sábado, 20 de setembro de 2014

Anki

Mais um post da série "Descobrindo a tecnologia depois dos 30" ou "Uia, que negocinho legal!", iniciada no post passado sobre podcasts.

Este aqui eu já uso há alguns anos, mas o que é bom a gente recomenda, né? Então vamos lá: pra quem não conhece, o ANKI é um programa de computador (disponível também como aplicativo para celulares do tipo telefone-ixperto, ou smartphones) que se baseia no princípio de flashcards.

Pera! O que são flashcards?


Vou dar minha própria explicação. Basicamente, flashcard é o nome dado aos cartõezinhos muito utilizados por diversas pessoas para tentar aprender ou decorar alguma coisa. Eles são muito utilizados no aprendizado de idiomas, mas podem ser usados para quase tudo, desde fórmulas matemáticas, até reconhecimento de pinturas famosas, passando por datas e acontecimentos históricos.

Eles nada mais são do que pedaços de papel-cartão recortados geralmente em formas retangulares. Em um dos lados, você escreve a "pergunta" e, no verso, a "resposta". Um exemplo:


Frente

Verso


Nos flashcards tradicionais, ou seja, em que você compra ou faz tudo no papel, teoricamente você faz um cartão pra cada dupla pergunta-resposta e carrega com você para todo canto. Aí, de vez em quando, enquanto está com tempo ocioso (fila de banco, sala de espera do médico, esperando passar os comerciais entre os blocos do seu programa de tv favorito, etc), você puxa um cartãozinho, lê a pergunta e tenta responder. Se acertar, coloca o cartãozinho no fim da fila; se errar, tem de colocar esse cartãozinho para ser revisto dentro de período mais curto.

Embora muito utilizado, o sistema tradicional tem desvantagens óbvias: você leva um bom tempo para confeccionar cada cartão; se errar, tem de pegar um novo; se quiser mudar algo, também; fora o fato de ter de carregar os cartões com você. Quando você tem só algumas dezenas, tá ótimo, mas experimenta levar 3.000 cartões com ideogramas chineses pra cima e pra baixo, por exemplo.




E a tecnologia com isso?


Bom, se existem programa de computador e aplicativos até para diagnosticar a cor do cocô do seu bebê, obviamente várias pessoas já fizeram suas versões de flashcards para a era digital. Eu já usei alguns, mas os que eu mais curti foram o MemoryLifter e o Anki. A única desvantagem do primeiro, na minha opinião, é que ele é mais "pesado", ocupa mais memória e tende a gerar arquivos maiores que o Anki. Fora isso, é tão bom quanto.

Os programas têm tudo que os flashcards tradicionais têm, e mais. Todos os inconvenientes dos cartões físicos acabam, já que você pode editar os cartões à vontade, criar grupos, tags e categorias, associar sons e imagens a um determinado cartão, e, obviamente, não pesa nada levá-lo como aplicativo do seu celular. Outra vantagem desses programas/aplicativos é que eles usam algoritmos para ditar os intervalos em que o cartão será exibido a você novamente. No início, em geral, o cartão é apresentado duas vezes no mesmo dia. Daí, no dia seguinte, uma vez. Daí você fica uns dois ou três dias sem ver o cartão e então, pimba, lá ele aparece de novo. Cinco dias depois, olha lá ele de novo, e por aí vai. Você pode fazer a seleção de quão bem se lembrou do cartão escolhendo opções como 0 (não lembrou), 1 (lembrou, mas só depois de pensar muito), 2 (lembrou, mas ainda prendeu um pouco a respiração antes de olhar a resposta) e 3 (lembrou no mesmo instante e sem dúvida alguma). Com isso, você não precisa se preocupar em quando verá o cartão novamente, pois o programa pega essa tarefa para si.

E por que o Anki?


Além de ser mais rápido e mais leve do que os programas e aplicativos da concorrência, o Anki te dá um grande controle sobre como você vai estudar. Desde seleção de grupos específicos até a opção de ditar quanto tempo você quer que o cartão permaneça ativo (ou seja, sendo mostrado a você de vez em quando), passando pela facilidade com que você pode criar e editar os cartões, o Anki, até o momento, é a melhor ferramenta do tipo pra mim. Ele também permite que você crie os cartões no computador e depois estude no celular, ao longo do dia. A sincronização é perfeita.

