Mais um post da série "Descobrindo a tecnologia depois dos 30" ou "Uia, que negocinho legal!", iniciada no post passado sobre podcasts.
Este aqui eu já uso há alguns anos, mas o que é bom a gente recomenda, né? Então vamos lá: pra quem não conhece, o ANKI é um programa de computador (disponível também como aplicativo para celulares do tipo telefone-ixperto, ou smartphones) que se baseia no princípio de flashcards.
Pera! O que são flashcards?
Vou dar minha própria explicação. Basicamente, flashcard é o nome dado aos cartõezinhos muito utilizados por diversas pessoas para tentar aprender ou decorar alguma coisa. Eles são muito utilizados no aprendizado de idiomas, mas podem ser usados para quase tudo, desde fórmulas matemáticas, até reconhecimento de pinturas famosas, passando por datas e acontecimentos históricos.
Eles nada mais são do que pedaços de papel-cartão recortados geralmente em formas retangulares. Em um dos lados, você escreve a "pergunta" e, no verso, a "resposta". Um exemplo:
Frente |
Verso |
Nos flashcards tradicionais, ou seja, em que você compra ou faz tudo no papel, teoricamente você faz um cartão pra cada dupla pergunta-resposta e carrega com você para todo canto. Aí, de vez em quando, enquanto está com tempo ocioso (fila de banco, sala de espera do médico, esperando passar os comerciais entre os blocos do seu programa de tv favorito, etc), você puxa um cartãozinho, lê a pergunta e tenta responder. Se acertar, coloca o cartãozinho no fim da fila; se errar, tem de colocar esse cartãozinho para ser revisto dentro de período mais curto.
Embora muito utilizado, o sistema tradicional tem desvantagens óbvias: você leva um bom tempo para confeccionar cada cartão; se errar, tem de pegar um novo; se quiser mudar algo, também; fora o fato de ter de carregar os cartões com você. Quando você tem só algumas dezenas, tá ótimo, mas experimenta levar 3.000 cartões com ideogramas chineses pra cima e pra baixo, por exemplo.
E a tecnologia com isso?
Bom, se existem programa de computador e aplicativos até para diagnosticar a cor do cocô do seu bebê, obviamente várias pessoas já fizeram suas versões de flashcards para a era digital. Eu já usei alguns, mas os que eu mais curti foram o MemoryLifter e o Anki. A única desvantagem do primeiro, na minha opinião, é que ele é mais "pesado", ocupa mais memória e tende a gerar arquivos maiores que o Anki. Fora isso, é tão bom quanto.
Os programas têm tudo que os flashcards tradicionais têm, e mais. Todos os inconvenientes dos cartões físicos acabam, já que você pode editar os cartões à vontade, criar grupos, tags e categorias, associar sons e imagens a um determinado cartão, e, obviamente, não pesa nada levá-lo como aplicativo do seu celular. Outra vantagem desses programas/aplicativos é que eles usam algoritmos para ditar os intervalos em que o cartão será exibido a você novamente. No início, em geral, o cartão é apresentado duas vezes no mesmo dia. Daí, no dia seguinte, uma vez. Daí você fica uns dois ou três dias sem ver o cartão e então, pimba, lá ele aparece de novo. Cinco dias depois, olha lá ele de novo, e por aí vai. Você pode fazer a seleção de quão bem se lembrou do cartão escolhendo opções como 0 (não lembrou), 1 (lembrou, mas só depois de pensar muito), 2 (lembrou, mas ainda prendeu um pouco a respiração antes de olhar a resposta) e 3 (lembrou no mesmo instante e sem dúvida alguma). Com isso, você não precisa se preocupar em quando verá o cartão novamente, pois o programa pega essa tarefa para si.
E por que o Anki?
Além de ser mais rápido e mais leve do que os programas e aplicativos da concorrência, o Anki te dá um grande controle sobre como você vai estudar. Desde seleção de grupos específicos até a opção de ditar quanto tempo você quer que o cartão permaneça ativo (ou seja, sendo mostrado a você de vez em quando), passando pela facilidade com que você pode criar e editar os cartões, o Anki, até o momento, é a melhor ferramenta do tipo pra mim. Ele também permite que você crie os cartões no computador e depois estude no celular, ao longo do dia. A sincronização é perfeita.
Outro ponto positivo do Anki é que ele aceita uma boa parte, se não todos, dos alfabetos e sistemas de escrita das línguas do mundo. Consigo estudar russo digitando diretamente os caracteres do alfabeto cirílico. Em outros programas, nada que não seja o alfabeto latino é aceito - muitas vezes, nem acentos - e aí, nesses casos, só sobra a opção de fazer uma imagem a partir da palavra e colar no cartão, de forma que o programa não o reconheça como texto e, sim, como imagem.
Essa é uma tela inicial padrão do meu Anki. Dá pra ver ali que, pra hoje, eu tenho 975 cartões pra revisar e 92 novos pra aprender. Estão listadas também as categorias (a maior parte é de idiomas, claro), e dentro dessas categorias há sub-categorias (não mostradas na imagem). Eu posso, por exemplo, criar uma subcategoria só de verbos irregulares em alemão dentro da categoria "Alemão" ou uma subcategoria de expressões idiomáticas em "Francês". Isso ajuda o célebro a fazer associações, e é uma mão na roda para aprender aquele vocabulário que não entra na sua cabeça de jeito nenhum, conjugações verbais do capeta e declinações nervosas.
Eu tenho usado o sistema há uns dois anos, e posso dizer que, como bom amante de idiomas, é muito bom ver que uma palavra que você encontrou pela primeira vez há 6 meses ou 1 ano continua lá, em algum lugar do seu cérebro, mesmo que você não a tenha usado. E melhor ainda é saber que, mesmo que uma ou outra palavra tenha escapado nesse meio-tempo, ela vai aparecer de novo e você pode recomeçar o ciclo, sem se preocupar.
Pra finalizar, falei basicamente do Anki, mas não quer dizer que outros não sirvam. Só paguei pau esse tanto porque é o aplicativo que uso já há bastante tempo, e o resultado tem sido muito bom. O que importa, no fim das contas, é o seu estudo, e se você não se dispuser a revisar as palavras diariamente, não tem sistema, nem de papel, nem digital, que vá dar jeito no seu vocabulário.
Portanto, se você é tecnologicamente atrasado como eu e está penando para decorar que peur é feminino em francês ou que o Partizip II do verbo alemão bleiben é geblieben, taí uma boa maneira de tentar consertar isso.
À bientôt!