sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sai, pessimismo!

Estava lá eu, feliz e contente na minha aula de francês, quando o professor anuncia o intervalo. Todos saem da sala, menos eu e um colega, porque estávamos pregados após o dia de trabalho. Esse colega, para que fique bem claro, já passou pela etapa de Québec do processo (ou seja, já está com o CSQ), e está para começar a etapa federal. Pois bem, depois de alguns minutos, volta um outro colega. Após um instante no qual ele parou para prestar atenção, finalmente entendeu que estávamos falando do processo de imigração. Daí começou:

Colega do mal (sim, estou sendo tendencioso): "Ah, mas você vai pra lá empregado?"

Meu colega: "Infelizmente não. Eu entrei em contato com algumas empresas e elas mostraram interesse no meu currículo, mas nenhuma ofereceu emprego. Pelo menos, não ainda".

Colega do mal: "Claro, porque você precisa pagar pra trabalhar".

Eu: "Como assim? Tem que pagar pra fazer entrevista nas empresas?"

Colega do mal: "Não, não pra fazer entrevista. Mas você desembolsa uma grana violenta pra poder fazer o processo do Canadá. E eles pegam esse dinheiro pra bancar a previdência canadense, que tá sinking like a rock. Isso eles não falam. Aí eles fazem todo mundo pagar e falam que te dão uma 'oportunidade' de tentar trabalhar lá".

Eu: "Mas acho que todo mundo que se informa sobre o processo sabe que vai ter que gastar uma quantia considerável. Eles não escondem isso. E o que eles fazem depois com o dinheiro não chega a ser problema meu, acredito. É como comprar um aspirador de pó nas Casas Bahia e perguntar pro vendedor pra que ele vai usar o dinheiro, se é pra cachaça, pra comprar fraldas pro bebê..."

Colega do mal: "Sim, se você se informa sim. Mas e aí, você vai querer gastar o dinheiro que você juntou com anos de hard work e entregar ele pro Canadá fácil assim? Conheço algumas pessoas que são formadas em Harvard, tem Master's Degree na Alemanha e estão desempregadas há quatro anos".

Meu colega: "Nossa... mas por quê? Qual a área deles?"

Colega do mal: "São de várias áreas. Mas a verdade é que o Canadá não precisa de skilled worker nenhum. Esse projeto de imigração é uma grande enganação. Eles fazem tudo parecer lindo e perfeito, como um american movie, mas a coisa lá é beeeem diferente".

Eu:


Meu colega: "Sim, mas eles não dizem que vão arrumar emprego pra ninguém. Aliás, são bem claros quanto a isso. A pessoa vai sabendo que pode não encontrar área. E como é que eles usam o dinheiro pra bancar a previdência canadense? Apesar de a taxa ser um tanto salgada, eu não tô bem certo de que eles cobrem nem os gastos com os escritórios de imigração e as rodadas de palestras".

Colega do mal: "Eles não são tão claros assim como você tá dizendo. Muita gente vai pro Canadá e tem que começar a vida all over again, você sabia disso? Conheço muita gente que tá limpando o chão até hoje porque não conseguiu emprego na área. E o dinheiro que eles pegam com as taxas de imigração vão para ajudar os canadenes, não vão pra ajudar os immigrants".

Eu: 

Meu colega: "Tudo bem, mas quando você vai pra lá, você se torna um residente permaente. Não é exatamente a mesma coisa de ser um canadense nativo, mas é próximo".

Colega do mal: "Pffff. Você acha que eles vão dar um trabalho pra você ou pra um Canadian? Você tem que ser extremely qualificado pra poder conseguir alguma coisa. Eles preferem Canadians. Se eles não conseguem encontrar um Canadian pra preencher a vaga, aí eles vão atrás de europeus, porque a educação dos europeus é melhor do que a do Brasil. Só depois disso é que eles olham pros latino-americanos. Isso quando olham. Tenho muitos amigos que são da área de TI que não conseguem emprego porque são latinos".

Eu:


Meu colega: "Nossa, mas eu vejo tantos relatos de gente dizendo o contrário, tenho um amigo que inclusive...

Colega do mal: "E tem outra coisa: você nunca vai ter um amigo Canadian. Canadians só se misturam com Canadians. O Canadian só tem amigos Canadians. Você vai ter amigos brasileiros, colombianos, indianos... mas não Canadians. E os Canadians não te abraçam. Na época da swine flu então, tinha gente que apertava a sua mãe e já limpava com álcool em gel na sua frente. Os Canadians são muito individuaslistas. E o frio é muito grande. Imagina você andando no meio da rua a -56ºC. A comida Canadian também é horroro...

Eu (de saco cheio de ver o cara colocando palavras em inglês a cada vírgula): "Canadense".

Colega do mal: "Oi?"
Eu: Comida canadense. Você fez o processo de imigração?

Colega do mal (com cara de desprezo): "Não, não. Minha mãe é Canadian. Eu sou naturalizado. Trabalho lá e aqui. Vou ter que voltar pra lá em abril e já tô deprimido por isso".

Meu colega: "E por que você não fica aqui então? Você tem cidadania brasileira também, imagino".

Colega do mal: "Tenho, mas é que eu tenho vínculos lá. Tenho uma casa..."

Eu: "E não dá pra vender?"

Colega do mal: "Mas não é só isso. Tenho um namorada Canadian..."

Eu: "E ela não tá disposta a morar no Brasil, já que o Canadá é horrível?"

Finalmente, acho que ele começou a entender que eu já tava sendo irônico e me lançou um olhar como quem diz "não entendi vosso tom, meu bom homem". Mas aí outros colegas voltaram e o assunto basicamente morreu.