Outro ponto positivo do Anki é que ele aceita uma boa parte, se não todos, dos alfabetos e sistemas de escrita das línguas do mundo. Consigo estudar russo digitando diretamente os caracteres do alfabeto cirílico. Em outros programas, nada que não seja o alfabeto latino é aceito - muitas vezes, nem acentos - e aí, nesses casos, só sobra a opção de fazer uma imagem a partir da palavra e colar no cartão, de forma que o programa não o reconheça como texto e, sim, como imagem.




Essa é uma tela inicial padrão do meu Anki. Dá pra ver ali que, pra hoje, eu tenho 975 cartões pra revisar e 92 novos pra aprender. Estão listadas também as categorias (a maior parte é de idiomas, claro), e dentro dessas categorias há sub-categorias (não mostradas na imagem). Eu posso, por exemplo, criar uma subcategoria só de verbos irregulares em alemão dentro da categoria "Alemão"  ou  uma subcategoria de expressões idiomáticas em "Francês". Isso ajuda o célebro a fazer associações, e é uma mão na roda para aprender aquele vocabulário que não entra na sua cabeça de jeito nenhum, conjugações verbais do capeta e declinações nervosas.

Eu tenho usado o sistema há uns dois anos, e posso dizer que, como bom amante de idiomas, é muito bom ver que uma palavra que você encontrou pela primeira vez há 6 meses ou 1 ano continua lá, em algum lugar do seu cérebro, mesmo que você não a tenha usado. E melhor ainda é saber que, mesmo que uma ou outra palavra tenha escapado nesse meio-tempo, ela vai aparecer de novo e você pode recomeçar o ciclo, sem se preocupar.

Pra finalizar, falei basicamente do Anki, mas não quer dizer que outros não sirvam. Só paguei pau esse tanto porque é o aplicativo que uso já há bastante tempo, e o resultado tem sido muito bom. O que importa, no fim das contas, é o seu estudo, e se você não se dispuser a revisar as palavras diariamente, não tem sistema, nem de papel, nem digital, que vá dar jeito no seu vocabulário.

Portanto, se você é tecnologicamente atrasado como eu e está penando para decorar que peur é feminino em francês ou que o Partizip II do verbo alemão bleiben é geblieben, taí uma boa maneira de tentar consertar isso.

À bientôt!

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Meu AiPode e eu (ou "vem ni mim, podcast!")

Uma das coisas que fiz nesse período de abstinência do blogue foi voltar a treinar azoreia ozuvido escutando francês. Só que, quase como um prenúncio da jornada do herói, nem bem eu voltei a fazer isso e meu MP3 player morreu. Era um Xing-Ling genérico da vida, do tipo que nem tentava fazer de conta que era de estirpe nobre e sangue azul. E, como eu nunca fui ligado em marcas, grifes e afins, ele me servia bem. Simplinho, mas dava conta. Só que me limitava - e eu nem me dava conta disso.

Quando morreu e passou para o mundo da reciclagem, eu tinha que resolver a situação rápido antes de me desmotivar. Pensei em simplesmente colocar fones de ouvido no computador e ficar escutando notícias da Radio Canada como ruído de fundo enquanto trabalhava ou navegava na internet. Mas eu não curto muito essa de ruído de fundo. Então usei essa técnica por um tempo por falta de algo melhor, mas percebi que devia realmente arrumar um outro aparelhinho para levar o negócio a sério.

E eis que, conversando com um amigo, ele me convenceu a dar uma chance pra algum dos produtos da Épou.



