Você pode ler o início da saga na Parte I.
Como faltava pouco tempo, fiquei ali por perto do portão, já que não havia uma fila realmente estabelecida pra quem estava aguardando o tal do atendimento expresso. Quando deu 11 horas, a mocinha do portão começou a impedir a entrada de quem estava fora do atendimento expresso, o que, claro, resultou em muita reclamação por parte de quem estava lá esperando desde as 8h da manhã. Eu fui um dos primeiros a entrar e tive que abrir minha mochila pra uma segurança que fica logo na entrada. Achei que teria de seguir pra um lugar diferente daquele pra onde estava seguindo a turba que havia entrado antes da gente por conta do tal atendimento expresso.. Nada. Fiqueina mesma fila que eles, exatamente atrás. Fazia um calor dos infernos, e a proteção que há na parte mais externa do consulado mais abafava do que aliviava. Mas tudo bem, eu já sabia que seria complicado, né? Então, em meio ao povo reclamando e se abanando, eu procurei ficar quietinho, trocando uma ou outra palavrinha quando se viravam pra mim e comentavam sobre a demora ou o calor. Isso sou eu, tentando ficar zen.
Como faltava pouco tempo, fiquei ali por perto do portão, já que não havia uma fila realmente estabelecida pra quem estava aguardando o tal do atendimento expresso. Quando deu 11 horas, a mocinha do portão começou a impedir a entrada de quem estava fora do atendimento expresso, o que, claro, resultou em muita reclamação por parte de quem estava lá esperando desde as 8h da manhã. Eu fui um dos primeiros a entrar e tive que abrir minha mochila pra uma segurança que fica logo na entrada. Achei que teria de seguir pra um lugar diferente daquele pra onde estava seguindo a turba que havia entrado antes da gente por conta do tal atendimento expresso.. Nada. Fiqueina mesma fila que eles, exatamente atrás. Fazia um calor dos infernos, e a proteção que há na parte mais externa do consulado mais abafava do que aliviava. Mas tudo bem, eu já sabia que seria complicado, né? Então, em meio ao povo reclamando e se abanando, eu procurei ficar quietinho, trocando uma ou outra palavrinha quando se viravam pra mim e comentavam sobre a demora ou o calor. Isso sou eu, tentando ficar zen.
A fila andava beeeem lentamente. Fiquei tentando adivinhar pra onde iríamos, mas eu via uns indo pra um lado, outros pra outro. Dali a pouco, passou um funcionário da embaixada com um leitor óptico portátil pedindo pra todo mundo mostrar as páginas impressas da confirmação do agendamento e do formulário DS-160. Fiquei um pouco apreensivo porque tinha lido em alguns blogs que, quando você imprime o código de barras em impressoras jato de tinta, o leitor óptico tem problemas pra fazer a leitura porque as bordas não são definidas o sufiente. Mas, pra minha alegria, o aparelho lá na mão do cidadão deu um bip feliz e eu pude respirar aliviado. Então, acho que só se a impressora jato de tinta transformar o código de barras em borrão que dá problema.
Depois, mais espera na fila. Dali a mais um tempo, passaram duas funcionárias pedindo pra gente o comprovante do pagamento da taxa emitido pelo Citibank e a foto (que pode ser 5x5 ou 5x7). Grampearam isso no meu formulário junto com um cartãozinho laranja numerado e me devolveram tudo. Mais espera na fila. Depois de mais um tempinho, entendi o porque daquele vai-não-vai: a fila termina imediatamente antes da sala onde se faz a inspeção de segurança real. Ali dentro, você passa pelo detector de metais, coloca sua bolsa ou mochila na máquina de raio X e, se brincar, ganha uma mão boba do(a) segurança da embaixada.
Tudo certo, me devolveram minha mochila e abriram uma outra porta. Parecia o paraíso: depois da fila enorme lá fora, do calor infernal e do povo reclamando, me vi de repente numa área ampla, sem pessoas se acotovelando ou reclamando da vida, onde até soprava uma brisa revigorante. Segui para a esquerda e vi uma fila. Pensei logo: "ah, deve ser ali". Nada, era a fila da lanchonete. Eu havia esquecido todo o kit de sobrevivência (água, frutas, barras de cereal) em casa e fiquei tentado a comprar, mas a fila e os preços me desanimaram. Resolvi ir logo procurar o que devia fazer, já que não havia ninguém pra indicar. Segui algumas pessoas que estavam se dirigindo pra uma espécie de galpão coberto. No caminho, os sinais da batalha: um monte de gente sentada pelos cantos, encostada em árvores, vertendo as últimas gotas de água mineral da garrafa ou comendo coxinhas de aparência duvidosa. Continuei em frente, crente na ideia de que o atendimento expresso não me deixaria descer tanto.
