sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Último dia de trabalho

Este é uma daquelas postagens que têm de ser escritas no calor do momento. Se não, o cérebro entra em ação, pesa, mede, avalia, quantifica tudo, e aí não sobra muito o que sentir. Então lá vai.

O ser humano pode ser bem engraçado - no sentido de curioso, esquisito, estranho. Eu passei o último ano inteiro e boa parte dos anos anteriores pensando no dia de hoje: o dia em que, finalmente, deixaria o serviço público e iniciaria uma nova etapa na minha vida. Ansiei por isso, lutei por isso, baixei até um aplicativo de celular que me mostrava quantos dias, horas, minutos e segundos faltava para esse dia chegar. E aí, ele chegou. E fiquei triste.

Talvez porque toda despedida seja triste, ou talvez porque, embora não fosse segredo que haveria uma festinha de despedida, eu não esperasse ouvir tantas coisas legais a meu respeito, como pessoa e como profissional, e muito menos que algumas lágrimas descessem pelos rostos de algumas pessoas. Colegas de trabalho vieram, inclusive de outros setores, me abraçaram, me desejaram toda a sorte do mundo, me parabenizaram pela minha coragem. Falaram que vão sentir minha falta. Lembraram coisas engraçadas que eu disse em algum momento. Me abraçaram de novo. Me deram presentinhos (um par de havaianas com as cores do Brasil, que é pra "matar a saudade da terrinha" quando eu estiver lá no norte gelado, e um guia Lonely Planet do Canadá, que é pra eu não me perder e lembrar que Montreal fica no leste e Vancouver no oeste - piadinha interna porque eu sou péssimo com pontos cardeais). Agradeceram minha ajuda. Pediram pra não sumir, pra escrever, pra atualizar o Facebook para eles poderem acompanhar a jornada. Me abraçaram de novo e se foram.

E eu ali, tendo consciência de que, muito provavelmente, estaria vendo cada um deles pela última vez. Vou embora de São Paulo sem ter feito um único amigo de verdade, daqueles com os quais você pode contar e que carrega para a vida toda. Mas, embora não tenham se tornado meus amigos de verdade, meus colegas de trabalho foram as pessoas com quem mais convivi nesses quase sete anos de São Paulo. A gente estava ali, todos os dias, unidos basicamente pelo trabalho, concorrendo para os objetivos do trabalho, ficando irritados juntos por causa do trabalho, prometendo que íamos largar aquilo tudo um dia. Então, não há como negar que fizeram parte da minha vida durante todos esses anos. Tenho total consciência de que vamos nos perder em algum momento. Não é pessimismo ou a tristeza falando: já estou neste planeta há tempo suficiente pra entender que a gente sempre sabe, de forma semi-consciente, quem vai ficar e quem não vai. E eu sei que eles não vão. Vamos manter contato neste início, talvez me escrevam quando eu me mudar, perguntem como está indo. Mas isso vai ficar para trás rápido.

Ainda assim, eles são as pessoas de quem me lembrarei quando pensar na época em que morei em em São Paulo. E, por toda a convivência, pelas risadas que demos no trabalho, pela ajuda mútua lá dentro, pelo apoio durante os perrengues que passamos juntos, pela compreensão na hora da revolta com o serviço público e a vontade de ir embora, eu sou e sempre serei grato a todos os meus colegas de trabalho. Não fosse por eles, eu já teria chutado o balde há muito tempo.

E agora é tempo de olhar pra frente.

À bientôt!

P.S.: mas do trabalho em si, ah, desse eu não vou sentir falta alguma!! Serviço público dos infernos!



2 comentários:

  1. Salut, Doug!
    Sua história lembra um pouco a minha e a da minha mulher Isa. Nós estamos partindo para o Canadá de uma terra brasileira que não é a nossa terra natal. Somos de Minas e moramos no Rio há alguns anos. Com isso, não deixaremos muitas grandes amizades por aqui. De certa forma, parece que olhamos ao redor e este lugar não faz parte de nós e vice-versa... Mas isso ajuda a amortecer as dores da imigração, porque nesse aspecto de distância de família e amigos não faz muita diferença no dia-a-dia estar em outro Estado ou em outro país.

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    1. Salut, Alex, ça va?
      Também sou dessa opinião. Ter mudado de cidade (e de Estado!) antes de imigrar ajuda a romper os vínculos de uma maneira talvez menos brusca do que simplesmente empacotar tudo e sair da terra natal de uma vez. O que pesa pra mim, em relação aos que ficam, é que, se até agora eu estou a uma hora e meia de voo de casa, a partir do ano que vem estarei a 10, 11 horas de voo. Mas é como você disse: no dia a dia pouco importa se estamos a 1000 ou a 10000 Km de distância.
      Abraço!

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