Eu sei que existe uma verdadeira seita de culto à maçã mordida, mas esse meu amigo nem é do tipo fanático. Na verdade, a fé já foi despertada nele, mas ele ainda não é seguidor fiel. Tenho outro que é praticamente a Branca de Neve de tanto que gosta dessa maçã. Só compra laptops, celulares, relógios, camiseta e até - pasmem! - óculos se forem da Épou ou fizerem referência à empresa de alguma forma. Enfim, o outro amigo me disse que seria bem mais prático pra mim por causa dos serviços do AiTúnis e blábláblá. "Tá bom", respondi. "Veja um modelo pra mim que não seja o mais caro e nem o mais 'pobrinho' no quesito funcionalidade e me fala".

E cá estou eu, usando meu AiPode Nano, há pouco mais de um mês. E adorando!

Embora pareça uma propaganda da Épou, na verdade eu estou maravilhado é com o mundo tecnológico em si. Eu uso uma parcela dele, gosto de tecnologia, mas não sou aficcionado. Sei que chego atrasado muitas vezes, justamente porque não vou atrás de boa parte das coisas a não ser que precise. Uso o que facilita a minha vida. E o AiPode tem facilitado bastante! Não sei como são outros aparelhos similares que não sejam Xing-Lings genéricos, mas olha... fiz assinatura de dois podcasts da Radio Canada (L'heure du monde e Plus on est de fous, plus on lit), outros dois da RFI (Le journal en français facile e Géopolitique, le débat), um da BBC (Global News) e um da SBS (German). É muita coisa! A maior parte desses programas tem episódios diários, então dá pra você ficar escutando o dia inteiro, se quiser. Eu faço isso indo e voltando do trabalho, já que dá entre 30 e 40 minutos de caminhada cada trecho. Realmente, está valendo muito a pena, e quem ainda não começou a fazer isso eu recomendo fortemente que o faça! Há programas para todos os gostos, de vários tipos de mídia, de váááários países, então é só escolher e mandar ver.





Além disso, é uma forma de você avaliar o quanto está progredindo (ou regredindo) no idioma. Pelo menos pra mim, que adoro idiomas, poder constatar que eu estou, de fato, entendendo o que quer que seja, em qualquer proporção, é muuuuuuuuuito legal! Outro dia, conversando com um amigo, acabei falando sobre uma notícia que eu tinha ouvido e só quando ele me perguntou onde eu tinha visto aquilo é que me dei conta que tinha sido num dos programas da Radio Canada. Ou seja, entendi o suficiente para contar a ele a notícia. Em outro momento, escutei o podcast em alemão da SBS (e alemão é a língua mais fraca do meu repertório) e tive uma vaga noção do que era a notícia. Aí, no podcast da BBC, coincidentemente, trataram do mesmo assunto, e aí eu consegui pescar os detalhes. E então eu pude voltar no podcast em alemão e tentar pegar o que eu tinha perdido com o benefício de já ter ouvido uma notícia em inglês sobre o mesmo tema. É muito, muito, muito legal poder fazer isso!




Enfim, estou realmente curtindo muito as possibilidades de aprendizado e treino que o meu AiPode está me proporcionando! Fiz uma pesquisa no AiTúnis sobre outros idiomas e vou te contar... deu vontade de largar o emprego já e ficar só aprendendo idiomas. E isso também me fez pensar em algumas coisas e me deu umas ideias... mas falo disso em outro post. Nesse aqui, a mensagem está dada para quem ainda não se rendeu: podcast é o que há prozuvido!

À bientôt!

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O retorno - parte 1983741923

Faz tempo que não venho aqui, mas não pensei (ainda) em abandonar o blog. Na verdade, foi bom ficar afastado um tempo. Deu pra arejar um pouco a mente e ponderar algumas coisas.