E eis que adentro galpão.
O pandemônio.
Literalmente centenas de pessoas estavam lá, sentadas ou em pé, algumas até quase deitadas no chão. Os bancos, obviamente, estavam todos tomados. Notei uma espécie de cordão de isolamento e entendi que era por ali que começava o calvário. Logo vi uma placa que informava os passos a seguir e então tive certeza. Segui o cordão e logo me vi em outra fila, mas pequenininha. Logo, um rapaz pediu meu passaporte e as folhas do agendamento, fez uma rápida conferência e me disse para pegar uma fila logo ao lado, me entregando uma senha em seguida. Agradeci e fui pra tal fila, também pequena. Vi que era para uns guichês onde se lia "pré-entrevista". Pensei: "é agora que eu vou passar todo mundo aqui e ganhar meu visto!". Nada. Depois de um tempinho de espera, fui atendimento num guichê por um rapaz profissinal, mas não muito simpático. Pediu meu passaporte atual, as folhas de confirmação de agendamento e do formulário e perguntou se era renovação. Falei que sim e ele perguntou se eu tinha tido outros vistos aprovados anteriormente. Respondi que sim e ele me pediu os passaportes anteriores. Entreguei os dois, ambos com vistos já vencidos, e ele ficou só com o passaporte vencido mais recente, além do atual, claro. Daí me disse para aguardar a chamada pela senha para a coleta das impressões digitais. Eu, meio estafado do calor e com dificuldade de entender o que o cidadão falava por conta da conversa acaorada do povo que estava lá sentado esperando há horas, não pesquei de imediato o que devia fazer e fiquei lá parado. O cara olhou pra minha cara e disse:
Funcinonário: "O senhor será chamado pela senha."
Eu: "Aham".
E fiquei lá. Foi só quando ele disse "pode sentar, senhor" é que eu entendi que minha parte ali tinha acabado. Fingi que estava arrumando uns documentos pra não ficar muito feio e daí fui pro meio dos civis. Nem pensei em encontrar um lugar pra sentar, porque com a multidão que estava aglomerada ali, imaginei que qualquer lugar que surgisse devia ser disputado a tapa. Enfim, me encostei numa pilastra e fui olhar os monitores que indicam as cenas. Quase chorei: havia pouco menos de 1000 números na minha frente. Sem relógio, eu só podia imaginar que já passava de meio-dia e que eu REALMENTE chegaria atrasado ao trabalho.
Para minha felicidade, não fiquei nem 15 minutos em pé. Uma senhora se levantou do meu lado e saiu. Dei uma rápida olhada em volta pra ver se não havia algum idoso, alguma gestante ou deficiente físico por perto e, assim que constatei que não, sentei no banquinho apertado. Logo baixei a cabeça pra não correr o risco de ver alguém que precisasse pra valer do assento. Sei que minha mãe não ficaria lá muito orgulhosa desse pensamento, mas, a essa altura, eu já estava desidratado. Minha boca estava seca e eu transpirava feito um porco antes do abate. O cansaço físico estava se instalando e por isso eu quis poupar o máximo de energia.
Mas, como tudo tem seu preço, eis que senta, do meu lado, uma mulher do tipo que quer ir pra Miami fazer compras e contar pras amigas, mas não quer ter de passar horas no consulado pra pegar o visto. Cristo, como reclamava aquela criatura! E o pior é que falava sozinha. Não estava se dirigindo a ninguém em particular, só a ela mesma, e em voz alta. Tudo entrou na dança: o calor, a demora, o galpão, a quantidade de documentos que pdem, a cor do papel que deram pra ela, o tamanho da letra dos monitores de senha... Eu fiquei bem quietinho, mas bem quietinho mesmo, porque se eu dissesse alguma coisa, com certeza seria colocado pra fora junto com a dita cuja. Procurei manter o que me restava ainda de compostura, fui conjugando verbos em francês na cabeça e tentei não avançar em toda garrafa de água mineral que passava na minha frente.
