Enquanto continuo apertando F5 na página do E-CAS a cada 3 minutos esperando pacientemente qualquer alteração em relação ao meu processo, vou me divertindo com o restante.
Outro dia, numa das listas de discussão de que participo, alguns membros começaram a lamentar terem contado sobre o processo para este ou aquele grupo de pessoas, que agora eles viviam cobrança, que tinham caído em descrédito porque o negócio já se arrasta há não sei quantos anos e por aí vai. Bom, na minha opinião, não existe resposta certa para a questão "devo ou não comentar com outras pessoas sobre o meu processo?". Cada um vai ter sua história pra contar. Minha família, por exemplo, já sabe que tenho uma tendência a olhar para o hemisfério norte dos mapas-múndi que consulto desde pequeno. Então, não foi exatamente algo inesperado quando contei a eles. E, até hoje, só recebo apoio. Claro que não sem uma ponta de saudade antecipada da minha mãe, mas, ainda assim, só apoio.
Fora eles, contei para algumas pessoas mais próximas logo que dei entrada no processo. No início, é normal, eu acho. A gente fica feliz por estar dando outros rumos para uma vida cansada, então acabamos falando de forma consciente, mas sem medir muito as consequências. Obviamente, perguntaram se era pra já, pra logo, logo, e eu respondi dizendo de cara que provavelmente demoraria anos. Talvez isso tenha ajudado a fazer parecer que era quase uma brincadeira, uma ideia "fogo de palha", e não tive que lidar com gente me importunando e cobrando novidades sobre o processo.
Com o tempo, abri para alguns colegas de trabalho e, a partir da obtenção do CSQ, contei também para o meu chefe. Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, eu sou servidor público (blargh!!), e o que mais acontece é gente que sai. Tem gente que sai porque passou em outro concur$o (99%, eu diria), outros saem porque apareceu uma oportunidade imperdível. Mas, quase sempre, os concur$ados estão na iminência de sair, porque estão sempre estudando e prestando outros concursos. Os próprios chefes fazem isso, e os chefes dos chefes também. O que é atípico, na minha situação, é que eu estou saindo deste Olimpo $agrado, este clímax da existência profissional humana, este paraíso da acomodação laboral, para (1) algo que não é outro concur$o e (2) não é nada "garantido" (=que vai manter ou aumentar o meu padrão de vida e salário). Então, o povo fica curioso.
Mas voltando. Contei para o meu chefe, que lamentou o fato de que eu iria sair, fez algumas perguntas sobre o processo e disse que estava torcendo. Pediu apenas que eu o mantivesse a par e que, pelas barbas de Odin, não avisasse que ia sair na véspera da partida. Falei que não tinha a menor intenção de fazer isso, e que o manteria informado. Quando chegou o pedido de exames médicos, fui lá e falei, inclusive, para alertar sobre a possibilidade de eu sair bem mais cedo do que imaginava a princípio. Deixei claro, contudo, que eu só direi que vou sair quando estiver com o visto em mãos. Mensagem entendida.
Pois bem. Eu achava, então, que, no máximo, meu chefe, os colegas do setor e talvez um ou outro perdido soubessem da história. Não sou ingênuo de achar que todas essas pessoas ficariam caladas, mas também não sou um cara popular, e no trabalho, então, prefiro só fazer o meu trabalho e ficar invisível para o resto. Mas, há algum tempo, entrei no elevador e um colega, desses que a gente só cumprimenta no corredor, falou que queria conversar comigo qualquer hora porque ele "tinha ficado sabendo" que eu ia embora pro Canadá. Ontem, a cena se repetiu, dessa vez com uma funcionária de um setor que fica 12 andares abaixo do meu. Hoje, no refeitório - no refeitório! - uma outra colega veio me perguntar sobre o andamento do processo e, embora eu tenha me esforçado ao máximo para falar baixo e não entregar o jogo porque sabia que quem estava em volta podia estar com a orelha espichada, não adiantou: ao se despedir de mim, a louca se virou para um grupinho sentado em outra mesa e soltou um "olha lá, mais um que vai embora!", balançando freneticamente a mão na minha direção.
Foi o suficiente para o refeitório virar o Programa do Jô, tendo eu como atração principal. Perguntaram se eu tinha pa$$ado em outro concur$o, se era pra ganhar mai$, se era pra outro estado, e por aí vai. Eu, avesso a estranhos (não, eu não conhecia nenhum dos que começaram a me interrogar), respondi com monossílabos o máximo que pude sem parecer rude. Mas nem precisava ter me contido: alguém, que trabalha três andares acima de onde eu fico, completou: "ah, eu sei! É ele que vai pro Canadá!".
Em resumo, meus caros, agora eu não fico nem um pouco surpreso se Bill Gates, o Papa ou mesmo Cersei Lannister souberem que eu estou "indo embora". No meu caso, não é tão drástico porque eu já havia resolvido que, mesmo que a imigração não dê certo, eu já iria sair dessa birosca onde eu trabalho. Mas, para aqueles que estão em situação mais delicada e que podem ter de agarrar ao emprego atual caso os planos da imigração afundem, fica o lembrete: para o mundo saber, basta você contar para uma pessoa.
À bientôt!