De qualquer forma, foram vários os fatores que me mantiveram afastados. Primeiro, a falta de novidades sobre o processo. Depois de receber o visto, tudo passa a ser preparação e expectativa, mas eu não estava (e continuo não estando) tendo tempo - e nem muita disposição - para sentar e fazer uma pesquisa decente. Então, fiquei pensando se valia a pena vir aqui e escrever qualquer coisa. E essa foi uma das primeiras reflexões que fiz: em algum momento, o blog vai se tornar algo mais pessoal. Até aqui, tenho direcionado os posts basicamente em relação à imigração para o Canadá como um todo e à minha em particular. Mas, embora sempre haja assunto se for pra sentar e discutir, aqui no blog a gente não exatamente senta e discute... eu, basicamente, exponho a minha opinião e, quem quiser, comenta ou me manda e-mail. Não necessariamente rola prós e contras ou coisas do gênero. Então, uma das coisas que devem acontecer com o blog no futuro próximo é ele começar a tratar de assuntos que têm a ver comigo, mas que não estão ligados à imigração. Sei que isso pode afugentar muita gente, além dos que já foram afugentados pelos meus períodos de ausência, mas, enfim... paciência. O blog foi e é uma espécie de terapia pra mim, e nem só de imigração vive a minha complicada cabeça.

Outro motivo que me manteve afastado foi o trabalho. Segundo semestre do ano é uma beleza, já chega chutando a porta, e este ano não foi diferente. Ou melhor, foi sim: além do trabalho normal, eu dei início às fases dois e três de dois projetos que implantei mais no início do ano. Em quase dez anos de serviço público, foi a primeira vez que senti que, de fato, estava fazendo alguma coisa de útil! E, sendo meu último ano por aqui, quis dar o gás mesmo. Mas, eis que o serviço público acontece... e cortaram um dos projetos já na fase final, em fins de agosto. Balde de água fria, claro. Eu estava conduzindo reuniões, fazendo treinamento de pessoal, coordenando equipes, me sentindo hominho  crescido responsável, e aí, aos 45 do segundo tempo, pá! Cai o pano e pronto. Fiquei chateado nos três primeiros dias, mas foi bom para redirecionar minha atenção para outras coisas e para me lembrar que isso pode acontecer a qualquer tempo, em qualquer lugar. Então, sigo tocando o outro projeto, que continua de pé - ainda.

E falando no trabalho, conversei com o meu chefe há algum tempo e decidi a data do adeus: 5 de dezembro! Como tenho dois períodos de férias vencidas em aberto, resolvi engatar um no início de outubro e outro do dia 08 de dezembro em diante, porque daí já gasto todos os dias de férias que estavam pendentes e, no final, nem volto. Se dá medinho largar tudo assim? Óbvio que dá, mas eu já acalento essa vontade de dar tchau pro serviço público há anos. Então a preocupação vem misturada à euforia de me ver livre logo disso. Por mais incerto que o futuro possa ser, a certeza de não ter mais de fazer trabalho inócuo (pelo menos não no serviço público) é muito boa!

Já comecei também minha mudança para Brasília. Gente, é coisa demais... e não tô nem falando de móveis, não, porque esses eu vou vender ou doar. Falo de livros, gibis, DVDs e essas coisas nas quais eu me amarro e compro quase todo mês, como se não ocupasse espaço e pesasse menos que uma pluma. Quase chorei quando enchi a mala com 23 Kg de livros e notei que a minha estante aqui em São Paulo não esvaziou quase nada. Vou novamente a Brasília duas vezes antes da mudança final, em dezembro, e é certeza que não consigo levar tudo só com a bagagem permitida pelas companhias aéreas. Então devo mandar uma parte de ônibus e outra deve ficar no apartamento mesmo, já que só entrego ele em fevereiro. Mas lição aprendida: livros, DVDs e gibis são meus  melhores amigos, mas, pro Canadá, vou levar quase nada deles de saída. Se gostar e achar que vou ficar um bom tempo nas terras geladas, aí posso começar a pensar em levar a tralha aos poucos.

E acho que, para um post de retorno, tá bom, né? Espero não dar outra sumida de dois meses igual essa última, mas, pra quem curte e acompanha o blog, eu sempre apareço, mais cedo ou mais tarde! Ah, e pra quem não anda acompanhando o processo de imigração (eu me incluo aí, tô voltando agora), faz um tempinho já que o limite de 6500 processos recebidos foi atingido pelo BIQ-México. Imigração para o Québec, na maioria dos casos, só ano que vem e olhe lá... Ah, e o pessoal convocado para as entrevistas agora em setembro está se banhando em CSQs! Parabéns a todos!

 bientôt!