segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Começo de ano tumultuado... e família

Depois da tempestade, a bonança!

Tá certo que, frente a tantas tragédias que já aconteceram por aí, o que aconteceu comigo, no fim das contas, foi mais um incômodo que uma tempestade. Mas enfim, enquanto a gente não consegue resolver de vez, não dá pra ficar quieto e se sentir bem. Enfim, como já comentei antes, tive que desocupar a kitnete onde eu morava, já que a proprietária a pediu de volta. O prazo foi apertado, mas é o comum: 30 dias. A sorte foi que voltei de viagem justamente no dia em que a carta chegou. Ou seja, tive realmente 30 dias pra desocupar o imóvel. Se eu tivesse chegado uma semana ou duas depois (ou se a carta tivesse chegado uma semana ou duas antes), teria sido ainda mais difícil cumprir os prazos.

Pois bem, já no dia seguinte comecei a procurar um cafofo novo onde me meter. Apareceram algumas coisas, algumas caras demais, outras longe demais. Eu, de início, estava querendo manter a trinca que tornava a minha antiga kitnete excelente pra mim: preço baixo, local privilegiado e a proximidade com a minha cara-metade, que mora a apenas algumas ruas de distância. Só que o tempo foi passando e nada de eu encontrar um lugar que tivesse tudo isso. Tudo que eu encontrava era pequeno demais pro preço que cobravam, ou ficava longe demais, o que me faria ter que gastar com transporte (atualmente, vou a pé pro trabalho, 40 minutinhos de caminhada). Achei três opções que, se não eram excelentes, pelo menos reuniam a maior parte das características que eu queria. E adivinhem só? As três deram pra trás, pois resolveram emprestar o imóvel pra parentes e amigos que iam começar ou já estão fazendo faculdade.

Nisso foram embora duas semanas, e eu já estava pesquisando preço de guarda-móveis e diárias de quarto de pensão. Meu pai acabou se dispondo a pegar um avião e vir me ajudar a procurar, já que, trabalhando durante o dia, me restava muito pouco tempo para visitar apartamentos. Acabou que, no dia em que ele chegou, algumas horas antes do avião dele pousar, eu encontrei um lugar para ficar. Mais caro do que eu gostaria de pagar, mas em local privilegiado e perto da minha cara-metade. Ou seja, não precisei pedir ao meu pai que saísse procurando outros lugares pra mim (o que me deixou muito, mas muito aliviado), mas ainda assim ele foi fundamental em tudo o que veio depois. Para agilizar os trâmites, ele foi várias vezes à imobiliária, coisa que eu não poderia fazer o tempo todo. Começou a ver o preço de coisas que eu iria precisar no apartamento novo (e acabou comprando várias, sem nem querer saber da minha conversa de "quanto foi? Vou depositar o dinheiro na sua conta"). Acompanhou a vistoria final da kitnete que eu alugava. E, além de tudo isso, volta e meia ia ao supermercado, preparava o café da manhã pra mim, comprava uma caixa de chocolate pra gente comer à noite enquanto conversava e outras coisas que me fazem voltar a ser filho em tempo integral.




Além de explicar por que eu praticamente sumi do fim do ano passado pra cá, contei essa historinha pra abordar um outro assunto, que já vi discutido em listas e grupos sobre a imigração pro Canadá: o papel da família no processo. É claro que cada caso é um caso, há pessoas que têm um ótimo relacionamento com a família, outras nem tanto, e, por isso e também por outras razões, prefere não comentar nada sobre a imigração até que já estejam no avião ou, pelo menos, na sala de embarque. É algo bastante pessoal e, por isso, falo aqui apenas do meu caso. Eu não conseguiria imigrar pro Canadá, pelo menos não de consciência tranquila, se a minha família não soubesse das minhas intenções e não ficasse sabendo de cada passo que eu dou em direção a isso. Desde o primeiro dia em que comecei a levar a sério a ideia, meus pais e minha irmã sabem das minhas intenções, do que pretendo obter com a imigração e também dos meus receios. E desde esse dia eles me apoiam incondicionalmente. Seja por meio de conselhos, de sugestões ou só pela torcida, eles se fazem presentes, mesmo à distância, em cada etapa do que estou vivendo. E nem poderia ser diferente, já que sempre fomos bastante próximos uns dos outros e nos apoiamos mutuamente. Por isso, a ideia de não contar a eles nada disso é inconcebível para mim.

