindo, vamos aí contribuir pra mudar essa imagem dos brasileiros! Cheguem com o francês afiadinho pra tirar a assurance maladie! ;-)

Na saideira, você paga 10 moedas de ouro canadenses para tirar a foto que vai vir na carteirinha. Eu estava com um casacão vermelho e esqueci de tirá-lo na hora da foto. Então desconfio que eu vá parecer a princesa Amidala. Fazer o que, né...



À bientôt!

8 comentários:

  1. Tenho adorado seus relatos. Bom acompanhar a história e ver a evolução a cada dia aí. Abraço! =]

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    1. Obrigado, Porcelets! Aos pouquinhos a gente vai começando a entender como as coisas funcionam :)

      Abraço!

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  2. kkk princesa Amidala foi ótimo!

    Deixei pra escrever só agora. Homi, que despedida foi essa em?? O que deveria ser uma festa por está indo realizar seu sonho foi mais pra perto de um pesadelo.
    Sei bem como é isso, quando fui passar um tempo na Irlanda todos no aeroporto se acabando de chorar uma agonia terrível e olhe que eram só 8 meses :/ Senti falta de alguém lá dando pulos de alegrias junto comigo... mas fazer o que né? Dá pra entender o lado deles também!

    Tá ótimo teus post mas falta dá uma opinião mais pessoal em relação a cidade e as primeiras impressões!

    Queria tirar mais uma dúvida, quanto tempo tu precisas ficar em Quebec até poder se mudar pra outra província? Digo, se um dia quiseres viver em BC por exemplo tu podes?

    Tudo de bom pra ti!

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    1. Oi, Itanauã, obrigado pelo comentário!

      Então, como uma amiga minha disse uma vez, aeroporto é sempre uma droga. Se não é a gente chorando, são os outros, se não são os outros, é a gente... isso quando não são todos ao mesmo tempo! Mas faz parte de se mudar. Cada despedida é ruim, mas todos acabam encontrando um jeito de lidar com a saudade e a distância.

      Agora que você falou sobre opinião mais pessoal, eu me dei conta que ainda não parei pra analisar isso aqui comigo. Coloquei tanta tensão em tudo que tinha (e ainda tenho) que fazer que não pareci pra pensar sobre o que estou achando. Então valeu o toque, vou começar a prestar mais atenção nisso :)

      Não há tempo mínimo. Se eu quiser ir amanhã pra British Columbia, Alberta, Ontario ou qualquer outra província, não há nada que me impeça. Maaaaaaaas eu assinei uma carta de intenção com o Quebec pra me estabelecer aqui, então vou tentar fazer dar certo aqui antes de pensar em ir pra outro lugar :)

      Abraço!

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  3. Muito bom, Doug! As dicas são preciosas, principalmente a questão dos comprovantes de endereço. Isso vai determinar a ordem das prioridades na hora de chegar em Quebec depois de amanhã! :D Aiiii, batendo um nervoso já!
    Abs.

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    1. Acho que o comprovante de endereço não é primordial pra tirar boa parte dos documentos, mas, se tiver, acho que vale a pena estabelecer umas prioridades, sim (foi isso que eu fiz)! Imagino o nervoso, mas segura que melhora depois que chegar aqui :)

      Abraço!

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  4. Que legal !!! Ainda bem que tudo esta dando certo. Esses primeiros dias a gente se maravilha com tudo mesmo . E espere o verao chegar, a cidade fica super feliz !
    Abracao e parabens pela sua conquista ! Voce chegou !!!

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    1. Valeu mesmo, meu caro! Aos poucos, vou aprendendo a me virar e a vida vai começar a tomar forma. Imagino a festa que deve ser a cidade quando chega o verão (mas tenho medo do calor hehehe).

      Abraço!

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