Enfim. Tenho como dizer que ele está certo? Não. Tenho como dizer que ele está errado? Também não. Tô no Brasil, não no Canadá. O que tenho são informações que coleto em listas de discussão, blogs e por aí vai. Mas, em suma, posso dizer que ele não me contou nenhuma novidade, salvo, talvez, a história de a imigração financiar a previdência canadense, que me pareceu mais uma suposição do que um fato. Em momento nenhum ele falou "vai no site tal do governo canadense e você vai ver a prestação de contas e tá lá, mostrando que o dinheiro que arrecadam com os processos de imigração banca a previdência canadense". Todos os exemplos que usou foi de um amigo, colega ou amigo de um amigo. Até aí, eu poderia também dizer "mas li num blog" e "alguém falou num tópico". E aí? Quem é que pode saber?

Dessa forma, acho que vale aquela regra básica: a gente lê e ouve muita coisa sobre o processo, antes, durante e depois dele. E sim, temos a tendência a focar só nos bons relatos e esquecer as pessoas que não deram certo lá. Daí muitas vezes criamos a ideia de que tudo vai ser perfeito, que vamos adentrar o paraíso assim que descermos no aeroporto de [insira aqui sua cidade canadense favorita]. Mas a maior parte, acredito, sabe que imigrar representa, na maioria das vezes, dar alguns passos pra trás ou até mesmo recomeçar do zero. Se as pessoas estão dispostas a fazer isso, aí é de cada um. Tem gente para as quais isso representa retrocesso, algo inadmissível. Outros trocam de área quando vão pro Canadá, fazem nova faculdade e começam de baixo. E aí? Como é que eu posso dizer pro outro o que é melhor ou pior pra ele, e ainda prever, como no caso que eu contei aqui, o que vai acontecer com uma pessoa que está no meio do processo?

Isso tudo é basicamente para dizer algo que nossas mães, nossas avós, nossos pais costumavam falar e às vezes a gente não escutava: temos que saber separar as coisas e nos informar. Conhecer os riscos pra poder, então, decidir se estamos dispostos a corrê-los. Se você se prepara para o pior, qualquer coisa acima disso já te parece um presente.

6 comentários:

  1. Rsrsrsrs, ai que cara chato!
    Ah, e sem noção. A experiência dele é uma coisa e a suia será outra, relaxa isso é um frustrado infeliz.
    Ah, adorei a foto do macaco, kkkkkkk

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  2. Nossa, que bicho mala!! Morri de rir aqui... =P

    Olha, eu acho que você chegou a conclusão certa: é preciso ler muito, se informar, e saber que tudo na vida tem seu lado bom e seu lado ruim. É lógico que existem aquelas pessoas que acham que ir pro Canadá é ir para o Shangrilá, terra que mana leite e mel, mas rapidinho elas descobrem que o buraco é mais embaixo...

    É lógico que sua vida não vai ser a mesma coisa lá do que aqui, é lógico que seu emprego lá não vai ser como é aqui, é lógico que você vai ter dificuldade com a língua no começo e que você vai ter que se readaptar à cidade, aos costumes. MAS... Quem disse que isso é ruim? Não estamos JUSTAMENTE nos MUDANDO?

    O que eu acho mais chato nessas "pessoas do mal" que ficam jogando água na fogueira alheia é que os argumentos delas são os mais infantis possíveis. "Ah, o Canadá é muito frio!" ¬¬ Jura? Não sabia? Será que tem neve lá? ¬¬ Fala sério, né? Rsrsrsrs...

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  3. Gostei da cara de afronte que vc deu pra ele, bicho folgado, tá parecendo eu falando do Brasil, uhahuahuauhahuahua, preciso rever conceitos... mas sinceramente? mudei muito, demais até... agora quando me perguntam pq quero imigrar, ao invés de listar as zilhões de causas e razões, revoltas e afins, apenas me limito a dizer: O Canadá é um país onde terei mais oportunidades na minha área e é um país que vai mais de encontro ao meu perfil e cultura.

    Ponto final, rs...

    Boa sorte e sucesso.

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  4. eu teria perdido a paciencia com um cara desses....no início da conversa...pq ele nao fica morando no Brasil ? rs rs
    mas cada um é cada um. cada caso é um caso. não é pq foi com um que vai ser igual com todos.

    abraços;
    Catherine
    http://meetyoutherecanada.blogspot.com

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  5. este e o tipo de pessoa igual ao cara do blog que faz campanha contra o canadá. No blog dele ele conta que nada no canada presta e que nao trouxe nada que prestasse de lá... depois ele comenta que casou com uma canadense... tadinha da esposa dele.

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  6. Diário: MUITO chato, você não faz ideia! Felizmente, ele não foi na aula seguinte, o que foi uma bênção!

    Quebecquando: Pois é, tem gente que parece que vai se mudar, mas continuar morando no mesmo lugar, com a mesma vida. Vai entender, né?

    Carlos: é isso aí, meu caro. Melhor dar uma explicação padrão, estilo e-mail automático, do que ficar gastando saliva tentando expor razões que às vezes só a gente mesmo entende.

    Catherine: exato, o pior foi justamente ele ficar falando como se tudo fosse fatídico. Tipo, se se mudar pro Canadá, vai se dar mal COM CERTEZA.

    Wel: lembrei exatamente desse site que você falou, do qual tomei conhecimento pelo teu blog. Quase perguntei pro mala da minha sala se foi ele que escreveu aquele blog hehehe.

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