Quando vim para São Paulo, para estudar e trabalhar, a atitude deles foi exatamente a mesma. Eles sempre expressaram a saudade que sentiriam, mas em nenhum momento me pediram pra ficar com eles. Eles sabiam, viam que eu estava infeliz, e sabiam (sabem!) que a minha infelicidade nada tinha a ver com eles, com nossa casa, com nosso convívio. Pelo contrário, o motivo de eu continuar me esforçando, buscando algo para mim, procurando me sentir bem, estar bem, foi e continua sendo o carinho, o amor e o apoio deles. Por isso, foi extremamente dolorido deixar a nossa casa para me aventurar por uma cidade nova, sem saber exatamente o que iria encontrar, quais os desafios que a vida me reservaria e o que eu conseguiria extrair disso tudo. Foi muito difícil arrumar as malas, ver o dia da viagem se aproximando e saber que eu não mais os veria todos os dias. Uma vez em São Paulo, a realidade de ter de fazer tudo, absolutamente tudo por conta própria nem sempre me deixava tempo para sentir a saudade. Mas ela sempre esteve ali, sentadinha, esperando só que eu olhasse para ela. E como foi difícil querer dar um beijo em minha mãe, dar risada de bobagens com meu pai ou sentar com minha irmã no chão da cozinha para conversar à noite... Durante um bom tempo, na casa nova em São Paulo, eu acordava à noite com um barulho no corredor ou no apartamento do lado e achava que era um deles fechando uma porta ou subindo a escada. Essas impressões demoraram a sumir. E, durante esse tempo, o que eu fiz foi constatar algo que eu já sabia desde antes de resolver me mudar de vez para São Paulo: a falta que eles me fazem.

Minha mãe veio comigo para São Paulo, me ajudou a encontrar a kitnete e a comprar os primeiros móveis. Eu tinha um período curto para arrumar tudo, pois tinha que me apresentar no trabalho alguns dias depois de chegar a São Paulo. Ela fez muito, e só não fez tudo porque certas coisas só eu mesmo podia fazer. Da mesma forma que meu pai, agora, nessas duas últimas semanas, fez muito mais do que eu precisava. Eu ficava, de um lado, querendo que ele não se esforçasse demais, que andasse demais, que carregasse peso demais, que gastasse demais, e ele saía correndo - inclusive literalmente, quando arrancou algumas coisas das minhas mãos no supermercado e correu para o caixa para idosos (vê se pode!) pra não me deixar pagar. Eu poderia ficar horas falando sobre tudo que eles já fizeram e fazem por mim, mas o que eu quero dizer é que, não importa o quanto eu queira encontrar meu lugar no mundo, eu nunca - nunca mesmo - poderia fazer isso sem o apoio deles. No meu caso particular, seria uma traição horrenda, pelas pessoas que eles são, pelo amor e apoio que me dão o tempo todo, esconder isso deles. "Esconder para poupar", nesse caso, seria de uma hipocrisia e crueldade absurdas. Sei que para cada pessoa essa questão é diferente, e é por isso que digo que, no meu caso, eu me sentiria um monstro fazendo isso.

Enquanto meu pai estava aqui, falamos sobre o Canadá, ele me perguntou a quantas andava o processo, trocamos ideias sobre o que eu posso fazer lá e ele deixou claro que, se não der certo, eu sempre posso voltar. E posso mesmo. Mas o que mais quero, toda vez que paro, olho pra trás e vejo o quanto eles já fizeram por mim, é levá-los comigo, é estar perto para ajudar, é dar uma vida melhor. Perguntei pro meu pai se ele toparia ir morar no Canadá comigo. Ele sorriu, um tanto surpreso, e a resposta foi: "se sua mãe quiser ir, a gente vai".

Então, eu aproveito esse post para agradecer, de coração, todo o amor da minha família e a ajuda que me deram e me dão ainda. Saibam que esse amor é recíproco, e que a lembrança mais reconfortante pra mim, a que eu evoco todas as vezes em que estou mal, ainda é a de nós quatro reunidos, na sala da nossa primeira casa, assistindo televisão enquanto lá fora chovia. Essa imagem eu não quero perder nunca.

Amo vocês.

3 comentários:

  1. até chorei lendo seu post. pena que aqui em cas as coisas não são assim. quase tod mundo na minha família sabe desse meu sonho. Uns dizem que é loucura, outros cmo meu pai que dizia que pq meu primo nao tinha conseguido emprego eu nao ia conseguir, entre outras coisas. Por isso eu não toco mais no assunto Canadá com ninguém da família pq vai ser estresse na certa. a única coisa que de positivo é minha avó me dá o dinheiro pra pagar as aulas de frances, msmo que ela nao queira que eu vá embora...talvez os outros fazem o que fazempq tb nao querem que eu vá, mas sabe quando vc sente que seu lugar não é onde vc está ? eu me sinto assim. sinto que nasci no país errado, até pq nao era mesmo para ter nascido aqui no Brasil, se minha mãe tivesse aceitado o convite que recebeu na época eu teria nascido na França...
    Mas, eu não vou deixar meu sonho pra trás por nada nesse mundo. Eles querendo ou não, felizes ou não, eu vou embora um dia. Sei que minha hora chegará.

    abraços;
    Catherine
    http://meetyoutherecanada.blogspot.com/

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  2. @Catherine: é, realmente é complicado, e por isso eu me sinto tão abençoado por poder contar com o apoio da minha família. E pode ter certeza que o dia de realizar seu sonho chegará, só tem que peserverar! Abraço!

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  3. Família é tudo mesmo!
    Mas é preciso lembrar q as vezes é preciso arriscar pra q lá na frente vc não venha culpar ninguém pelo seu insucesso ou pq não tentou.
    A opinião da familia é bom, mas devemos assumir nossos proprios desafios, para não nos arrepender depois.

    Sorte pra vc amigo!

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