Alguém pode pensar: "pô, mas se tinha quase 1000 pessoas na sua frente, por que você não foi então comprar um lanche? Deixa de ser pão-duro!". Mas aí é que está a pegadinha: as senhas não são chamadas necessariamente na ordem. Pelo que foi explicado pelos funcionários do consulado (de tempos em tempos eles faziam alguns anúncios e repetiam instruções), depois que a gente entrega os passaportes no guichê de pré-entrevista, eles fazem uma verificação interna e vasculham um pouco da sua vida. À medida que esses procedimentos são concluídos, os passaportes são entregues para os agentes que fazem as coletas das digitais. Por conta disso, vi algumas pessoas perdendo a vez, provavelmente porque estavam na lanchonete ou fora do galpão, onde é mais fresco, achando que as senhas eram chamadas na ordem. Então, se alguém for lá, fique atento a isso!
Eu poderia usar vários adjetivos e me valer de construções poéticas pra dizer o quão difícil foi ficar esperando pela coleta das digitais. Mesmo sabendo que provavelmente gastaria algumas horas no consulado, eu não tinha previsto que ia deixar meu kit em casa (e que, portanto, teria que passar essas horas me alimentando de energia mística) e nem que o raio daquela mulher ia ficar falando durante cada segundo da minha estada ali. Em dado momento, só abaixei a cabeça e tapei os ouvidos, tentando lembrar como era a forma do passé composé do verbo battre. A voz da mulher, abafada, chegava aos meus ouvidos mais ou menos como a da professora do Charlie Brown no desenho do Snoopy. Depois de um tempo, já com dor nas costas por ficar curvado, tive que voltar à posição original e ao chororô daquela enviada do demo.
Fui me distraindo olhando as pessoas no galpão e tentando adivinhar o motivo que estava fazendo elas irem para os EUA. E, claro, olho o tempo todo no monitor de senhas. A mulher do meu lado finalmente baixou a cabeça, cruzou as mãos na nuca e ficou quieta. "Morreu", pensei, "graças a Odin!". Mas não, foi só uma pausa pra recarregar a bateria solar. Logo ela voltou a desfiar o terço dela.
Mas eis que, após quase duas horas com a garganta seca, suando em bicas e com os ouvidos pedindo misericórdia por conta da mulher (que, mesmo que tenha conseguido o visto, deve estar reclamando até agora), minha senha surge no monitor grande! Explico: há um monitor maior, no qual são mostrados os guichês que estão atendendo. Os guichês são numerados. No dia que eu fui, os guichês 1 a 3 faziam a pré-entrevista, o 4 estava vazio, os de 5 a 8 faziam a coleta das digitais e os de 9 ao infinito faziam a entrevista. Esses guichês são mostrados no monitor grande e, sob cada número, vem as senhas que serão atendidas em casa guichê. Por exemplo:
5 6 7 8
2587 2566 2591 3003
2588 2567 2592 3004
2589 2568 2593 3005
2590 2569 2595 3006
Como dá pra ver, parece que seguem a ordem, mas não é bem assim. Mas enfim, lá estava a minha senha, no guichê 8, então já dava pra me preparar para mais uma etapa da saga! Levantei e já procurei ficar perto do guichê que me atenderia. Como disse, há o monitor maior e, sobre cada guichê, há um monitor menor, que mostra a senha que está sendo atendida naquele momento (ou a que os funcionários querem atender, já que várias vezes eles têm de apertar o botãozinho do aviso sonoro pra fazer o povo prestar atenção na senha que está sendo chamada).
Finalmente, deixei a mulher chorando as pitangas dela e procurei deixar meus documentos à mão.
Fim da Parte II. Veja o final na Parte III.
Putz, passamos(eu, minha esposa e meu filho mais novo) esta jornada estressante no mesmo dia que vc!Chegamos no consulado às 8h e saímos às 14h, com os vistos claro!Tb estamos indo em breve para o Canadá e resolvemos tirar o visto americano logo.Aquele dia de 35 graus em SP foi inacreditável!Ab
ResponderExcluirM: Caramba, vocês chegaram quase três horas antes de mim e saíram só meia hora antes!!! E eu penso do mesmo jeito, melhor já estar com essa parte resolvida (ainda mais agora, que voltaram a dar o visto de 10 anos) do que deixar tudo pra depois. Abraço!
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